24 de agosto de 2011

Esta Lisboa que vou descobrindo e me encanta

20 anos. Regresso à Alemanha para estudar dois anos depois de decidir que ia ser portuguesa. Agosto. Como Agosto sabe ser em alemão: nublado ou de céu amarelo e calor abafado que queima a cabeça. Sinto saudades. Na solidão daquele Agosto lembro-me todos os dias de Lisboa e descubro que ela é branca e que tem uma luz transparente e lavada como eu lia aos poetas e aos expatriados. Lembro-me distintamente de ter falta do azul misturado de Tejo e mar e das colinas que via em branco na minha mente. Aos vinte percebi que gostava de Lisboa e que Lisboa era, afinal, mais especial que todas as cidades e capitais que eu conhecia e percebi que Lisboa me sabia melhor que Berlim ou Munique.

Hoje, por irónicas voltas do destino, fui descobrir um pouco mais dessa Lisboa familiar que tanto e tanto ainda desconheço. Por coincidência é Agosto e se nos meus vinte anos me dissessem que eu ia passar um Agosto em Lisboa eu acharia talvez uma impossibilidade ridícula mesmo que tivesse descoberto que tenho saudades de Lisboa quando estou longe (e estou longe muitas vezes).

Acho-nos uma cidade acanhada que já foi grande. Alva. Uma cidade de estatura pequena como o povo e não uma coisa mastodôntica criada a super leite como as cidades maciças do Norte. Pequena. Criada a sardinhas e queijos de cabra. Mas é mimosa. Tem um quê de graça como o fado lhe canta. Vive entre choradinhos de tristezas e algazarras de folia. Eu continuo "estrangeira" mas Lisboa é uma coisa de azul branco perdida entre mágoas saudosistas e a vontade de ser moderna e nunca agarrar bem a modernidade.

Hoje descobri a Capela de Sto. Amaro. Património classificado desde 1910. Perdida ao pó e entregue aos pombos e penas mortas. Porque é que está fechada a cadeado? Aqueles azulejos mereciam tanto mais que os vissem de perto e não por fugazes vislumbres através de grades negras e sujas. Que deprimente. Empobrecemos sem dignidade esta Lisboa e entregamo-la a um miserabilismo humilhante. Tive vergonha, ali a contemplar o Tejo à frente dos azulejos perdidos num bairro de velhos e escadinhas íngremes. Um canto tão digno e tão desbaratado. Por isso não somos modernos. E por isso, esta Lisboa que eu descubro e descubro amar anda assim meio enxotada ao Deus dará pelas calçadas descalcetadas deste abandono... 

2 comentários:

joshua disse...

Também amo essa Lisboa entregue ao odor a mijo desprezivo a cada esquina; à mercê dos que emborcam cerveja; à mercê de um vil esquecimento.

Goldfish disse...

Descobriste a Capelinha (como os locais carinhosamente lhe chamam)? É um espanto. Graças a um casamento, também já tive oportunidade de a ver por dentro, pequenina mas tão bonita como descuidada. E a vista? Tejo, Ponte, Margem Sul, Lisboa, Oceano - tudo se vê dali.