17 de janeiro de 2010

Momentos assim...


Dou-me conta de que estou sózinha neste hotel perdido no meio da serra húmida e envolta em bruma. A única hóspede num mosteiro transformado em poiso de turistas. Os meus passos ecoam pelos chãos de pedra e pelas escadarias de degraus gastos pelo uso. Está frio, um frio ampliado pelo som constante de água a correr. O borbulhar da fonte no claustro, a água que se escoa para os tanques, a água que deve emprestar uma sensação de frescura no meio do Estio alentejano e que, agora, só contribui para o frio que se entranha pela roupa dentro. E é tão só isso, estou aqui no meu sossego solitário. Um espaço destes só meu.
O gerente, presumo que seja o gerente pela conversa telefónica que lhe ouvi quando cheguei à recepção, faz-me o segundo tour do convento depois de a menina da recepção me ter levado por corredores de azulejos e escadas largas ao meu quarto, uma antiga cela de paredes grossas e uma janela exígua. Vê-me citadina a destoar da paisagem e fala-me da sala de jogos e da sala de televisão como se eu estivesse para aí virada. O máximo tecnológico que preciso é um ponto wireless ou um código de acesso à net, explico ouvindo em retorno todas as indicações de como me ligar à net. Aponta-me o salão onde eu estarei mais confortável e disponibiliza-se para tudo o que eu precisar. Mas eu sinto-me constrangida por tanta atenção.
Mais tarde dou uma volta pelos jardins. Está tudo ermo. Gosto de andar por ali sózinha a empurrar portas velhas que se não abrem e a espreitar por outras entreabertas. Descuro placas que dizem "Guests only" enquanto penso: "Hey, I'm a guest! Posso ir por aqui." Não encontro vivalma. Regresso ao edifício principal para descobrir que nenhuma tomada (nem no quarto, nem no salão principal) tem energia e eu preciso carregar o telemóvel e ligar o pc que não tem bateria. Queixo-me na recepção. Diligentemente alguém vai ligar o quadro eléctrico e o gesto relembra-me que, de facto, estou ali só eu.
Instalo-me no salão, longe da lareira que não fuma. Sinto que me observam olhos que eu não vejo. A música ambiente é ligada. Luzes são ligadas. Alguém que eu não vi apercebe-se de que o fumo da lareira me incomoda e vem-me convidar a ir para uma sala mais recatada onde se acende uma lareira que fuma bem. Mais tarde trazem-me um chá e bolos (cumprimentos da gerência).
Escolho Ceilão que, quente e fumegante, me sabe bem no meio da humidade e do dia triste de Inverno. Fico ali quieta uns instantes sonolentos perdida em pensamentos mornos do que eu fiz na vida que me trouxe aqui a este momento. Embalo-me na mente que voa pela sequência de coincidências, de acasos e de premeditações que fizeram que a minha vida seja o que é hoje e que me permitem um chá com bolos no meio da serra num convento antigo longe de tudo mas perto de mim...

16 comentários:

Anónimo disse...

Não deixam de ser momentos envoltos numa emoção poética. Fizeste-me recordar a Pousada de Stª Maria de Bouro, no Gerês.

Ältere Leute disse...

Imagino-a, finalmente repousada do percurso acidentado e do dever cumprido! Cada vez aprecio mais a sua capacidade de converter as situações, e não deixar que "allein sein" se transforme em "einsam sein".Acho esses ambientes - os conventos / palácios feitos requinte para hóspedes - qualquer coisa de fabuloso, mas... ficar entregue a mim,mesmo com todas as mordomias,a criar "Atmosphäre", não sei se quereria! A força mostra-se onde está!!!

Pedro disse...

Longe de tudo segui até onde o GPS me levou e o gelo na estrada me fez parar: atolado na neve, a rua estreita, as rodas a patinar sem o carro vencer a inclinação da rua, a frente a fugir para um lado e outro conforme virava o volante, mas sem avançar um centímetro que fosse, não tive tempo para me preocupar (demais), porque uma voz lá fora perguntou-me:
- Shall I try a push?

Um frio de gelo e o rapaz oferece-se para dar um empurrão ao carro atolado... A ver se ia...
Sincronizámos esforços, ele no "push", eu no acelerador, e nem um nem outro surtiram efeito. Já me via a ser rebocado quando o rapaz me sugere que descesse a rua em marcha-atrás, "the main road is clear, you should be ok".

Que a rua principal estava boa, sabia-o eu, quem me dera não ter de lá saído que não me tinha cozinhado estes preparos. E o carro atrás de mim?

- I'll tell him to move aside.

O outro meteu-se aside, que eu já ali estava há uns bons 10 minutos sem sim nem sopas, e fiz-me às arrecuas com malícias de medo e lentidão redobrada, não fosse o carro começar a deslizar sem controlo, como mostravam um ou dois parados no passeio às três pancadas de quem não conseguiu fazer melhor. Muito devagar, muito devagarinho, fui descendo a inclinação - depois que o passei, o dito aside passa por mim sem o menor pudor, um 4x4 que galgou tudo sem piscar os olhos e sem a mínima hesitação - e no devagar que fui descendo lá cheguei à main road, limpa, cheia de grit (mistura de sal e areia contra o gelo), e nisso o GPS diz-me "recalculando" e eu digo-lhe "vê se atinas, se não me tiras de mim"

E ele lá recalculou e eu lá segui e lá cheguei a um destino mais perto do fim.

:-)

Tu sozinha aí, eu sozinho aqui :-) ah ah ah! tem mesmo piada nenhuma, só a coincidência de um sozinho no perto de si

Eu Mesma! disse...

adorei o texto...
adorei mesmo :)

antonio ganhão disse...

Um dos teus melhores textos, senti-te como uma alma penada, os desejos satisfeitos na hora e sempre a mesma solidão. A vida pode não caber numa palavra, mas a felicidade não está aí...

Goldfish disse...

Não tens um certo... receio (let's put it that way) de dormir num sítio assim? Em casa não me importo de dormir sozinha, mas fora, não sei, dá-me uns arrepios só de pensar. Desculpa sair do tom tão calmo mas talvez o frio que passa pelo texto me tenha arrepiado.

Quint disse...

E ainda te queixavas que não sei quê e não sei que mais ... e eles a tratarem-te assim como uma princesa ... para a próxima as coordenadas vão todas trocadas, ai vão, vão ... quer dizer, bolos e chá de Ceilão, silêncio e mimos às toneladas ... não se faz, não se faz!

António de Almeida disse...

Passei inúmeras vezes aí à porta, mas nunca entrei. Contingências de quem passou anos na região, acaba por não atribuir grande importância ao que tem diante dos olhos. Desejo que tenha uma boa estadia.

mdsol disse...

Chega-te a ti, minha linda e aceita o miminho todo que te derem.

Beijo

:)))

Joaninha disse...

Manda-me a morada e as coordenadas o JPS

beijos

Daniel Santos disse...

bom... é preciso categoria para se ter um hotel por nossa conta...

pvnam disse...

«.........mini-spam.........»
SEPARATISMO NA EUROPA
Todos Diferentes! Todos Iguais!
{TODOS os povos - quer os de maior, quer os de menor, rendimento demográfico - devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta}


-----> De um lado, temos PREDADORES INSACIÁVEIS (os islâmicos e não só) numa corrida demográfica pelo controlo de novos territórios....
-----> De outro lado, temos pessoal que quer é curtir... «as chatices que envolvem a sobrevivência duma Identidade... são coisas de parvos que não sabem gozar a vida»... e que adoptam uma bandalheira inqualificável na procura de negociatas-fáceis - (a maioria) os europeus:
-> não se preocupam em construir uma SOCIEDADE SUSTENTÁVEL [nota: há que pagar os custos de renovação demográfica necessários até... se alcançar a média de 2.1 filhos por mulher]...
-> vendem o património público que herdaram...
-> deixam dívidas para quem vier a seguir que pague...
-> querem reformas antecipadas e, como não constituem uma sociedade sustentável,... lá irão ser os imigrantes, e seus filhos, que irão suportar essa dívida...
-> etc
-----»»»»» Resumindo e concluindo: antes que seja tarde demais, há que mobilizar aquela minoria de europeus que possui disponibilidade emocional para abraçar um projecto de Luta pela Sobrevivência... SEPARATISMO-50-50... e coligação contra o inimigo comum: os predadores insaciáveis...



ANEXO
-> É preciso abrir os olhos!
-> Ao contrário da colonização europeia nas Américas... os islâmicos (entre outros) são uns PREDADORES INSACIÁVEIS... logo, na Europa nunca irão existir reservas para os nativos!
-> A 'lavagem cerebral' dos media não explica tudo... e com o seu discurso de desresponsabilização e branqueamento dos negociatas-fáceis... e de... «fuga para a frente a caminho da implosão»... os PNR's (e afins) são uns idiotas úteis ao serviço (por exemplo) dos islâmicos...

A OUTRA disse...

Blonde... que maravilha!
E diga-me uma coisa... não havia fantasmas?...
Ando à procura dum lugar assim... mas com um fantasma para conversar e dazer-lhe umas perguntas sobre as histórias que esses lugares devem ter...
Gostei dessa aventura, Blonde!
Bj
Maria

Dias as Cores disse...

É na Serra d'Ossa!
Adivinhei logo pela foto!
Também já lá estive, só que não foi no Inverno, em que o ambiente de fora e dentro é "mais do mesmo". ..Foi no pico do Verão e então o sítio era mesmo um oásis no coração da secura alentejana!
You must come back in summer time com boa companhia e depois, escrever a parte II!

Anónimo disse...

Hoje já não tanto, mas ainda há poucos anos me refugiava com frequência nas pousadas em busca de tranqulidade. Sempe fui bem tratado, mas não tanto...

Daniel Santos disse...

nesse caso parabéns, hoje que é quarta.