30 de novembro de 2012

Dia de um Prof. universitário

Acho que, nestes dias loucos e insanos, muita gente se deve perguntar que coisas faz esta classe tão estereotipada e mal amada e ainda menos conhecida. Vejamos:
- 7.30 (da manhã, claro) - chego à faculdade;
- 7.30-8.15 - ponho mails em dia que me chegaram durante a noite de outros fusos horários;
- 8.15-9.45 - dou a primeira aula do dia;
- 9.45-10.00 - tomo café que também mereço;
- 10.00-11.00 - reunião;
- 11.00-12.50 - trato de expediente (recebo alunos, tento concentrar-me num orçamento em dólares e respectivas folhas Excel, atendo o telefone, faço chamadas, leio uma legislação urgente porque também estou a preparar burocracias e stresso);
- 12.50-13.20 - almoço (packed lunch que trouxe de casa);
- 13.20 -13.30 - lavo os dentes e componho-me para a tarde (convém, não é?);
- 13.30-15.00 - dou mais uma aula (turma particularmente gigante);
- 15.00-15.30 - vou buscar o dossier da minha mestranda que vai defender tese, encontro-me com o júri, certifico-me de que tenho tudo e chego uns minutos antes da defesa à sala para ver se está tudo em ordem;
- 15.30- 16.40 - sou presidente de júri e orientadora da mestranda que defende a tese (é aprovada e respiro de alívio por outro trabalho concluído);
- 16.40-17.00 - levo o júri para tomar café (a boa educação ainda é o que era e a cordialidade ainda é o que me caracteriza);
- 17.00-18.00 - tento voltar às folhas de excel, ao orçamento, abro mais milhentos mails, peço pdfs, confiro documentos urgentes, stresso;
- 18.00-19.30 - dou nova aula (turma mega-gigante que só cabe em anfiteatro);
- 19.30-20.00 - recebo alunos de pós-laboral no meu gabinete, tiro dúvidas, mostro testes a quem faltou, já vi que não vou ter tempo para voltar aos documentos abertos no computador, desligo o computador;
- 20.00-22.00 - dou a última aula do dia (turma de mestrado e gente tão cansada como eu mas todos fazemos um esforço por sorrirmos e falarmos e aprendermos uns com os outros);
- 22.00-22.10 - desço o elevador para a garagem com um aluno de mestrado que aproveita para me falar de ideias que teve para tese;
- 22.10 - finalmente meto-me na carrinha e regresso a casa;
- 22.50 - chego a casa, a fome passou-me há muito e não tenho espírito para jantar; faço zapping para descontrair e não me apercebo das horas a que me deito. Amanhã há mais: há as folhas de excel, há o orçamento, há os documentos com estatutos para continuar a redigir, há aulas para preparar, testes para fazer, mails por abrir, urgências, pendências. No meio, a falta de tempo para a investigação, os dois capítulos que duas editoras estrangeiras me pediram com prazos para ontem, os orientandos, e tudo e tudo.
Isto, para quem não sabe, é a vida de professor universitário. Nada de privilégios, nada de suavidades contemplativas, muito stress, muitas responsabilidades, muito pouco tempo. Se vale a pena? Ainda há uns de nós que gostamos apesar dos imensos apesares...

28 de novembro de 2012

A minha impressão

E o que é que eu achei do tour gastronómico do Bobby Chinn por terras lusas (se é que eu tenho de achar seja o que for)?
Achei que, comparado com o grande guru Anthony Bourdain (que eu, por acaso até amo), deu uma impressão bem mais cool e positiva de Portugal, dos portugueses e de Lisboa.
O Anthony Bourdain veio cá com intenções intelectuais. Reuniu-se com o Lobo Antunes, com a Carminho e com os Dead Combo e o que deu foi a imagem de um povo nostálgico, pessimista, imerso num saudosismo crónico, mal saído da ditadura, ferido pela guerra colonial e a atravessar uma crise de mega-proporções. O Bobby Chinn, por seu turno, só filmou sol. Embarcou pela grandiosidade de um povo que fez uma globalização há quinhentos anos, que abriu os palatos europeus aos sabores do mundo inteiro, que domesticou o mar e que gosta de se divertir. Não falou de crises, de pessimismos, não se deu ao fado mais do que o necessário para dizer que cantamos a melancolia. Quis o que de mais pujante nos define. Não houve intelectualidades à mistura com garfadas em latas de conserva.
Por mim, prefiro o Portugal do Bobby Chinn à Lisboa do Bourdain. Gosto de um, gosto do outro. Mas acho que precisamos mais de quem nos faça subir o ego.
Thank you, Bobby. I love you more.

26 de novembro de 2012

Lisboa, Bobby Chinn, Travel Channel

Em Agosto apanhei o Bobby Chinn a gravar em frente aos Jerónimos. Ainda lhe gritei "I love you!" só para o ouvir gritar de volta "I love you too!" com aquele ar meio marado que o caracteriza. Estranhamente ninguém o reconheceu (ou seja, a malta não liga nem ao Food Network nem ao Travel Channel). Vai-se a ver ele estava mesmo a filmar um episódio sobre Lisboa para a sua série do Travel Channel "Planet Food". O episódio vai para o ar esta Terça-feira às 18.00 e às 23.00. E há as repetições na Quarta às 12.00 e no Sábado às 9.00. Eu, por mim, já pus a gravar. Sempre estou para ver as maluquices do tipo aqui pelo burgo.
Way to go, Bobby!

24 de novembro de 2012

Ovos e Raffaellos

Isto de viver no campo tem destas coisas giras como receber 15 ovos caseiros com bombons Raffaello à mistura. E é assim: uns dão-me couves e pimentos, outros dão-me maçãs e romãs, há quem me dê pão e abóbora e tomates e feijão verde e uvas e tangerinas, courgettes e ameixas. Os sociólogos chamam a isto exemplos de capital social. Eu só sorrio...

21 de novembro de 2012

Ainda o (des)Acordo

Congratulo-me que haja gente com voz pública contra o Novo Acordo Ortográfico. Louvo o Vasco Graça Moura, o Miguel Sousa Tavares, o António Feijó e os outros e outras que lhe resistem. Não é que eu seja contra só por embirrar com a mudança. É, pura e simplesmente, porque acho uma palhaçada a imposição formal e legislada de mudanças numa língua. Onde já se viu que o Inglês se vá harmonizar, logo o Inglês que tem dezenas de variantes? Quem, no seu juízo, se lembraria de acabar com o Caribbean English, o Australian English ou mesmo as variantes mais exóticas do Spanglish e Chinglish e assim perder a riqueza que emprestam à Língua Inglesa no seu todo? Porque é que nós temos de dar uma marretada numa língua milenar que, mesmo sem Novos Acordos, acabaria, e acabará sempre, por evoluir por processos naturais? Porque é que precisamos desta palermice enjeitada e disforme?
Pasmo com os cérebros da língua portuguesa como pasmo com os cérebros da política à portuguesa que permitem semelhante barbaridade. Quem é esta gente face à Língua que estropiam tão impunemente? Mas quem se julgam perante os falantes de Português?
Subscrevo o que o Vasco Graça Moura escreve hoje no Diário de Notícias: "estão a ser aplicadas não uma, mas três grafias da língua portuguesa. A correcta, em países como Angola e Moçambique, a brasileira (no Brasil) e a pateta (em Portugal e não se sabe em que outras paragens)." E dou-me por feliz que a minha escrita académica, o que escrevo e publico, seja feito em inglês. Já publiquei em American English, já publiquei em British English e até já publiquei em Australian English e nunca me incomodou dar atenção a uma ou outra grafias. Não senti jamais uma qualquer irritante necessidade de homogeneidade dessa língua que falo no meu quotidiano. Porque é que tem de ser assim com a língua que eu tive de aprender aos seis anos para me socializar neste país e que, entretanto, aprendi a amar e a compreender na sua grandiosidade? O que é que de tão errado tem esta Língua que precise de génios iluminados a esquartejá-la e a forçá-la àquilo que não é? E se dissessem ao Eça, ou pior, ao Ramalho, para escreverem com o Novo Acordo? E se dissessem ao Machado de Assis ou ao Jorge Amado para escreverem à portuguesa?
Pasmo... E irrito-me.
A crónica de Vasco Graça Moura aqui

19 de novembro de 2012

Tardes de cozinha

Não é que eu goste particularmente das artes culinárias ou pense, como a Nigella, que cozinhar me acalma mas acho sempre surpreendente de cada vez que me acontecem culinárias, como este Domingo. A tarde inteira na cozinha a preparar a semana: tarte, pizas, soupa. Estive das 3 às 7 da tarde entre tachos, panelas e forno, uma maratona. Valeu a pena. Fiquei com a semana mais ou menos despachada no que às vitualhas diz respeito e, confesso, é um descanso chegar da faculdade noite dentro e ter coisinhas boas já prontas à minha espera. A vida doméstica é, deveras, um tratado.

15 de novembro de 2012

VOU TER OUTRO SOBRINHO!!!!!!

A Mana está grávida outra vez. Vou ser super-Tia outra vez. O Pai vai ser avô outra vez. Vamos usar o plural: os meus filhos, os meus sobrinhos, os meus netos. É essa possibilidade de vocabulários novos que me fascina. Não vamos morrer no singular.
Não me sinto meio estranha como quando foi aquando da notícia que vinha aí o meu sobrinho Manel. Agora é tudo muito mais brando. Civilizado, diria. Não há aquela expectativa da mudança, do que éramos como família e do que iríamos ser doravante. Vem aí um bebé novo e sinto o coração num banho-maria morno. Estou tão feliz...

14 de novembro de 2012

Para o dia de hoje em particular

Vou trabalhar (muito). Vou ao ginásio. A banda sonora para hoje é Maroon 5, "Wake up call". Vou às compras. Vou fazer uma tarte e uma piza. Vou estar contente por haver sol. E acho que é tudo.

12 de novembro de 2012

O que me irrita na histeria anti-Merkel

Irrita-me que sejamos tão solícitos no nosso servilismo. Irrita-me que estejamos sempre a precisar dos outros para nos salvarem de nós próprios e dos nossos desatinos. Irrita-me que sejamos um país infantilizado e auto-amesquinhado. Irrita-me que tenhamos medo e que achemos sempre que há nações melhores e mais fortes que nós. Sim, também me irritam os brandos costumes. Mas, lá está, eu sou alemã na mesma medida em que sou portuguesa.
Claro que me irrita ver a Chanceler Merkel aqui metida. Acho mesmo que hoje enxovalhamos a nossa soberania. Mas somos nós, principalmente, os responsáveis por este capítulo que agora vivemos colectivamente.
Demonizamos a Chanceler, como demonizamos os alemães, porque desse modo nos esquecemos das nossas fragilidades. Os bodes expiatórios são sempre muito convenientes quando nos queremos esquecer de coisas que nos magoam porque partem de nós.
Irritam-me as reportagens ridículas sobre os alemães que vivem em Portugal e sobre os portugueses que foram para a Alemanha, como se essas generalizações nos dissessem que os alemães, afinal, não são assim tão maus, nem os portugueses assim tão inferiores.
Irrita-me ter vergonha de ser portuguesa e ter vergonha de ser alemã porque não há meios termos nestes dias conturbados em que vivemos. Se sou portuguesa tenho de lidar com o paternalismo dos outros que nos pensam uns coitadinhos dentro da Europa. Se sou alemã, sou um papão igual a todos os alemães, uma coisa fria e insensível.
Sim, hoje estou bastante irritada porque a Europa unida do pós-Guerra foi apenas uma utopia.

Frau Merkel, bitte verstehen Sie,

dass wir nicht Deutschland sind.
Danke und aufwiedersehen.

10 de novembro de 2012

Murteira

Não sou nada dada a jardinagens mas, de vez em quando, gosto de ver as faces novas que o jardim vai pondo com as estações. Agora é a vez de a murteira estar carragada de bagas azuis. A Mãe é que a plantou mas lembro-me de ir com ela a um viveiro escolher plantas e termos trazido a murteira porque lhe lembrava a infância e ela gostava das flores delicadas de murta. A mim lembra-me Ela... 

9 de novembro de 2012

Sair da hibernação

Aconteceu-me por ser teimosa e achar que, como sou muito fit, nada me toca. Aguentei estoicamente 38,5º de febre a pensar que não era necessário nenhum comprimido. Tentei tratar o que me parecia uma dor de garganta esquisita a Mebocaínas. Aguentei Sábado, aguentei Domingo, aguentei Segunda, Terça até fui dar aulas das 8.15 às 19.30. Claro, na Quarta rendi-me às evidências de que havia algo bestialmente errado. Não vou dizer as barbaridades que o médico me chapou na cara porque concordo que devo ser bastante idiota. Lá tomei um antibiótico que me deixou mais mal-disposta do que eu já estava. Gramei com anti-inflamatórios, anti-piréticos e o arsenal todo anti-afonia. Na Quinta fui dar aulas das 8.15 às 22.00 porque, lá está, a idiotice está-me no sangue e só agora começo a emergir para um estado de vida minimamente parecido com uma coisa normal.
Parece que o país continua na mesma. Parece que a Isabel Jonet andou a dizer umas coisas entre o paternalistas e o esgrouviadas. Parece que a segurança da Merkel vai envolver  o fecho do espaço aéreo. Parece, afinal, que vivo num país num estado de virose pior do que o meu.

6 de novembro de 2012

Tia super babada

O meu sobrinho Manel entrou no colégio em Outubro e chegou agora o primeiro report. Está em inglês mas é qualquer coisa como:
- O Manel é o cartão de visita da sala dos dois anos;
- É o primeiro a ir dormir e o último a acordar;
- É quem come melhor;
- Já entende o que é time out;
- É carinhoso mas não mede a força que tem (ou seja, é um carinhoso meio abrutalhado, benza-o Deus).
Em suma, a Tia está que não pode de tão cheia de sorrisos. Way to go, Manel!!!

5 de novembro de 2012

Ter febre sózinha

Gosto muito da minha vida aqui no meu casarão que era dos meus pais. Mas apanhar uma gripe de caixão à cova com 38,5º de febre (coisa que já nem me lembrava o que é) e estar aqui sózinha neste mausoléu é obra. Teve momentos em que só pensava: "E se eu caio das escadas abaixo?" ou "E se morro aqui sózinha só daqui a dias é que me encontram".
Bolas que esta coisa de ter febre não é nada agradável...

3 de novembro de 2012

Tribunais têm 1,7 milhões de processos parados

Dois são meus. Entraram em 2008 e só pedem uma coisa: divórcio.
E depois o Ministro das Finanças ainda diz que descontamos pouco para os serviços do Estado de que beneficiamos. Pois...
Aqui.

2 de novembro de 2012

Pão por Deus

Não sei se é sinal dos tempos mas este ano bateram-me à porta muitos mais meninos a pedir o pão por Deus do que é costume.