26 de outubro de 2011

E já um ano!!!

Fazia sol. Na minha vidinha apressada não esperava o SMS com um: parabéns TIA, assim em maiúsculas para eu saber bem que a Vida mudara e havia novas palavras no vocabulário. O Manel veio antes do previsto e eu cheguei à maternidade sem o grande tcharan que estava a planear para o dia agendado nas vantagens da medicina moderna.
Foi estranho ver aquela criaturinha minúscula, um bebé novinho de horas. Saíram-me os sentimentos ao contrário. Pensava que lhe conseguia encontrar traços nossos, feições que o fizessem um de nós. Pensava que o ia amar em turbilhão e facilidade mal o visse. Pensava... pensava uma série de coisas. Ao invés, vi nele um bebé em branco, só ele. O turbilhão veio com a sensação de ver a Mana mãe e a última mãe que eu tinha visto numa maternidade era a nossa Mãe que não estava ali para ser Avó. O turbilhão veio na sensação brutalmente renovada da perda. Quis ver a Mãe na Mana. Acho que talvez tenha visto uns vislumbres fugazes mas vi, sobretudo, que quem perpetua a Mãe é a Mana e vi o universo novo que ali se abria e no qual eu gravito apenas perifericamente. A Mana mãe continua, passado um ano, a ser o que de mais surpreendente eu acho na chegada do Manel.
Pensava também que me ia sentir Tia instantaneamente ou que me inundassem instintos maternais insuspeitos, como se o nascimento operasse todas as transformações por um qualquer processo de osmose. Nada disso. São-me ainda estranhas as palavras "sobrinho" e "tia". Não me saem na fluidez do discurso e não as sinto debaixo da pele. Não me definem nem ao bebé Manel.

E passou tão depressa. Não nos chegámos a habituar a um recém-nascido. Aquela fase bebé também passou no ápice invisível que mal se nota. O Manel é agora um bebé a sair de bebé. E talvez a Tia goste mais desta fase. Porque a Tia fala muito no Manel. A Tia tem saudades da nuca do Manel e do sorriso desdentado de quem acha o máximo a uma tampa de tupperware. A Tia esquece-se do Tempo e Espaço quando o vê perdido no seu próprio tempo e espaço e a Tia acha isso fascinante. E a Tia vê-o desenvolto, grande e sociável e percebe como se é feliz quando há um Manel assim a encher-nos a Vida.

Parabéns Manel! A Tia Bá adora-te.

23 de outubro de 2011

Chuva, vento, garagem e tesouras de poda

E o que é que se faz ao domingo em dia de vento e chuva? Limpam-se prateleiras esquecidas há décadas numa garagem usada só de passagem. Descubro dez tesouras de poda e lembro-me que isto já foi uma Casa de vinhas e vindimas, pomares e oliveiras. Grosas, alicates, tenazes, ganchos, brocas, instrumentos inomináveis, pedaços de ferro ferrugento, martelos, pregos gigantes, dobradiças do que eu julgo ter sido a porta da adega da minha avó Ária, porque sim ela chamava-se Ária. Pó, ferrugem, chuva e eu contente em limpezas que me avivam coisas esquecidas de um tempo que eu acho que nunca vivi porque eu esqueci da Vida antes da morte da Mãe. É como se fosse a vida de alguém diferente, outras pessoas num espaço, que sendo este onde eu vivo neste hoje, me parece um espaço outro há muito despovoado.
Chove e faz vento e eu alivio a garagem de pó e ferrugem.

21 de outubro de 2011

Folhas, folhas, folhas

Hoje acordei e a minha Casa tão fresca no Verão já tem aquele friozinho que os ingleses chamam "crisp". Sim, é um frio crocante. Levanto-me e calço peúgas. E procuro um robe esquecido. E o café hoje é mais quente. Oiço as folhas secas e grossas da nespereira a roçarem no empedrado do quintal. Fazem um barulho de roca quando são levadas em rodopio pelo vento antes de se amontoarem mortas pelos cantos. Gosto do som. Este ano não tenho saudades do Outono. Não me apetece castanhas, nem lareira, nem dias de casa. Não sei porquê mas queria mais sol e a Casa fresca sem estar fria. Não antecipo em contentamento o bom do Natal. Só queria mais calor e dias longos. Não sei porquê. E se eu for morar para a Flórida? E como é que eu levava esta Casa para St. Augustine? Acho que vem aí o Outono e este ano não me apetece nada...

17 de outubro de 2011

Porque a Função Pública recebe mais que o sector privado

A demonização do funcionalismo público, parece-me, começa a ultrapassar a razoabilidade ou até o cómico com que o costumamos caracterizar quotidianamente. Se cidadãos anónimos o fazem com o desconhecimento e a estereotipação corrente, é um mal menor. Que uma figura cimeira do Estado, e patrão actual desse mesmo funcionalismo público o faça, é algo totalmente diferente.
Como podemos generalizar e dizer que os funcionários públicos ganham em média mais 10% a 15% que os funcionários do sector privado? Explico:

1. 60% dos funcionários públicos são licenciados, esta correlação de valores não existe no sector privado e, portanto, se a qualificação profissional/académica se deve valorizar remuneratoriamente, a comparação público/privado não se pode fazer com base neste pressuposto;

2. Há carreiras públicas sem equivalente privado, veja-se o caso da Magistratura. Como podemos comparar os salários dos magistrados com algo que não existe no privado?;

3. Na saúde sabemos dos médicos que migram do público para o privado e não será certamente para penalizações remuneratórias por qualquer razão altruísta;

4. Poderemos comparar a Universidade pública com a privada em Portugal? Na América sabemos que as melhores e mais prestigiadas universidades são privadas, no nosso caso é o exacto oposto;

5. Será que todas as empresas privadas declaram o que remuneram aos funcionários de forma líquida e transparente? Ter-se-á acabado entretanto com as falsas declarações de rendimentos no privado?

Pensemos nestas questões enquanto atribuímos à Função Pública a factura do nosso resgate económico.

16 de outubro de 2011

O que ainda vai havendo de bom

Este clima de sol teimoso e dias suaves. Almoçar al fresco no quintal rodeada de árvores, sons abafados pela folhagem e envolta de brisa morna. É um prazer entre os poucos que vão restando. Porém, não é um prazer usufruído na leveza de ânimo. Gostaria de reclinar-me na cadeira sem que me assaltem pensamentos constrangidos pelos que nem este prazer tão comezinho podem ter.

14 de outubro de 2011

E o Presidente fala quando?

Estou a achar muito ruidoso o silêncio do Presidente.
E no meio da babel de comentários desinteligentes que enchem os ecrãs televisivos, uma ou outra ideia que vai passar em vão num país que não presta atenção a nada remotamente pertinente e prefere a ignorância até que ela lhe bata nos olhos:
- Portugal é o país da Europa com a menor taxa de natalidade. Não há políticas amigas da família. Vamos ter uma crise pior do que esta daqui a 20, 30, 40 anos. Vamos ter, ponto. E alguém se está a ralar? Alguém vê para além do Hoje?

13 de outubro de 2011

Outra vez os mesmos

João Confraria tem razão: os melhores da Função Pública vão ir embora, o que vai acontecer depois? Eu acrescento: quando os bons médicos, os bons professores, os magistrados, os quadros intermédios migrarem para o privado ou emigrarem para outras economias, o que vai acontecer ao país? Que tipo de Estado vai ser o Estado Português?
Como meio-alemã, assombram-me frequentemente fantasmas históricos com os quais cresci em receios de bicho-papão. Temo-os no presente e temo-os neste país. Em sociedades garroteadas o caminho totalitário desimpede-se.
Como funcionária pública sinto-me hoje culpabilizada pela crise, bode expiatório de uma sociedade que respira de alívio por haver funcionalismo público que aguente o embate. Pergunto-me o sentido do que faço numa sociedade que talvez não queira o que faço.
Como cidadã surpreendo-me a pensar onde andarão os responsáveis políticos que aqui nos trouxeram, o que pensarão das suas acções e penso na sorte que têm ser portugueses numa terra de brandos costumes e amplas impunidades.
Como portuguesa... como portuguesa envergonho-me pelo dia de hoje e preocupo-me por mim e por todos nós na faixa denominada média da sociedade.
Sei que não vou conciliar o sono hoje e em muitos dias por vir.

11 de outubro de 2011

À noite ao sereno

É de veludo a noite por estes dias. Mansa e morna. Embala restos de Verão sob o luar azul e custa-me sair aqui deste campo em que me descubro mais do que na cidade. Da cidade vem o chamamento. Não cedo de súbito como noutros passados recentes. Mas a razão é forte e o Tejo vai estar por perto e quase tudo o que me faz Eu por estes dias de presente vai estar ali para onde me convidam. Vou. Aprecio e sou feliz. Mas sou-o também, e talvez mais, quando os faróis iluminam o portão fechado da Casa para onde regresso. Foi tão penoso chegar aqui e vai sendo tão veludo manso e morno esta chegada... aqui. 

10 de outubro de 2011

É o medo

Talvez seja o medo o que impede os madeirenses de darem novo destino ao seu destino. E talvez seja até uma forma subliminar de nos dizerem desse medo.
Envergonho-me por todos nós que mantemos, dentro do nosso espaço soberano, um pedaço de solo sob um regime que oscila entre algo pseudo-democrático e paradoxalmente pseudo-autocrático.

8 de outubro de 2011

Mousse de maçã e marmelo

Entre os marmelos aqui do quintal e a quantidade industrial de maçãs que me dão, invento mousses de maçã, de marmelo e de maçã com marmelo em diversas combinações da mesma receita que a Mãe fazia e a que chamava Apfelmousse.

Ingredientes:
6 maçãs
4 marmelos
1 colher de chá de canela em pó
Açúcar a gosto
Raspa de 1 limão

Descascar e descaroçar as maçãs e os marmelos, cortar em cubinhos e levar a cozer. depois de as frutas cozidas, reduzi-las a puré que é adoçado a gosto e aromatizado com a canela e a raspa de limão.

Nota: A receita é igualmente boa só com maçã (nesse caso uso muito pouco ou nenhum açúcar) ou só com marmelo (em cujo caso é preciso mais açúcar para combater a acidez dos marmelos).

6 de outubro de 2011

Trifle de laranja e limão inventado Blonde

Quando provei este trifle fi-lo a medo: da desgraça, da não combinação de sabores, de um passo maior que as pernas em lides ainda incipientes nesta auto-aprendizagem na cozinha. Aconteceu o oposto. E acho até, sem modéstias mas antes na plena perplexidade, que é o melhor trifle que já provei. Poderia ter sentido orgulho, daqueles imensos de consegui!, mas não. Deu-me para a comoção que me quebra os joelhos e não me saiu um consegui! em exclamação. Foi antes um consegui meio tolhido e íntimo, algo como: eu, afinal, tenho isto cá dentro e não sou a lástima que me fizeram pensar anos a fio dentro da prisão em que vivi. Nem sou a lástima que, de tanto ouvir, ser lástima, acreditei ser. Talvez seja, afinal, na cozinha onde mais expurgo os demónios que ainda me espreitam. Por hoje venci-os mas ainda não consigo levantar a voz para dizer consegui!
Quanto ao trifle (se alguém me disser como se diz trifle em português, agradeço) inventei-o de raiz. Nem nunca tinha experimentado fazer um. Inventei, ponto. Acordei com vontade de fazer uma sobremesa, fui ver a despensa e decidi que tinha de comprar madalenas e mascarpone. Tudo o resto estava cá em casa. Cá vai:

Ingredientes:
8 madalenas
1 pacote de natas (200ml)
1 embalagem de mascarpone (250ml)
Sumo e raspa de um limão
4 colheres de sopa de açúcar
1 copo de água
1 frasco de doce de laranja amarga
1 laranja

Comece por preparar um xarope levando a lume brando num tachinho o açúcar dissolvido no copo de água e no sumo de limão. Deixe levantar fervura durante um ou dois minutos e retire do lume. Numa taça misture o doce de laranja com os gomos da laranja partidos em cubinhos. Numa outra taça bata o mascarpone, as natas e a raspa de limão até ficar uma mistura consistente.
Numa taça de trifle (uma taça que tenha a mesma dimensão no fundo e no bordo) disponha uma camada feita com quatro madalenas cortadas ao meio. Regue as madalenas com metade do xarope de limão. Por cima da camada de madalenas disponha metade da mistura do doce de laranja com laranja. E por cima faça outra camada com o preparado de mascarpone. Repita todas as três camadas com o restante de cada preparado terminando na mistura de mascarpone. Bom apetite!

4 de outubro de 2011

Que Verão tão benvindo

Para quem passou as férias no frio (13º graus já era trópicos porque no resto 7º era o normal) e depois chegou aqui à pátria e trabalhou na cidade grande o Agosto inteiro, isto agora é o céu do Verão. chegar a casa à noite e ainda estarem 26º... céu é o que vos digo.

3 de outubro de 2011

Há que rir de nós próprios

e das aselhices (azelhices?) das segundas de manhã quando trocamos o frasco de perfume pelo de desodorizante e só não vamos para o duche outra vez porque já estamos maquilhadas, vestidas, acessorizadas... e atrasadas. Vida!!

2 de outubro de 2011

Casca de queijo recheada com cogumelos à Blonde

Sempre adorei casca de queijo. E sempre achei um desperdício acabar um Azeitão ou um Serra e deitar a casca fora. há uns tempos alguém me disse que recheava as cascas com ovos mexidos e as punha no forno a derreter. Achei a ideia óptima. O problema é que para mim ovos e queijo é demasiada proteína junta e uma bomba de colesterol. Pensei em seguir a dica mas à minha maneira...

Ingredientes:
Casca de um queijo Azeitão ou Serra e respectiva tampa
1 embalagem de cogumelos (quaisquer espécies)
4 dentes de alho
1/4 de uma cebola média
Azeite q. b.
Colorau
Pimenta
Alecrim
Tomilho
Coentros frescos

No azeite, refogar levemente os dentes de alho e o pedacinho de cebola picados. Quando alourar juntar os cogumelos cortados em pequenos cubos e temperar com os temperos: pimenta, colorau, alecrim e tomilho. Deixar os cogumelos cozer e apurar para perderem a água. Quando os cogumelos estiverem prontos, desligar o lume e polvilhá-los com os coentros picadinhos. Depois, com o preparado dos cogumelos, rechear a casca do queijo e fechá-la com a tampa. Levar ao forno até derreter. Servir quente com tostas.
Nota: A casca do queijo convém ser bem limpa com azeite por dentro e por fora.

1 de outubro de 2011

Não é um bocadinho cedo para o Natal?

Mas hoje no supermercado já estava tudo engalanado com bolos-rei, broas, pais-natal de chocolate, guloseimas natalícias e todos os bombons da quadra. Pareceu-me um bocado surreal, com este calor todo e tão cedo no calendário, ser lembrada, assim, de repente, do Natal.