30 de abril de 2011

Temporal

Olha a sorte eu ontem não ter ido para Lisboa e não ter apanhado a granizada na 2ª Circular!! Levei com o flash de um relâmpago bem à minha frente à saída do ginásio e ouvi trovões a tarde inteira, mas de resto a coisa até esteve pacata.

29 de abril de 2011

Felizmente o casamento é hoje

É que já não há pachorra para tanto marketing da monarquia britânica. Agora é esperar que cheguem as eleições aqui no burgo a ver se acaba esta campanha infame e inglória porque também já não há pachorra.

27 de abril de 2011

Acabei o "Out of Africa"

Nunca um livro me foi tão demorado de ler. Anos. Ficava mudo em cima da mesinha-de-cabeceira ou do banco corrido aos pés da cama. Pensei trasladá-lo várias vezes para a biblioteca mas achava sempre que se o fizésse antes de o acabar de ler o mataria. Por conseguinte, foi ficando anos e anos no quarto. A decoração mudava e ele ficava. Os móveis mudavam de sítio e ele ficava. Os homens na minha cama mudavam mas ele ficava. E ficava sempre. Achava-o insípido e parado face a um filme que eu via e revia, vejo e revisito vezes sem conta. Faltava um link qualquer, algo que me motivasse a leitura. Voltei a pegar nele e a forçar-me a ler as infinitas descrições dos pormenores comezinhos da vida numa quinta africana. Na decisão, comecei a ler ouvindo as palavras a que os olhos davam forma na voz da Meryl Streep e do sotaque arrastado por uma vida que acabou lá longe, num passado que se abre cheio de imagens perdidas. E li com a banda sonora do John Barry a emprestar a amplitude do espaço nostálgico da mente e da savana.
Porém, àparte os artifícios que impeliam a leitura, li porque me revi na solidão da Karen Blixen, nas responsabilidades enormes que ela tomava nos ombros e no que ela precisava das palavras escritas. Se fosse hoje, talvez ela tivesse um blog e se sentasse, acompanhada por grandes chávenas de café amargo, na biblioteca silenciosa, por entre livros e fotos emolduradas de passados, a escrever as tais coisas comezinhas do dia-a-dia na Casa rodeada de relva e pássaros, na Casa que lhe dava um trabalho imenso a manter, e a escrever os percalços das colheitas sempre más e dos Kikuyus que habitavam na fazenda. Deixei de ler a tentar encontrar o filme. E, finalmente, encontrei a fazenda em África e a mulher solitária e observadora que lá vivia. A mulher que escrevia sobre grandes tudos e pequenos nadas, que conferia um carácter quase palpável à fazenda viva e sarcástica que ela amava mas que a perseguia e que, apesar da escrita toda que lhe brotava em necessidade, resguardava com inexcedível elegância a intimidade dos seus relacionamentos tão explorados no filme.  
Levei anos a ler e ainda bem porque só agora eu conseguiria ler como quem lê...

25 de abril de 2011

São rosas...


Encarnadas, brancas, cor-de-rosa, pinceladas de cores. Todas foram plantadas pela Mãe há muitos, muitos anos. Conservo-as, nem sei bem como na minha falta de jeito. Sorte. Os cuidados de terceiros. O não se deixarem morrer porque isso me entristeceria. Não sei. Perduram. E nesta altura fazem-me sempre tão feliz. Ontem levei umas quantas ao cemitério onde a Mãe mora. Talvez para que Ela as veja e saiba que em muitas coisas não morreu. Talvez porque fosse Páscoa. Talvez porque me deu a saudade mais violenta do que nos dias em que a trago fechada com a proibição expressa de não sair.
Seja como for, nesta altura há rosas no jardim, e um trevo perdido no meio da relva, selvagem, dissonante de um jardim amansado. As rosas alegram-me. Não as cuido e não sei falar com elas. Mas elas sentem o importantes que são e não me morrem. Lembram-me a Canção de Salomão não sendo lírios e lembram-me uma mulher loura com um vestido de Verão às riscas azuis que cuidava tão bem delas...

23 de abril de 2011

Páscoa Feliz!


Apesar da chuva. Apesar das contrariedades que estamos a atravessar. Apesar do apesar:
BOA PÁSCOA! Porque há sempre o bom que merece celebração.

21 de abril de 2011

Hoje foi um dia bom

Um dia todo e inteiramente meu. Hoje escrevi à mão livre e já não o fazia desde antes do começo do divórcio. Preciso escrever. Escrevo muito e escrevo sempre. Mas há três anos que só escrevo (e publico) ciência, tirando as duas vezes que escrevi numa revista entretanto desaparecida. O único escape tem sido o blogue. Hoje voltei a escrever e não sei descrever este estado de alma. Esta suprema liberdade de Tempo na suprema liberdade de Espaço e silêncio de que gozo.
Escrevi a ouvir música. Uma coisa tão banal e quão distante dessa banalidade eu tenho andado. Ouvi coisas que já não lembrava ter. É como se, aos poucos, fosse recuperando a minha vida e quem eu era. O divórcio nas suas burocracias tem-me consumido, esgotado e penso-o uma forma de bullying negligenciada pela sociedade e calada por quem a sofre. A profissão tem sido um escape e, simultanea e paradoxalmente, algo que me engolfa e me retira Tempo para o ócio da escrita. Depois sobreveio o confronto com esta Casa, com os terrenos, o repegar passados. Colar pedaços de mim para me voltar a encontrar tirou-me a escrita livre e desimpedida. A escrita na ponta dos dedos e horas fluídas. Hoje tive isso e falham-me as palavras. As tantas que me saíram apressadas e ansiosas, faltam-me para descrever o que é escrevê-las.
É como se uma parte de mim voltasse a ser íntegra. Como se a expiação estivesse a acabar. Não foram só as palavras que voltaram, foi o querer desamarrá-las, ter vontade delas. Não sei se no meio da crise em que vivemos imersos ou nos quotidianos atrozes, alguém compreenderá como é possível ser-se feliz na escrita. Talvez só os escritores, os poetas, os que vivem a amargura e a necessidade de parir palavras. Esses poucos, talvez só eles entendam isto e como esta necessidade é tão vital como o vital que fazemos se queremos viver.
Eu hoje escrevi e isso eu não sei escrever...

Suma liberdade

Frei lebt wer sterben kann.
                          Karen Blixen

Li ontem num livro que ando a ler há tantos anos que me esqueço quantos: Out of Africa.

"Vive livre quem pode morrer." Deve ser essa a máxima liberdade: pensar que podemos morrer que não fica cá nada incompleto ou sujeito a definhar sem nós. Olho para a Mãe e acho que Ela morreu assim que teve liberdade para tal, logo depois de enterrar os pais e assim que nós estávamos a começar a bater as asas. Foi cedo - cedíssimo - mas foi no momento exacto em que Ela atingiu esta liberdade tal que podia morrer. Olho para a Mana com este bebé de cinco meses e sei que ela não pode morrer. E olho para mim... a liberdade plena de que fala a Blixen.
Recomecei a ler Out of Africa que sempre me foi um filme caro mas um livro intragável. Recomecei a ler com a voz da Meryl Streep e a banda sonora das savanas na cabeça e, desse modo, leio páginas e páginas. Fazem-me sentido agora. E, talvez, tenha sido necessário eu chegar aqui para me diluir na leitura.
Como a Karen Blixen, eu tenho a liberdade da Morte, a solidão do caminho compartilhado sem amarras, a gestão de terras (que me dão a preocupação do que fazer com elas e, como ela, receio nunca saber investir sabiamente), e desta Casa de paredes amplas e ecos que cada vez amo mais.
Sim, vive livre quem pode morrer.

20 de abril de 2011

Turbilhão da vida


Tal e qual. No turbilhão da vida existimos em momentos de encontros, desencontros e reencontros. Fazemos o presente com pedaços de passados e promessas de vislumbre de futuros. Partimos no turbilhão e regressamos a um aqui nunca igual ao que deixámos. E vamo-nos construíndo e vivendo nesses encontros, desencontros e reencontros que nos fazem, afinal, Nós, Eus distintos na infinitude da possibilidade humana ou dos relacionamentos humanos. E tão boa essa possibilidade do Reencontro.

Tourbillon de la vie (versão Vanessa Paradis e Jeanne Moreau)

Elle avait des yeux, des yeux d'opale,
Qui me fascinaient, qui me fascinaient.
Y avait l'ovale de son visage pâle
De femme fatale qui m'fut fatale.

On s'est connus, on s'est reconnus,
On s'est perdus de vue, on s'est r'perdus d'vue
On s'est retrouvés, on s'est réchauffés,
Puis on s'est séparés.

Chacun pour soi est reparti.
Dans l'tourbillon de la vie
Je l'ai revue un soir, hàie, hàie, hàie
Ça fait déjà un fameux bail.

Au son des banjos je l'ai reconnue.
Ce curieux sourire qui m'avait tant plu.
Sa voix si fatale, son beau visage pâle
M'émurent plus que jamais.

Je me suis soûlé en l'écoutant.
L'alcool fait oublier le temps.
Je me suis réveillé en sentant
Des baisers sur mon front brûlant.

On s'est connus, on s'est reconnus.
On s'est perdus de vue, on s'est r'perdus de vue
On s'est retrouvés, on s'est séparés.
Dans le tourbillon de la vie.

On a continué à toumer
Tous les deux enlacés
Tous les deux enlacés.
Puis on s'est réchauffés.

Chacun pour soi est reparti.
Dans l'tourbillon de la vie.
Je l'ai revue un soir ah là là
Elle est retombée dans mes bras.

Quand on s'est connus,
Quand on s'est reconnus,
Pourquoi se perdre de vue,
Se reperdre de vue ?



19 de abril de 2011

"Foul" à Blonde

"Foul" é um prato típico egípcio à base de favas. E favas é o que não me falta (vantagens da vida no campo e da solidariedade de quem me vê uma citadina impenitente). Como já não sabia o que fazer com tanta fava, lembrei-me desta receita que aportuguesei e ablondei. Cá vai:

Ingredientes:
10 colheres de sopa cheias de favas
1 raminho de coentros (salsa no original)
1 colher de sopa de azeite
cominhos a gosto
1 colher de sopa de sumo de limão
sal a gosto (eu dispenso)

Cozer as favas até quase se esmigalharem. Quase no fim da cozedura juntar os coentros a dar gosto. Escorrer as favas depois de cozidas e esmagá-las com um garfo. Juntar o sumo de limão, os cominhos e o sal. Levar a aquecer enquanto se ligam os ingredientes numa frigideira com o azeite. Mexer. Servir. (e com estas a malta até passa por cozinheira de gabarito internacional e sempre se escapa das clássicas favas com entrecosto)
Bom proveito.

18 de abril de 2011

A desinspiração

A desinspiração é uma seca.
A tristeza é inspiradora. A alegria sobrepõe-se à inspiração porque se esquece dela. E os estádios intermédios são uma coisa sensaborona.

15 de abril de 2011

Por outro lado, há vida

Ontem não li jornais. Ontem não abri a net nas notícias. Ontem dei-me à ignorância.
Hoje acordei a ouvir os passarinhos no jardim e nos ninhos que já me enchem aqui os beirais (chilreada animada com fartura). Hoje tomei o meu café a passar em revista títulos de notícias e sem ler nenhumas. Não vale a pena. Pelo que vejo está tudo na mesma. O limbo e o suspense do que aí vem. A falta de ideias do costume. O enjoo do costume.
O dia está lindo. As flores no jardim despontam. O Spotty fica todo contente nestes dias. O Pai telefonou-me alegre enquanto eu tomava o meu café de sempre, aqui no fresco da biblioteca, o pc aberto, os livros em volta, a secretária desarrumada como eu gosto, no sossego da Casa que sinto mais minha à medida que o Tempo passa.
Hoje não quero saber do país...

13 de abril de 2011

Eh pá, calem-se!

Um diz que não quer esqueletos no armário e gatos com rabos de fora.
O outro diz que se fosse hoje não tinha feito o 25 de Abril.
Outro ainda diz que a culpa é do outro (e nisto o outro diz que não, que é do outro).
E o outro lá de Bruxelas diz para terem juízo.
Mas porque é que esta gente toda não se cala e não vai apanhar um avião ali ao novo aeroporto "internacional" de Beja?

Lembranças de um país que não conheci

Lembro-me mal: porque não tinha idade, porque éramos nómadas errantes por essa Europa e por esse Portugal fora. Mas lembro-me de retalhos de coisas que me ficaram na memória e que, agora e neste presente, vou conseguindo perceber melhor.
Lembro-me de ver a Heidi a preto e branco e achar muito estranho. Lembro-me que havia escritos nas paredes dos prédios quando me levavam a passear a Lisboa ou a Vila Franca. Lembro-me de haver manifestações de gente com bandeiras pretas na televisão e de a Mãe, sentada no cadeirão da sala, perguntar ao Pai o que eram aquelas bandeiras.
- Gente com fome. - Dizia o Pai.
Também me lembro, quando aqui chegámos de forma mais definitiva, porque eu precisava de ir para a escola e a Mãe queria que eu fosse educada em Português, que o nosso telefone era o único nas redondezas e a Mãe deixava que fosse uma espécie de aparelho ao serviço da comunidade. E lembro-me, muito claramente, de a Mãe ter na despensa reservas de conservas que "emprestava" aos vizinhos. Eu, na ingenuidade das crianças, pensava que as pessoas não faziam bilhetes de compras como a Mãe fazia e achava-a uma mulher de paciência por nunca dizer "não" a ninguém.
A Mãe morreu sem me explicar muito bem esses tempos. O Pai também não fala muito deles. Acho que os associavam, mais do que a um tempo de pobreza do país, a um tempo de injustiças: a nossa casa tomada e vandalizada no pós-25 de Abril, as acusações fascistas, a reforma agrária. Mas hoje, olho para o país que me envolve e cuja nacionalidade eu viria a tomar anos mais tarde, e percebo o que devem ter sido esses tempos. Pensava que eram tempos da História e, devendo saber melhor, esqueci-me que a História é circular e repetitiva. Leio em todo o lado que o FMI já cá esteve. Antecipo o retrocesso económico que aí vem e não imagino as consequências sociais que se adivinham.
Talvez estejamos a recuar a esse dealbar dos anos 80, só que agora eu estarei cá como adulta e portuguesa. E, mais do que espectadora de sala, estarei, como me sinto agora, dentro desta espécie de máquina de lavar em centrifugação que é como descrevo este país.
É muito difícil (d)escrever o desapontamento e a falta de confiança que tenho no futuro que nos aguarda...

10 de abril de 2011

5 meses


Já não o via desde que regressei dos EUA. Cinco meses de gente. Irreconhecível. Os olhos seguem-nos com ânsia de ver. E esta Tia surpreendida: no pasmo de o ver começar a usar a capacidade preênsil e o polegar oponente que nos distingue como espécie. Não tenho linguagem de bebés e dizer que o meu sobrinho já faz coisas imanentemente humanas não deve ser, presumo, a coisa mais querida a dizer, talvez outros digam que já pega na chucha mas eu fico tão em extâse por estas vitórias que vejo ocorrer em tão pouco tempo de um Tempo que corre tão célere, que fico sem saber como verbalizar o surpreendente de ver Alguém crescer.


No resto, só mesmo o pasmo pasmado de como é que a criatura já pesa 9 quilos e tal e veste a roupa que só deveria vestir em Novembro que vem...

8 de abril de 2011

Estará tudo bem...


Sim, acho que estará tudo bem enquanto, no meio do turbilhão que nos assola no colectivo, eu continuar, como ontem, a chegar a casa já noite feita, cansada, e cheirar a relva cortada no jardim que me cuidaram enquanto eu estava ausente. Engraçado como o nosso universo se mede por coisas tão prosaicas. Hoje de manhã saí para os afazeres também prosaicos de dona-de-casa que me aguardam à sexta-feira. O cheiro a relva cortada permanecia no ar. Fresco na sombra da manhã borrifada de orvalho. Penso como precisamos de tão pouco para ser felizes. E, no entanto, este pouco é, só por si, um enorme privilégio, uma raridade, um muito. Penso nos japoneses fustigados pela catástrofe, nas pessoas sufocadas neste país à deriva e governado por celerados e penso que estamos todos presos por cordéis. Basta um nada para tudo se desmoronar. Talvez precisemos de tempos destes para nos apercebermos do que temos e do que somos. Por mim, dou graças e peço para que este cheiro a relva cortada neste meu mundo murado permaneça sempre no ar. E peço a lucidez para nunca me esquecer de apreciar o quanto coisas mínimas destas são tão gigantes ou como me fazem feliz.

No resto, peço para ser a Mulher que tem conseguido manter este mundo de relva aparada tal como ele é...

6 de abril de 2011

Saúdo o gajo que convenceu o Sócrates

... e se sujeitou a levar com um telemóvel arremessado à tola por entre uma chuva de impropérios. Só assim imagino que 48 horas depois de ter dito "Não! Jamais!", o nosso Primeiro tenha acatado a ideia de que o FMI era uma inevitalidade fatal como o destino luso. Se não for esse o caso, então considero que temos sido desgovernados por um alucinado kamikaze dos destinos colectivos de uma nação que depôs nele a máxima confiança e da qual ele nem esteve à altura nem, tão-pouco, soube honrar. Se o FMI é bom ou mau para nós não interessa. Entre estarmos depenados sem o FMI ou estarmos depenados com o FMI, as penas ir-se-iam embora de qualquer maneira. Quem vive do RSI não vai notar a diferença. Quem é dono de fortuna, já a retirou do país. Restamos nós, os nós do costume que sempre, e de qualquer forma, iríamos e vamos pagar a crise, iríamos e vamos pagar aos credores, iríamos e vamos pagar ao FMI, iríamos e vamos pagar os ordenados do PM e da classe política, iríamos e vamos pagar as eleições. Sim, saúdo o gajo que hoje deve ter dito: - Sr. Primeiro-Ministro, é hora.

Descoberta recente

É, a PDI deve andar a fazer-me mal senão como é que eu explicaria gostar disto at this point in life. Parece a Carly Simon e é bom para tardes de escrita e neura com sol tão bom e eu tão aqui fechada e tão invejosa do meu cão Spotty esparramado à sombra da nespereira. Janis Ian, "At Seventeen".

Obama e Sócrates

Diz Obama: "Fazer algo de importante para o país nunca foi obra de uma só pessoa" (lido no Diário Económico de ontem). O que é que o nosso PM poderia dizer assim nesta linha de raciocínio? Hmm... talvez substituir "importante" por trágico.

4 de abril de 2011

O Benfica fez o quê?!

Pôs o Porto a festejar às escuras enquanto era bem regadinho? Começo a acreditar que da política ao desporto anda tudo esparvoeirado. Então isso é lá coisa que se faça?! E os juros acima dos 10%, boa! E a Refer e a CP devem quase dez mil milhões de euros? Como é que escreverá esse número em números: 10.000.000.000, será? Acho que nem o FMI nos pode valer... Onde é que andam os homens e mulheres de inteligência deste país?

A PDI, o sável e a alimentação saudável


Isto é tudo uma injustiça.

Dia fantástico. Sítio fantástico. Almoço fantástico. Etc. fantástico. E passo o serão a tomar chá de Príncipe (que era o que a Mãe nos dava em pequenas quando estávamos mal-dispostas).

Tanto que me apetecia sável frito. Nem sei porquê, coisas de apetecimentos inusitados (deve ter sido por causa de uma reportagem que vi na TV). Sável seja. E foi. Frito. E eu nunca como fritos. Só três rodelinhas. E mais umas batatinhas deliciosas: fritas às rodelas (que nem pertenciam ao sável, mas a gula tem destas coisas).

A minha teoria é:


Tanta alimentação saudável, nem fritos, nem sal, nem alimentos processados e o resultado é que o organismo deixa, com certeza, de ser capaz de se dar bem com as coisas a que não está habituado. Acho que só voltarei a ter um apetecimento destes daqui a pelo menos dez anos.

Ai se não fosse o chá de Príncipe...

2 de abril de 2011

Já 20 anos?!

1991. Regresso à Alemanha depois de ter decidido ser portuguesa. Vou estudar. Eichstätt. Baviera. Não os percebo. Não falam o alemão em que eu nasci. Eles percebem-me no meu não-sotaque e pensam que falo a língua deles. Quando regresso a Portugal mais tarde levarei dias a acordar perdida sem saber em que língua vou falar nesse dia. Komish (estranho)... Hoje ao estacionar o carro não desligo logo a rádio. Passa esta canção e dizem que já lá vão 20 anos. Como é que vão 20 anos?! Isto foi ontem! E eu ainda vou dentro dos 30s! Não podem ser 20 anos! Como é que eu estava na faculdade há já 20 anos?! Como é que eu posso ter memória adulta há 20 anos?! Mas sim, são 20 anos. E o que acontece é que algures perdi o Tempo. Há um hiato que me desliga de há vinte anos. O hiato em que a Mãe aguardou a morte seguido pelo meu não-casamento. E isso combinado não anda longe desses 20 anos que me dou conta não ter vivido. Eu não vivi durante quase 20 anos. Vinte anos... É tempo, muito tempo. Tempo demais numa vida tão curta. Talvez por isso, neste viver novo, eu tenha a vida que já ninguém tem nesta idade. Talvez por isso eu pense que tenho ainda a vida toda e toda à minha espera nesta independência que recusa grilhões e decisões para sempre. Veio tarde talvez, ou talvez na hora certa, mas a liberdade do Tempo foi a minha maior conquista. Sim, são mesmo 20 anos: ainda bem que já passaram.

1 de abril de 2011

O meu filme do ano

Vai com um atraso monumental. Nem sabia que existia. "Das Leben der Anderen" ou "A Vida dos Outros" que ganhou o Oscar para melhor filme em língua estrangeira em 2006. Arrebatador e o melhor filme em língua alemã que conheço, melhor mesmo que "Der Untergang" (2004), o filme de onde toda a gente tira a cena do Hitler que goza o Sócrates e o Futre e as Scuts. Ainda pensei desistir durante as primeiras cenas, levada pela ideia feita de "Ó, mais outro filme sobre o passado torturado..." Mas depois não, não é mais um filme sobre o passado torturado, sendo, afinal, mais um filme sobre esse passado torturado de que os alemães não se conseguem curar. Genial, um script anti-Stasi que se baseia tão-só na noção de "ein guter Mensch" (uma pessoa boa), a redenção cinematográfica de que, no meio do Mal que superveio à Alemanha, sobretudo à Oriental, alguma coisa humana, no que o humano tem de imanentemente bom, deveria ter acontecido. É filme sim, mas todo aquele Mal precisa ser expurgado do colectivo para o individual. Amei!