30 de agosto de 2010

Porque vi o Forrest Gump


Lembrei-me do meu epitáfio. Lembrei-me que talvez todos deixemos os mesmos epitáfios, os mesmos da Jenny do filme: "Wife, Mother, Friend". Lembrei-me que, no fim, talvez todos queiramos ou procuremos deixar os mesmos epitáfios. Até a Jenny, que levou uma vida de tribulações e não-conformações, acabou por ter um epitáfio consonante às normas femininas de uma sociedade que ainda espera que sejamos mães e mulheres. Pensei em mim e como uma frame insignificante me disse tanto no silêncio do pensamento por detrás dos olhos que viam. Se eu fosse a Jenny morta o que diria de mim o meu epitáfio? "Nobody's Wife, Nobody's Mother, Friend". O que é que um espectador pensaria do meu papel incompleto na vida? Será que o meu seria mesmo um papel incompleto?
Não sei. Sei que me deu para pensar, não na minha mortalidade, mas na minha imortalidade, naquilo que as minhas cinzas dirão de mim e desta vida que por neste Aqui passou. Porque, ao fim e ao cabo, todos queremos que o nosso pó não se dissipe ao infinito da nossa insignificância e eu não serei assim tão diferente...

27 de agosto de 2010

Blondejam de abrunhos e maçã


Entretenimento de tarde de Verão em que apetece fazer nada.

Ingredientes:
Abrunhos azuis
Abrunhos rosa
2 Maçãs
Açúcar
(medidas a olhometro à excepção das duas - que são duas - maçãs)

Descaroçar, pelar e desfazer em pedacinhos os abrunhos. Descascar e "despevidar" as maçãs e cortá-las em juliana. Colocar os frutos num tachinho e juntar o açúcar envolvendo bem. Deixar levantar fervura e depois cozinhar em lume brando até consistência de doce (também a olhometro ou mais ou menos quando fica muito docinho e bom para barrar tostas, enfim, vocês sabem como é a consistência de doce).

DELICIOUS!!!

26 de agosto de 2010

Estou mesmo em silly season...

... mas tão em silly season que até faz confusão. O pior é que quando uma pessoa se começa a habituar a este não-pensar e, deuses me acudam, a gostar de não-pensar é que as férias se estão a esvair. Caroço!

18 de agosto de 2010

Por esta eu não estava à espera!



De facto, quanto menos planeamos, mais a Vida acontece assim sem mais nem menos. Esta é uma desas ocasiões. Não estava planeada. Aconteceu à última da hora e eu aproveito, faço de novo as malas e aí vou eu.


Já lá não vou há uns quatro anos. Sempre quero ver como me sinto e o que vejo ao regressar a um sítio onde fui sempre na solidão do meu não-casamento. Acho que está na hora de rever o mundo com olhos livres.




Como pistas: The English Patient e Star Wars.



17 de agosto de 2010

Tudo boas razões


Eu sabia que existe o Rio dos Bons Sinais, não sabia que existe uma Rua das Boas Razões (esta em Alegrete), mas é isso mesmo: o regresso por todas as boas razões, quando, finalmente, se chega à Vida em que voltar é tão bom como partir.
Cheguei...

13 de agosto de 2010

Entre ossos e estrelas


Quando éramos alemães, o que eu conhecia de Portugal era um Algarve mágico de pinhais e sapais em Vale do Lobo, praias selvagens onde a Tante Ruth e a Tante Henny andavam comigo e com a Mana de mãos dadas a cantar os equivalentes alemães das "Pombinhas da Catrina". O resto da minha vida passou-se num semi-nomadismo que obedecia à profissão do Pai. Portugal pouco mais era do que Lisboa e o campo onde hoje vivo. As férias levavam-me para os desertos, as latitudes e longitudes distantes e, quando muito, as orlas mediterrânicas de África e do Levante. O ano passado descobri o Alentejo. Regressei este ano. O espírito está diferente. A necessidade de auto-descoberta apaziguada. Diz-se que não se deve regressar aos sítios onde se foi feliz. É um facto que nunca regressei à casa da Avó depois de ela morrer. Não quero. Mas regressei aqui a este canto do mundo. Vejo-o com olhos diferentes dos que o olharam o ano passado. Noto-lhe o calor, por exemplo. Noto que não é o Éden com que o pintei enquanto colhia amoras nos silvados o ano passado. Mas continua a ser um sítio de encantamento que me prendeu a alma.
Descubro recantos inusitados como uma capela forrada de ossos em Campo Maior, um sítio esconso emparedado por muros de igreja fechada e casas caiadas de fresco. Eu que tenho exorcizado os cadáveres dos meus baús fico-me a pensar que nós fazemos os nossos pesadelos de caveiras grotescas. E depois à noite estendo-me na espreguiçadeira do terraço e olho as chuvas de estrelas nestes céus límpidos onde ainda vejo a via láctea e as constelações que o Pai me ensinava em miúda. Navego em pensamentos lentos que vogam neste vento manso e quente e dou graças por ter chegado aqui...

10 de agosto de 2010

Novos e grandes amigos




Aqui neste Alentejo raiano/inglês o que me vai salvando deste calor fustigante são os bules de Earl Grey gelado, pelos quais abençoo as circunstâncias inglesas destas minhas férias longe de tudo. Também não vivo sem um providencial mata-vespas (que as moscas não se devem dar com este calor) e um repelente de insectos em busca do qual suportei o calor para ir de propósito a Portalegre desencantá-lo.
Acabei de ver o que me pareceu uma tarântula! Tinha um palmo de diâmetro e era peluda. Espero que não fosse venenosa e, confesso, não vou dormir muito descansada não vá uma prima da bicha achar que a minha rica caminha é muito confortável.
Fiz, entretanto, amizade com duas osguinhas muito simpáticas que partilham comigo estes serões no terraço de lajes quentes. Vejo-as em plena caça de gafanhotos e mariposas que esvoaçam em torno do candeeiro da parede. Acho que só nos filmes do Attenborough eu tinha visto cenas destas. Estou encantada e tiro-lhes montes de fotos (espero, porém, que tenham a decência de não entrar em casa).
No resto, visitas breves a Alegrete e Arronches e sempre de fugida e pela manhã porque, de facto, o calor é de uma substância densa e pesada e eu, não obstante, montes de protector 50+ e chapéu de abas largas não me dou muito bem com este calor de fornalha e rapidamente adquiro um belo tom rosa-fluorescente.

9 de agosto de 2010

The Alentejo, I say!


Um Alentejo muito inglês, sim senhora!
Chego à tapada. Carros de volante à direita e matrícula GB. Os caseiros espantam-se quando me ouvem em Português. Descubro mais tarde que devo ser a primeira portuguesa hóspede nesta casa que alugo por esta semana. O Visitor's Book só está assinado por bifes. Na cozinha a louça é Whittard tal como os chás que me deixam em boas-vindas na versão Earl Grey e English Breakfast. Na mesinha da sala os números mais recentes de The Economist e da Newsweek e por toda a casa pilhas de livros em inglês. As instruções de Eating Out, Sightseeing, General Information e todos esses etcs. estão em inglês, também existe um pequeno glossário "of useful language" no qual detecto "Veado - Venison" e as instruções de como proceder caso um escorpião me pique asseguram-me que "that is not lifethreatening but you should go immediately to the hospital in Portalegre". Nunca imaginei um Alentejo ready-made para inglês ver. Aliás, esta tapada está feita para expedições de "birdwatching" e, pelos vistos, é muito conceituada lá fora. Pergunto-me quantas parcelas destas de um Portugal estrangeiro existirão.
Tirando este àparte e o calor incomensurável que jamais esperei encontrar, acordar com esta vista e dormir ao som de corujas e cigarras é estupendo. Já avistei umas quantas aves de rapina (perdão, "birds of prey") e a ver se encontro algum dos abutres (preto, egípcio) que são tão anunciados como publicidade à propriedade. Também parece que há linces ibéricos muito fugidios (só pode porque na volta já estão extintos) e essa maravilhosa criatura que dá pelo nome de "wild boar" (não é bem mais chique do que javali?).
Bem, deixa-me ir enfrentar as melgas e outros bichos alados enquanto aqui estou no terraço a apanhar a fresca e a ouvir os chocalhos das ovelhas ao longe, os grilos e as corujas. Fui (mas toda mordidinha).

8 de agosto de 2010

Back in/to Alentejo


Regresso ao Alentejo. Aquele onde me descobri faz agora um ano. Aquele onde me pacifiquei. Aquele onde aprendi que férias em Portugal são tão boas como em qualquer outra parte. Aquele onde colhi amoras como em pequena. Regresso. Não ao mesmo sítio, a outros onde nunca estive e onde me quero perder levando o carro à deriva por entre montados e rectas longas.
Acho que para me descobrir preciso começar a conhecer este país que nunca vi bem como "o meu", mas o curioso é que marquei estas férias num site internacional, vou para uma tapada propriedade de ingleses e paguei o aluguer da casa em libras. Acho isto o cúmulo da ironia. Mas acho também que é aquela parte de mim que nunca conseguiu sair da duplicidade de uma nacionalidade feita a martelo. Tenho o pressentimento que nunca vou emergir desta espécie de confronto de ser portuguesa sem o ser. Enfim, isso é outro assunto. Por ora, quero é ir para esse imenso Alentejo de cheiro a searas secas e terra esfarelada. Vou ter comigo, abrir os olhos àquele céu profundo e pensar na sorte que tenho em poder perder-me e achar-me...

5 de agosto de 2010

Cadáveres


"Cadáveres" pode não ser a melhor palavra a usar por quem está de férias em dias de sol, descanso e paz mas faz-me todo o sentido. Este ano nas arrumações de Verão decidi fazer o que não tive coragem o ano passado por esta altura quando peguei em mim e revirei os meus escritórios aqui de casa de alto a baixo. Deitei fora papéis e papelada, entulhos mortos e coisas esquecidas, dei livros e desfiz-me de tralhas, contudo não toquei nos esqueletos que me povoavam os armários. Deixei-os sossegados com medo de os acordar. Eu estava tão bem que não os queria confrontar. Ainda não estava preparada, acho. Ignorei-os de propósito, fechei os olhos ainda que eles me assombrassem e eu soubesse que fugia deles e me enganava.
Passou um ano. E para deixar coisas novas entrar na minha vida tive de abrir as portas aos esqueletos e ver-lhes as caveiras medonhas olhos nos olhos. Estão ali, naquela foto. Lembranças duras de épocas duras: versões e revisões do meu doutoramento e o bouquet do meu casamento imperfeito. Deitei-os fora. Estiveram dois dias ali no chão contorcendo-se em agonia a olhar para mim até que eu me desse o impulso brusco de lhes pegar de rajada e, sem mais pensamentos, despejá-los para fora da minha vida.
Olho para a foto e vejo dois cadáveres: ressequidos e descolorados pelo tempo. O meu bouquet de noiva que fui parece-me, à luz destes meus dias e de quem sou agora, um ramo de flores mortas que enterraram um defunto e ficaram esquecidas no cemitério depois do funeral. O meu ramo de noiva enterrou-me na vida sem vida que foi o meu não-casamento. Mas enterrou-me também na mulher que já não sou. "Descansa em paz", poderia escrever em epitáfio de mim e acho que era disso que eu tinha medo o ano passado: enterrar-me definitivamente, deixar para trás o Eu que fui. Não quero aquele Eu definhante num não-casamento e asfixiado por toneladas de papéis escritos que me saíam linha a linha das entranhas. Só que mesmo o Eu que nos dói é Eu e libertarmo-nos dele custa-nos no pedaço que temos de arrancar.
Sei que, apesar de os esqueletos já não habitarem nesta casa, farão sempre parte de mim, porque sem eles eu não teria chegado aqui e, de certa forma, acabaram por ser degraus que me impulsionaram na Vida. A partir de agora, porém, estarei liberta da sua fisicalidade, estão remetidos a um lugar longínquo em mim e, com sorte e querer, pouco ou nada me lembrarei deles.
Ao passado, o passado.
RIP

4 de agosto de 2010

Com o Spotty pelos cabelos!!!!!


Pois é, os donos de cães normais levam-nos ao vet para as vacinas da praxe, Dona de cão Spotty leva-o às urgências a intervalos periódicos. Ele é porque o bicho mete o focinho no vespeiro do quintal, ou porque chama um figo aos rebuçados para a rataria e afins que isto aqui no campo é a loucura da bicharada, ou porque se enrodilha e garroteia nos tapetes que dá em roer, eu perco a conta às ocorrências. Agora abriu-me um lenho na perna de tanto correr à maluca. Nem sei como terá feito semelhante coisa. Lá fomos tinóni Blonde e Spotty para as urgências veterinárias. Life!! E ainda é só o terceiro dia de férias!!

3 de agosto de 2010

Houston, we have a problem!





Isto o bricolage é muita giro e tal mas... ALGUÉM ME DIZ COMO É QUE EU TIRO A SUPER COLA DOS DEDOS??
Já me tou a passar!!!

2 de agosto de 2010

Primeiro dia de FÉRIAS!!!


Finalmente! Ei-las que chegam!
É tanto o stress de um ano acumulado que entro em férias ainda na velocidade do dia-a-dia. Nem me apercebo que não há horários e que não tenho de tomar o meu café da manhã a correr.
- Pára! Não estás de férias?
Sim, estou, apercebo-me desconcertada porque nem é habitual que me digam que estou de férias, nem costumo esquecer-me que estou de férias. Mas afinal, tenho tantas coisas que quero fazer nas férias. E hoje vou pôr mãos à obra aqui em casa. Qualquer coisa como trabalhos oficinais e estou em ânsias para começar.
Fui, que estou com stress de férias!