26 de agosto de 2009

Countdown 3 - Caminhando sobre vulcões


Oiço gritos à minha volta. Refreio o instinto e silencio o grito involuntário que quase me sai da garganta. Ravinas e mais ravinas. Adivinho a queda dolorosa pelos penhascos de lava afiada e áspera. Antecipo o acidente. Agarro-me ao assento como se esse acto pueril me afastasse a vertigem. "Blonde Josefina, tu és a excelsa alimária que caiu do sótão de casa com vertigens. Porque te metes nestas coisas?" Afasto a vertigem. Combato-a porque quero viver a altitude destes vulcões. Foi por isso que aqui vim.
15 milhões de anos cristalizados num pedaço de rocha expelida do magma neste Atlântico. Um nada geológico. Primordial e jovem esta terra. As forças telúricas estão vivas e sentem-se. A terra ainda não se apaziguou à vida. Ainda não a suporta. Mas a vida invade-a inexoravelmente. Parafraseio o David Attenborough enquanto assisto, ao vivo e a cores, aos "desafios da Vida", aqui diante dos meus olhos que sorvem a paisagem com olhos de primeira vez. Abro os sentidos: o vento que é mais do que eu, é um vento que quer o espaço que é meu; o eterno odor de secura e rocha calcinada, as cores de óxidos gravadas nas pedras que a violência parturiente expeliu das entranhas profundas da terra. Caminho por dentro de leitos de rios de lava que esculpiram a fogo as encostas. Vejo a lava vítrea e imagino-lhe a incandescência quente de fluído telúrico primordial ejaculado. A terra em nascimento de dor. A paisagem tatuada a fogo cicatricial.
Toco o céu por entre o vento, o negro e o vermelho ígneo. Estou onde a vida nasce. Inspiro o sopro primeiro e vivífico. Estou pronta para descer.

10 comentários:

Unknown disse...

Cara Blonde,

o fogo primordial nasce e está em cada um de nós. O espaço que tens vivido mostra a raiz do nosso espaço e desenvolvimento e a certeza de que Gaia está viva e nos dá em cada instante vida.

Com "Amor" pela vida que nos dá o nosso mundo.

Chinook

Eu Mesma! disse...

Adorei o teu texto...
amei a frase final...

"Toco o céu por entre o vento, o negro e o vermelho ígneo. Estou onde a vida nasce. Inspiro o sopro primeiro e vivífico. Estou pronta para descer."

Daniel Santos disse...

assim vale a pena.

Carlota e a Turmalina disse...

Boa descida!!!
Sempre fico extasiada diante da grandeza e força da natureza...aí reside a verdadeira divindade.

Pedro disse...

subida a contento
descida com tempo

não sei se faz algum sentido ou se foi só para rimar, isto de rimas ou desrimas tem que se lhe diga, nem sempre rimará o sentido, nem sempre o sentido se fará (e eu a dar-lhe com a rima, é sina)

olha, talvez eu desinspirado

andar por sobre um rio de lava solidificada... andar por sobre terra viva dessa lava... há gente de coragem, eu acho isso de coragem, esses caminhos, de fora tão de dentro

Dias as Cores disse...

...das Canárias só subi ao Teide, em Tenerife, e não achei graça nenhuma àquelas alturas, nem ao que dali vislumbrava!
Sai, mas é daí de cima, até porque a descer todos os santos ajudam!

tcl disse...

Lanzarote é tudo isso que dizes. Preto, amarelo, verde e vermelho sobre o azul do mar. Natureza bruta, terra seca e quente. E os mobiles gigantes de César Manrique a girarem ao sabor do vento. Coloridos. Pontuais. Não te conheço para te dar conselhos, mas tenho de te dizer isto, pois o amor por estas paisagens é coisa que se partilha quando se sente: Islândia, o ventre da terra; Namíbia, a cor dos desertos; Mongólia, o espaço aberto. Quando puderes, não hesites: vai! :-)

antonio ganhão disse...

A Blonde quer-nos fazer inveja com as suas férias, mas ainda se arriscava a sr transformada em churrasco...

Anónimo disse...

Deixo de cá andar por uns tempos e transformas isto num programa do National Geographic...

Tens um recuerdo lá no meu cantinho...

Bjs e boas férias.
E vê se não te matas!!

mdsol disse...

Gostei muito do teu texto, Blondinha.
:))