28 de novembro de 2011

Massada de frutos do mar Blonde

 O que tem de bom não seguir receitas e inventar desalmadamente é a expectativa do resultado. Ficou bom (e de cada vez que isto me acontece, eu pasmo de mim).

Ingredientes:
1 embalagem para arroz de marisco
1 cebola grande
5 dentes de alho
1 pimento verde
1 tomate maduro
2 ou 3 pedaços de tomate seco
2 folhas de louro
2 cenouras
1 beringela pequena
1 embalagem de massa cotovelos
Azeite
Colorau
Vinho branco

Num tacho refogar em azeite a cebola cortada às rodelas, o alho e o louro. Quando a cebola começar a ficar translúcida juntar o tomate fresco e o tomate seco cortados em pedaços pequenos e o pimento cortado em tiras e em cubinhos. Polvilhar com o colorau. Quando o tomate estiver meio cozido juntar a beringela cortada em cubinhos e as cenouras cortadas em rodelas e deixar os vegetais cozer até ficarem macios. Regar com vinho branco a gosto. Depois adicionar os mariscos e deixar cozinhar.
Numa panela grande, cozer as massas com um fio de azeite até ficarem al dente.
Quando as massas estiverem cozidas, escorrer a água e juntá-las ao preparado de mariscos. Servir de imediato.

Nota: Eu não uso sal nem pimenta.

27 de novembro de 2011

Com que voz


Com que voz cantam os portugueses o seu fado? Com esta.
Hoje faltam-nos certamente as palavras claras porque repetimos as frases feitas de como nos anima a imaterialidade da nossa canção nacional. E o que nos vai faltar de palavras teremos em abundância na música melancólica que melhor nos descreve a alma.

Obrigada.

26 de novembro de 2011

25 de novembro de 2011

The Show Must Go On


Queen é a Mãe. E ontem fez vinte anos que ficámos sem Freddy Mercury que ela dizia num sotaque alemão muito pronunciado e que soava a algo como Frreddy Marrcouni.
No dia em que Ela morreu foi isto que eu cantei. Cantei para Ela porque sabia que Ela já me podia ouvir como quem ouve que já partiu. Cantei que o espectáculo continuava, que ficávamos cá a seguir com tudo, que lhe íamos fazer o último acto social por que todos passamos e que diz ao mundo que vivemos e passámos por aqui.
Ouvir Queen deixou de ser ouvir música. Ouvir Queen é, desde que Ela morreu, viver saudades, parar, lembrar-me. Tem vezes que é penoso na dor da perda que evoca. Tem vezes que me lembra aquele sotaque. Nunca mais ouvi na indiferença de quem ouve por ouvir. Queen é a Mãe. Como Queen é Freddy Mercury. God bless.

Ich liebe Dich so sehr Mutti...

22 de novembro de 2011

Como se fosse vitória

Ok, jogar com o ManU e aguentar-se nas canetas não é para todos. Mas foi só um empate, caramba e um auto-golo dos outros. Onde é que está a razão da euforia? Isto é como em tudo neste país: ficamos satisfeitos com pouco...

21 de novembro de 2011

Disciplinar-me

Ando a ver se me disciplino para evitar telejornais e notícias de Portugal. Acho que, no meu caso, excesso de informação não é uma virtude, é uma doença e quero ver se me começo a curar.

20 de novembro de 2011

Para ler sobre a justiça

não pode haver país saudável ou democrático sem bons alicerces jurídicos e sem um bom e transparente sistema judicial. Acho que em Portugal ainda estamos longe da perfeição. Por isso, li com interesse esta entrevista:
http://www.ionline.pt/portugal/antonio-cluny-ministra-da-justica-tem-trabalhado-cuidado-rigor

14 de novembro de 2011

Ela

Vejo-a chegar e reparo-lhe os movimentos. Mecânicos de quem já ali chegou milhões de vezes. Perguntam-lhe o motivo da ausência. Responde que foi à guerra. Sorri sem ser um sorriso. Presumo que sim, que foi à guerra.
No gesto mecânico pesa-se. Vejo 48 na balança e visualizo-a apenas um traço fino escrito no mundo. Pergunto-me como é que um risco daqueles pode ir à guerra.
Entra na sala do ginásio. Tem a cara fechada na concentração que a escuda do resto do mundo. Reflecte-se no espelho e vejo-a nos movimentos leves e ritmados que já fez vezes sem conta. Não se engana. Parece mesmo um risco: solto e leve, pronto a voar a qualquer momento.
Foi à guerra e regressou. Eu vejo-a e só posso imaginar.

4 de novembro de 2011

Os bilhetes da Mãe

Este blog já viu muito da saudade da Mãe em que habito todos os dias da minha existência. Textos de alguém que chora uma perda irreparável. Palavras nostálgicas, longas de dor, apertadas. Mas as memórias da Mãe não são só de um Amor perdido, não são só de imagens de uma Mulher belíssima que nos ofuscava e com quem eu e a Mana somos ainda e sempre comparadas a uma luz de menor intensidade. As memórias da Mãe são também de uma Mulher com uma sabedoria calma. Não se trata apenas de ser culta e de me fazerem falta as conversas profundas que tínhamos e que eu nunca mais pude ter desde que Ela morreu. Era a sabedoria pragmática da Vida que Ela aplicava a tudo o que fazia e, sobretudo, à educação de duas meninas que Ela insistia serem criadas para serem seres humanos capazes.

Acho, que nos dias de hoje, nestes tempos de gerações à rasca de pessoas enrascadas por educações lenientes e extremadamente complacentes, faz talvez falta chamar à pedra a responsabilidade que todos temos enquanto educadores e educandos.
A Mãe fazía-nos bilhetes de tarefas.

Nas férias ou nos fins-de-semana em que eu e a Mana estávamos mais descansadas de estudos e deveres da escola era certo e sabido que ao pequeno-almoço nos esperavam, bem em cima do tampo do frigorífico, uns papelinhos escritos a lápis de bico grosso com tarefas para cumprir naquele dia. Os bilhetes.
Normalmente havia um número ímpar de tarefas para que eu e a Mana negociássemos a divisão. À frente de cada tarefa tínhamos de pôr a inicial do nosso nome para a Mãe saber quem fazia o quê:
- Lavar a loiça
- Limpar a loiça
- Ir ao pão
- Varrer a calçada do jardim
- Pôr a mesa
Quem de nós ficasse com mais tarefas num dia, no outro era mais aligeirada. O que não podia haver era tarefas sem um risco por cima, a indicar terem sido cumpridas, ao final do dia. Não havia discussão. E os bilhetes eram um dado adquirido da nossa infância e adolescência. Às vezes havia tarefas que valiam por muitas. Regar o jardim no Verão era uma delas. A quem coubesse regar o jardim já só faria mais uma tarefa. E, claro, havia tarefas que não constavam nos bilhetes porque não eram mais do que a obrigação das meninas: fazer a cama e arrumar os respectivos quartos.
Olhando para trás vejo que os bilhetes não nos traumatizaram, não nos tiraram tempo, não nos causaram discussões. Nem sempre gostávamos muito, é óbvio. Mas hoje falamos deles com saudade e  a lembrança de uma ou outra tarefa mais exótica que a imaginação da Mãe vertia nos bilhetes: apanhar um cesto de ameixas ou descascar pêras para um doce que a Mãe ia fazer. Sobretudo, entendo como os bilhetes eram uma maneira muito sábia de educar meninas para a responsabilidade.
Tenho tantas saudades, Mutti.

3 de novembro de 2011

1/70

Eu sempre quis o papel. Sempre quis preservar como sede do clã a Casa que herdei em momento da nossa maior tragédia. Não sou eu que vou perpetuar a Família mas, por enquanto, é aqui que insisto passemos os momentos cruciais do que restou da Família e dos bons acrescentos e mudanças que entretanto chegaram.
O Pai chegou aos 70 e eu nunca pensei que ele aqui chegasse, não depois de tudo. E chegou aqui para ver que os genes vão seguir por mais uma geração e que ele não morre na geração das filhas. Chegou aqui para festejar o maravilhoso primeiro ano do neto. Chegou aqui para ser Avô, no estranho que a palavra me soa, eu que só o conhecia Pai. O ano passado festejámos os 69 do Pai na surpresa de termos um bebé de horas, de dias, um embrulho pequenino saído da maternidade. Este ano celebramos tudo em conjunto, aqui na Casa que já nos viu o muito da felicidade e o imenso da dor. E a Casa encheu-se e fui feliz como fomos todos felizes por afastarmos os lutos e dores e perdas que sempre trazemos dos nossos quotidianos e das vidas que levamos e arrastamos connosco. Foram horas boas.
O Pai chegou cedo. Veio com a energia ciclónica com que crescemos ao tê-lo como Pai. Podou-me as árvores todas do quintal. Todas. E, contente com a tarefa, deixou-me o privilégio de ter de varrer galhos, ramos, folhas e frutos que o assomo da poda deixou no chão. Apesar do trabalho hercúleo que me espera fico contente no contentamento dele.
Depois chegaram todos os outros e o mais precioso Manel, ignorante do seu aniversário e da celebração conjunta com o Avô. Meu querido sobrinho, as fotos que vais ver e o que temos para te contar quando cresceres.
Quando tudo acabou fiquei aqui, entregue a estas paredes frias ao tacto e pesadas de história(s). A Casa em desalinho de pós-festa, o quintal inteiro para desimpedir de restos de árvores antes que venha a chuva. Fiquei entregue a mim, às memórias e à Casa. Cada um foi à sua vida mas nos interlúdios em que o bom se festeja a Vida é, sem dúvida, a maior e melhor dádiva que recebemos por trilharmos esta nossa mortalidade em que incarnamos por uns tempos.

2 de novembro de 2011

Bróculos com vinagreta Blonde

Não ficam muito giros na foto mas, afinal, bróculos são umas coisas mesmo feiínhas.
Esta inventei com base na Barefoot Countessa mas como não prestei grande atenção à receita fiz aqui umas artimanhas meio Blonde. Ficou bom e é fácil e rápido e é quanto baste.

Ingredientes:
1 molho de bróculos
3 colheres sopa de azeite
1 colher sopa vinagre balsâmico
1 colher chá de mostarda
Manjericão picado a gosto
Manjerona picada a gosto
Sal a gosto

Cozer os bróculos sem espapaçá-los. Depois de cozidos dispo-los numa saladeira. Preparar a vinagreta misturando todos os ingredientes. Emulsionar bem e verter sobre os bróculos. Envolvê-los bem na vinagreta. Já está.

1 de novembro de 2011

Acordar no silêncio

É bom acordar no morno de lençóis ocupados. Acordar com companhia, gente viva ao nosso lado que reparte connosco uma parte dessa coisa maravilhosa que é a nossa individualidade, a nossa exclusividade para connosco próprios. Precisei divorciar-me para saber o que isso é: acordar com companhia. Mas é igualmente bom acordar no silêncio ocupado apenas por nós: a Casa vazia, o dia inteiro por nossa conta, a liberdade total que temos quando nos damos bem com a nossa solidão.
Não há aqui ninguém com quem falar, verbalizar palavras em modo sonoro. No entanto, falo o dia todo: palavras mentais, outras que escrevo e as muitas que leio. O cérebro habita-se de ideias infinitas e todas em palavras, inglesas na maioria das vezes, portuguesas muitas, alemãs cada vez menos, como se essa língua primeira se esteja a esvair e a fluir para longe.
Tem dias em que a solidão me enche de fantasmas: os que ainda vão teimando esconder-se nos cantos escuros e fechados desta Casa em baús e armários de outras gerações e outras vidas, e os da minha vida presente de um divórcio moroso na justiça que me vai corroendo as fibras da resistência. Mas há outros dias em que a solidão é a minha vida plena, o caminho que me trouxe aqui e a potencialidade de cada dia e cada curva. Gosto destes dias em que o espírito se desimpede do mal e vê, através do translúcido da clarividência, o que de bom existe.
Acordar no silêncio... tem dias que é suave como hoje.