21 de abril de 2009

Entrevista a José Sócrates

Não é que eu tivesse curiosidade, mas faz parte daquela suposição, ou imposição, de estarmos a par do que se passa de presumivelmente importante no nosso país. E, claro, ouvir o que o nosso dirigente máximo tem a dizer deveria suscitar o nosso interesse. Sucumbi, portanto, e decidi ouvir a entrevista. Ou tentei. E tentei genuinamente.

Como não percebo nada de análise política, porque uma Blonde a fazer análise política cai nos estereótipos da bimba, porque nem sei que análise política se possa fazer na aridez das ideias, limitei-me a ouvir a entrevista numa perspectiva linguística e pseudo-semiótica. E o que me deu a entender é que a política ao mais alto nível se pessoaliza. Ou porque o PM não sabe a quem se dirigem as palavras mais acres do Presidente da República, ou porque não sabe a que propósito surgem certas questões, ou porque é citado de modo descontextualizado, ou porque os entrevistadores não sabem colocar perguntas. Para além da defesa onde está a política?

Sim, o PM diz que tem discordado do Presidente em diversas circunstâncias, nomeadamente no tocante à Lei do Divórcio e à questão da paridade. O que é que isto tem a ver com seja o que for? Certo, há discordância, ok. Eu também posso não concordar e, como alguém apanhada na nova Lei do Divórcio ainda gostava de saber onde estão as vantagens para quem segue a via litigiosa (uma lei que elimina culpas e que mantém um processo de dissolução matrimonial em sessões de julgamento não é uma lei que facilite a vida ao desgraçado que não queira continuar casado e que até responsabiliza a outra parte por claras e gritantes violações dos deveres conjugais). E uma Lei da Paridade é daquelas coisas hediondamente chamadas discriminação positiva, logo discriminação, que ofuscam os genuínos méritos. Mas nada disso interessa agora.

E, à laia de clímax, arrepiam-me até à medula declarações como "o que os cidadãos esperam das lideranças políticas é que as guiem e as conduzam" (pode estar descontextualizado mas isto foi afirmado). Talvez pela minha ascendência germânica, mas lembro-me sempre que em Alemão existe um verbo "führen" de que procede um substantivo, agora maldito, "Führer", guia, condutor. Eu como cidadã não espero que me conduzam. Inversamente, espero das lideranças políticas soluções para problemas partilhados no plano social, espero ideias de progresso, leis que garantam liberdades e garantias cívicas, representação. Condução não.

Algures a meio da entrevista achei que já tinha tentado o suficiente, peguei num CD e fui tomar duche ao som de música. You see, há coisas que percebo melhor do que outras. Gostei, no entanto, da atitude da Judite de Sousa numa certa pose teatralizada de nonchalance. Pode não ser loura como uma Blonde, mas honrou as louras.

7 comentários:

Alexandre disse...

não vi - sou muito mais feliz assim.

mas vou votar - a ver se isto muda (já sei que não, mas um tipo gosta de se ir iludindo).

Anónimo disse...

Olha, olha ... pelas razões que tu sabes, não vi!
Mas mesmo que não existissem aquelas razões, não teria visto à mesma.
Tenho mais que fazer.
Mas tenciono ir votar, quanto mais não seja através do inalienável direito de entregar um voto nulo!

Daniel Santos disse...

Hoje rendi-me a Sócrates e ao seu estadismo.

Eu Mesma! disse...

mas conta la como é que conseguiste ter cabecinha para ouvir a entrevista??????

António de Almeida disse...

Acompanhar a entrevista enquanto ia debatendo com uma série de pessoas no Twitter, até que foi divertido. O pior foi no final saber que tinha perdido um Liverpool 4 - Arsenal 4.

antonio ganhão disse...

Adormeci... apesar do esforço dos entrevistadores em não se afastarem das perguntas previamente acordadas!

mdsol disse...

Gostei de ler. Falo muito a sério!

:))