27 de junho de 2010

Estas solidões

O ar está morno de veludo. Nem uma brisa e cheira a cedros molhados e caruma no chão. É a calmia depois da tempestade. Passou por aqui e vejo-lhe o rasto na estrada onde ainda correm leitos barrentos de gravilha e lama. Dizem-me que foi uma coisa monstra. Imagino. Há um piquete da electricidade à porta do hotel e outro com homens de mangueiras que sugam excessos de água. Sim, imagino.

Mas o ar está tão bom no fim de tarde. A temperatura amena que me envolve e aquele cheiro intenso dos cedros. Lembro-me do Egeu e da Grécia mas estou muito longe. Apetece-me andar, vaguear por ali a absorver aquilo que me entra pelos sentidos. É um bom fim de tarde, suave, depois da viagem. E, na solidão, vivo-o melhor, mais consciente, porque na solidão a percepção afina-se, aguça-se sem a distracção do outro.

Regressarei a casa, àquela casa grande e fresca no calor do Verão que finalmente chega, à casa vazia que me espera e por cujas portas cada vez mais me apetece entrar e ficar. Cheira a ameixas. Um cheiro plácido na quietude da casa. Um cheiro encorpado. Sobre a mesa da cozinha uma travessa de figos e, sim, ameixas. Parece-me uma natureza morta num quadro da Josefa d'Óbidos que ganha vida ali sobre a mesa. Claro, a Paula que me deixa sempre surpresas à minha espera. Surpresas que me atenuam a solidão por estes dias e que me enchem a casa grande, que ma habitam e que me constróem esta sensação boa do bom que é regressar.



7 comentários:

antonio ganhão disse...

Acompanhamo-nos de tempestades e por vezes sabe bem uma acalmia em fim de tarde... Belo texto.

Pedro disse...

ao figo, denta-o
e chama-lhe um figo

:)

Anónimo disse...

こんにちは!日本料理は好きですか?

Eu Mesma! disse...

Adorei as tuas palavras....

Patti disse...

Felizes tardes essas, de acalmia...

António de Almeida disse...

Uma excelente semana...

A.B. disse...

Mas as ameixas não podem ser assim apertadas contra o vidro! Ficam "tocadas" e estragam-se.