15 de outubro de 2010

Vou ler

Até parece que nunca leio, eu que leio até os rótulos de tudo quanto é coisa comezinha. Leio porque os olhos não sabem sequer olhar sem ler. Mas enfim... Depois de três romances históricos de enfiada (Philippa Gregory, Anne O'Brien, Christie Dickason), decido que vou dar tréguas à escrita feminina e que me empaturrei do género pelos tempos mais próximos. Quero qualquer coisa nova. O pior é que os livros são como os vestidos: prateleiras deles e nada para ler. Passo os olhos pelas estantes da biblioteca. Centenas de livros novos vindos de todo o mundo, a carga que eu trago por esses aeroportos fora, e nada que me apeteça neste instante. Vou ao quarto. No banco corrido aos pés da cama os livros moribundos. Aqueles que já passaram pela cabeceira, que eu nunca acabei, que eu talvez nunca acabe mas que não tiro do quarto para não morrerem de vez (o eterno "Out of Africa", grande filme, uma seca de livro; "Mary Magdalen"; Melvyn Bragg; "Hier, wo wir uns begegnen" e mais umas resmas deles). Na estante do quarto os livros prioritários. Os que eu comprei com ânsias de ler logo, logo mas que, por algum acaso, deixaram de ser prioritários e eu já me esqueci porque os comprei. Na mesa de cabeceira ainda há dois ou três por acabar. Livros que ainda não se juntaram aos do banco dos pés da cama. Não sei mesmo o que vou ler. Não sei que livro abrir e acho a sensação do mais estúpida que pode haver.
Encontro-o. Capa preta. Escondido por detrás de um guarda-jóias no quarto. Nem me lembrava de o ter comprado. Uma tradução em Português de um original em Inglês. Ainda me pergunto o que é que me teria passado pela cabeça para comprar em Português um livro escrito em Inglês. Mas lembro-me vagamente de uma compra por impulso num centro comercial qualquer porque conhecia a colecção e queria continuar a ler um novo episódio de uma saga ao estilo Zimmer-Bradley.
Decido-me levá-lo para a cama. Leitura lenta e intrincada. Tenho de marcar a primeira página porque estou sempre a ir conferir informação. Gaita, eu queria ler por prazer e estou a ler com muita atenção para não me perder. Eu queria ler de chofre e isto vai demorar. Céus, tantos livros e nada para ler...

7 comentários:

antonio ganhão disse...

Como essa vida que ainda temos pela frente e que nos sobra...

Cristina Torrão disse...

Essa coisa de ter que estar sempre a ir conferir informação, ao ler um romance, também me irrita.

Eu Mesma! disse...

Estilo Zimmer-Bradley parece-me bem mas... conferir informação é que não....

Dias as Cores disse...

Lê "O Leitor".

mdsol disse...

Entendo-te perfeitamente. Querias ler uma boa história, com um enredo interessante, muito bem escrtita mas que não te quisesse ensinar mais nada do que aquilo que tu agora queres. É isso?

Goldfish disse...

Olha, há uns tempos recomendei-o noutro blog e agora que o tinha à mão resolvi relê-lo: A sétima Porta, Richard Zimler. Passa-se em Berlim na altura da ascensão do Hitler, eu adorei (e eu sei que o gosto literário, como o cinematográfico, é muito variável) e está a deliciar-me ver na mente a Alexanderplatz e tentar imaginar como seria antes da guerra.

JonDays disse...

Eu gostei muito do Africa Minha, quando o li há uns 20 anos atrás...