3 de novembro de 2011

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Eu sempre quis o papel. Sempre quis preservar como sede do clã a Casa que herdei em momento da nossa maior tragédia. Não sou eu que vou perpetuar a Família mas, por enquanto, é aqui que insisto passemos os momentos cruciais do que restou da Família e dos bons acrescentos e mudanças que entretanto chegaram.
O Pai chegou aos 70 e eu nunca pensei que ele aqui chegasse, não depois de tudo. E chegou aqui para ver que os genes vão seguir por mais uma geração e que ele não morre na geração das filhas. Chegou aqui para festejar o maravilhoso primeiro ano do neto. Chegou aqui para ser Avô, no estranho que a palavra me soa, eu que só o conhecia Pai. O ano passado festejámos os 69 do Pai na surpresa de termos um bebé de horas, de dias, um embrulho pequenino saído da maternidade. Este ano celebramos tudo em conjunto, aqui na Casa que já nos viu o muito da felicidade e o imenso da dor. E a Casa encheu-se e fui feliz como fomos todos felizes por afastarmos os lutos e dores e perdas que sempre trazemos dos nossos quotidianos e das vidas que levamos e arrastamos connosco. Foram horas boas.
O Pai chegou cedo. Veio com a energia ciclónica com que crescemos ao tê-lo como Pai. Podou-me as árvores todas do quintal. Todas. E, contente com a tarefa, deixou-me o privilégio de ter de varrer galhos, ramos, folhas e frutos que o assomo da poda deixou no chão. Apesar do trabalho hercúleo que me espera fico contente no contentamento dele.
Depois chegaram todos os outros e o mais precioso Manel, ignorante do seu aniversário e da celebração conjunta com o Avô. Meu querido sobrinho, as fotos que vais ver e o que temos para te contar quando cresceres.
Quando tudo acabou fiquei aqui, entregue a estas paredes frias ao tacto e pesadas de história(s). A Casa em desalinho de pós-festa, o quintal inteiro para desimpedir de restos de árvores antes que venha a chuva. Fiquei entregue a mim, às memórias e à Casa. Cada um foi à sua vida mas nos interlúdios em que o bom se festeja a Vida é, sem dúvida, a maior e melhor dádiva que recebemos por trilharmos esta nossa mortalidade em que incarnamos por uns tempos.

3 comentários:

Carlota e a Turmalina disse...

Um brinde à vida!!! Beijos

Ältere Leute disse...

Que grande está o SuperBebé!!!

João Azevedo disse...

ai que lino, ai que lindo