31 de outubro de 2008

Pérolas....


No dia em que eu entrar numa livraria e sair de mãos a abanar, o mundo de uma Blonde está perdido. Certo, que tantas e tantas vezes somos seduzidos por um título, um autor, uma sinopse, até uma capa e depois pegamos no livro e ao fim de umas linhas, uns parágrafos, uns capítulos, estamos desgostados com o dito. Abandonamos a leitura ou, nos casos de maior masoquismo, continuamos persistentemente no suplício de ver até onde conseguimos ir, ou deixamos os livros marcados em mesinhas de cabeceira, mesas de café, mesas de cozinha, no canapé aos pés da cama na intenção de "um dia destes acabo de ler". Só que esse dia nunca vem e acabamos com livros definhantes a ganhar pó um pouco por todo o lado, na memória dolorosa de "aquele ainda ali está à minha espera".
Ora, a boa da Blonde aqui há umas semanas comprou um que se chama "Jezabel. A História Desconhecida da Rainha Meretriz da Bíblia", de Lesley Hazleton, tradução de Ana Barros e Eda Lyra, Bertrand. Ponto um: mas porque é que a boa da Blonde foi comprar uma tradução?; ponto dois: I want my money back!
Aqui ficam umas pérolas tradutivas de se lhes tirar o chapéu. Só me pergunto como é que é possível pôr cá fora um livro com estes disparates todos? Quem são estas senhoras tradutoras?
Elenquemos:
p. 68 - Heródoto foi um historiador grego do séc X a.C. (vamos lá todos reestudar História da Antiguidade Clássica!);
ainda p.68 - "Mercea Eliade", ok até pode ser gralha porque as senhoras tradutoras sabem que o guru do pensamento simbólico é Mircea Eliade;
p. 69 - "O Oriente [...] era visto como sensual, perigoso e desviante, especialmente se comparado com o que foi considerado racional, lógico e mente desenvolvida do Ocidente" (tudo sic). Qu'é isto???!!! Além de ver o pobre do Said dar voltas na tumba, quem é que percebe uma frase destas?;
p. 100 - "[Os] negociadores em Camp David ainda hesitam em frente à complexidade emocional, histórica e religiosa", hesitam em frente à? Mas isto é alguma parada militar e a malta hesita em frente à mesma?;
p. 118 - "As dez tribos de Israel perdidas", claro que é a tradução de "the ten lost tribes of Israel", mas todos sabemos que são As Dez Tribos Perdidas de Israel, certo?;
p. 132 - esta é a minha preferida: "Acab [...] em vez de ter ido para a guerra com a bandeira real a esvoaçar bem alto na sua quadriga, ele foi sem a sua habitual insígnia, disfarçado de uma quadriga qualquer", de morte!!! Agora o rei Acab gostava de se disfarçar de quadriga! Ó que belo baile de máscaras!;
p. 136 - "Quando Baal foi morto pelo seu meio-irmão Mot, no épico Ciclo de Baal de poemas"??!!, coitadinho do Baal de poemas;
p. 146 - também curto esta: "Ele demonstrou o poder da mente sob a força física, da manipulação sob o músculo e poder", sob????, pensava que a mente era mais forte que o músculo mas devo estar errada;
p. 156 - "Há primeira vista"?! Não seria "à", mas hey, quem sou eu para dar lições de Português a senhoras tradutoras?
Nunca deitei um livro fora mas este até para o lixo é um desprimor!

25 de outubro de 2008

George Michael e a Crise Financeira

Eis, finalmente, o dia em que a Blonde arranja uma desculpa para enfiar um vídeo do George Michael no blog!
Desenganem-se que não é lamechice nenhuma de "Careless Whisper" ou "Father Figure" ou qualquer dessas músicas mais conhecidas do people (sim, que eu bem vi lá no concerto em Coimbra que se não fosse a Blonde ninguém sabia a letra de "Precious Box" e outras tantas que o tipo lá cantou - nem sequer a bicha-mor do White Castle, ao pé de quem a Blonde teve o desprazer de ficar, cruzes!).

Esta chama-se "Brother can you spare a dime" e é um cover de uma canção de 1931 sobre a Great Depression, mais especificamente sobre os milhões de desempregados de uma América afluente subitamente atirados para as fileiras dos indigentes.
Como nunca aprendemos nada com a História (não era o Hegel que dizia que a única coisa que a História nos ensina é que não aprendemos nada com a História?) aqui fica uma lembrança agridoce da circularidade da existência humana (acre porque a realidade é amarga, doce porque o George Michael canta que é uma coisa...).

23 de outubro de 2008

É uma pena...


... que as mentes mais lúcidas deste país declinem tomar parte activa na política deste triste país. Uma pena, de facto, o Prof. Freitas do Amaral não estar disponível para a causa política nacional. Normalmente as pessoas inteligentes não estão.

Ouvi-o na Grande Entrevista. Não me revejo em tudo o que disse. Em primeiro, o meu germanismo impede-me, figadalmente, de concordar que, apesar dos esforços do Governo para debelar o défice, o país não esteja mais próspero porque "teve azar", nas palavras do Professor: azar com a escalada dos preços do petróleo, azar com a crise financeira. Temos sempre azar em alguma coisa e eu não me identifico com discursos do azarismo pátrio, do fado, triste sina, má sorte.

Também não sei se concordará com o Professor muita gente que vive, hoje, com as consequências do torniquete com que o Governo apertou o défice até reduzi-lo a níveis historicamente baixos.

Mas, no geral, precisamos de lucidez, a lucidez para ver que reconhecer a independência do Kosovo é um erro contrário a toda a lógica de nation/state building ou a lucidez para saber onde se posiciona o centrismo no espectro político.

And now go ahead and crucify me.

22 de outubro de 2008

Desigual? Portugal?


Entro na aula. Em cima das secretárias jornais diários gratuitos. Um título prende o olhar: "Portugal um país desigual". Naaaa, ainda ninguém tinha reparado nisso! Portugal um país desigual? Só se for agora.

Vamos mas é à aula! Desigual? Yeah, right!

18 de outubro de 2008

A Dona-de-Casa Bimba


Vá-se lá saber porquê, e o espírito de uma Blondewithaphd é daquelas coisas intrinsecamente insondáveis e, temo, incompreensíveis mesmo para uma Blondewithaphd, apeteceu-me fazer mexilhões neo-zelandeses para o jantar. Mas tinham de ser neo-zelandeses e ponto final. Porque não me apeteceu cozinhar mexilhões pretos e os neo-zelandeses são verdes e ficam muito bem, esteticamente, com uma certa receita do Jamie Oliver com leite de coco e gengibre fresco ralado.


Como é Sábado e a bimba da Blondewithaphd vive no campo, não teve outro remédio senão pegar na viatura e dirigir-se à conglomeração urbana mais próxima em busca dos ditos mexilhões verdes. Eu disse Sábado, correcto? Sim. Só que a bimba da Blondewithaphd, que, diga-se para memória futura, está para as donas-de-casa como a renda de bilros está para a 7ª arte, deve ter-se esquecido do que significa meter-se a dar ares de dona-de-casa ao Sábado. Mas o estado amnésico passou-lhe logo quando se viu grega para aparcar a carrinha no estacionamento do hipermercado.


Já lá dentro, e para complicar, a dita cuja, já com os mexilhões verdes no cabazinho e pronta a zarpar dali para fora, passou pela secção do salmão fumado e ora que vem de lá com um pacote de angulas, anguilas ou que quer que a Língua Portuguesa tenha reservado para a vitualha em questão.

- Hmm, isto até ia bem nuns "huevos revueltos" com uma saladita verde! - pensou a bimba que, como quem não sabe inventa, de vez em quando tem assim umas ideias tresloucadas e pensa que vai criar qualquer coisa nunca antes experimentada no mundo gastronómico.


Azar! É que a bimba para fazer os tais dos "huevos" precisa, exactamente, de... ovos, pois claro. Coisa que, à semelhança de batatas e leite, é rara em casa da bimba.


E agora alguém explica como é que é possível que numa gigantesca superfície comercial dedicada às mercearias e que, pasme-se, até tem mexilhões da Nova Zelândia!, não se vendam ovos em caixas de 1/2 dúzia? A única coisa duvidosa que se assemelhava vagamente a uma caixa de 1/2 dúzia dizia "Super Eggy" com Ómega 3. Mas o que diabo são ovos "super eggy" (free range ainda vá, agora super? e eggy? - haverá ovos não eggy?)? E ómega 3 não é uma coisa dos peixes? O neurónio, que não está para brincadeiras destas, desconfiou daquilo e abalou sem os ovos. Bem lhe bastava a confusão circundante.


Moral da história:
Ponto um: ainda bem que a bimba não se lembrou de querer umas ostras de Ostende!
Ponto dois: a Blondewithaphd admira as verdadeiras donas-de-casa que enfrentam os hipermercados em hora de ponta, que compram ovos às dúzias e que não se importam se os mexilhões vêm em preto ou verde.
Ponto três: a dita acabou por ir jantar fora...

12 de outubro de 2008

Manhã de Trovoada


Hoje amanheceu com relâmpagos e trovões, que maravilha!
É simplesmente tão bom estar na cama a ouvir o troar dos trovões. Depois a tempestade passa e fica aquela calmaria molhada entrecortada pelo som tímido dos pingos de chuva que permanecem, exauridos depois da tempestade. Adoro dias assim. Dá vontade de ficar em casa a ler, a beber malgas de café e a ouvir "Milk and Toast and Honey" dos Roxette.

Acho que a Mãe é que nos fez gostar de trovoadas. Pegava em mim e na Mana e levava-nos para a janela ver os relâmpagos. Depois, quando notava que a tempestade estava mais próxima, desligava o quadro eléctrico e teatralizava a situação para que não tivéssemos medo. Normalmente ia buscar uns cobertores, que não são condutores eléctricos, ou enfiáva-nos às três dentro de uma cama e ali ficávamos a ouvi-la explicar o fenómeno e a ensinar-nos a fórmula de cálculo para sabermos a distância a que estava a tempestade.
- Vá Meninas, agora contem os segundos entre o relâmpago e o trovão!
E nós lá contávamos com a pausa adequada. No fim era só multiplicar os segundos pela velocidade do som e converter os metros em quilómetros. Sentíamo-nos tão bem ali com a Mãe, aninhadas as três, em segurança. Eu não queria que a tempestade acabasse nunca!

Tenho tantas saudades da Mãe.

10 de outubro de 2008

O OE e o défice


Ainda gostava de saber qual o valor noticioso (a newsworthyness) de se dar cobertura jornalística às questões do Orçamento de Estado e do défice deste país Portugal.

Pois será um orçamento de contenção - acho que nunca tinha ouvido isto em dias da minha vida.

Pois reflecte o abrandamento económico - outra grande novidade.

Pois o défice não deverá descer (muito, nem abaixo dos 2.2%) - mais uma previsão futurológica que faz a sua entrada em cena.

Pois ou é a crise petrolífera, ou é o crash financeiro, ou é a deslocalização, ou são os critérios de convergência, ele há sempre uma desculpa para se chegar a Outubro e o discurso ser sempre o mesmo. Deve ser tão fácil preparar os discursos dos Ministros nesta altura, é só copy paste e já está!

Só gostava de saber quando é que este país nos vai surpreender.

8 de outubro de 2008

Obama/McCain


Ou as coisas vão levar uma reviravolta histórica ou o sucessor de Bush será um certo Senador proveniente das “hurdled masses” afro-americanas. A julgar pelo debate de ontem, o patriotismo militar de McCain, que proferiu a palavra “América” 63 vezes face às parcas 19 do seu rival, não conseguiu apagar o lustro de Obama. Já era tempo de alguém das muito denominadas e muito problemáticas “minorias étnicas” num país em que, afinal, a espécie em extinção é WASP, tomar assento na Casa Branca.
Ao plasmar o discurso da Srª. Clinton, dizendo que tem um “record” para mostrar e para provar a sua credibilidade, McCain não esteve nada inventivo. Também acho que, ao não conseguir dar prioridade a nenhuma das grandes questões fracturantes: saúde, energia e sistema de pensões, deu o ar de querer agradar a todos à força toda e não ter um esquema definido. É pena. Porque entre as suas políticas energéticas e as de Obama, as suas parecem-me muito mais lógicas e em conformidade com os tempos que correm. É preciso o nuclear, por muito que isso nos custe a deglutir. McCain quer o nuclear. Obama quer mais perfuração petrolífera e quer usar compulsivamente os territórios todos que estão adjudicados à exploração de petróleo sob pena de retirar as licenças às companhias inoperantes. No meio lá diz que quer um “mix” entre petróleo, energias renováveis e nuclear (desde que seja limpo?!). Não percebi nada. Tirando isto, estou como o resto dos americanos, num debate de 90 minutos, a malta desiste ao fim de 45, mas o Senador Obama lá leva a vantagem.

4 de outubro de 2008

Porque é Dia do Animal

Era uma vez um jardim muito lindo e bem cuidado. No relvado havia candeeiros de chão a iluminar passeios e canteiros e um elaborado sistema de rega mantinha a relva luxuriante mesmo no Estio mais quente. Também havia bancos espalhados onde as pessoas se podiam sentar a tomar chá e banhos de sol no Inverno, naqueles dias mornos como só em Portugal. Havia também uma palmeira e três árvores que tinham vindo de um jardim no Egipto dentro de uma garrafa de água vazia escondida no meio da bagagem.

Mas, num dia frio de Inverno, veio o Spotty. Tinha sido abandonado dentro de uma caixa de cartão à porta de um café. Teve Deus pela frente. Cabia confortável no colo e tinha os olhos de um azul leitoso como qualquer criaturinha que acorda para esta vida. Encantador.

Hoje já não há jardim. Nem sistema de rega, nem candeeiros no chão, nem mesmo palmeira(!). Sobrou uma das árvores do Egipto. Os bancos estão todos arranhados, há crateras no meio da relva e brinquedos espalhados por todo o lado.

Há o Spotty! E nenhum jardim suspenso da Babilónia se poderia alguma vez comparar a esta criatura, meio diabo da Tasmânia e com muito "puppy power".

Não devia ser preciso haver um Dia do Animal.


1 de outubro de 2008

W.


This I gotta see!
Sai agora em Outubro o novo filme do Oliver Stone. Chama-se simplesmente W. (certamente na pronúncia dubbya!) e é uma biografia cinematográfica do cromo que sairá da Casa Branca no próximo dia 20 de Janeiro. Mal posso esperar!

Acho que nunca houve um Presidente (nem mesmo o Jimmy Carter) que desse tanto lucro à indústria do entretenimento como este W. Entre livros de Bushisms (que eu confesso compro em doses abundantes na Waterstones), biografias, cartoons, "stand up comedy jokes" e etc., o homem é um filão anedótico. Dessa parte risível vou ter saudades que me farto. Os que se avizinham na Casa Branca não têm muito de caricatura ambulante em formato Texan cowboy, não falam com Deus directamente, ou melhor, Deus não fala com eles por linha telefónica divina e, ao menos, sabem ler e, acho, devem desconfiar que na América Latina não se fala Latim. Enfim, não se pode ter tudo.