24 de maio de 2013

Detestei deixá-lo

Hoje fui pela primeira vez levar o meu sobrinho ao colégio. Ainda me está a doer.
O pai precisou ir de urgência a Bilbau e a mãe teve a Margarida há menos de duas semanas e não pode andar com um peso de dois anos de gente e quase vinte quilos em bolandas de entra e sai de carro. A Tia entrou ao serviço. Tudo bem. Cheguei a Lisboa de madrugada quase manhã depois de um drop off no aeroporto. O Manel dormia e deixei-o dormir sem horários até que ele acordou às 7.30. Preparei-o para o colégio com a ajuda da mãe. No caderno dos recados os pais escreveram que a Tia o ia buscar à tarde e puseram-lhe uma cópia gigante do cartão de cidadã da Tia por via das curvas. Lá fui toda contente por levar, sozinha!, o miúdo ao colégio.
Detestei.
Detestei deixar o meu sobrinho. Estava sossegado. Entrou na sala dos Honeybees, que é sala dos meninos da idade dele, e não me desprendeu logo a mão. Fê-lo suavemente a ensinar-me como se faz, eu que ali estava realmente sem saber o que se faz. Quando dei por mim em consciência estava a explicar à ama que nos recebeu o que levava na mochila do Manel, como se ela nunca tivesse visto a mochila de todos os Manéis que lhe passam pelas mãos.
- Sim, Tia, já percebi o recado. - Disse-me paternalisticamente com um miúdo ao colo que chorava pela mãe e um biberão que ele não queria porque chorar lhe era mais importante. À volta havia mães que só abriam a porta, despejavam os filhos e saiam para mais um dia. Nelas, a operação não levava mais de 5 segundos. Tudo me pareceu confusamente rotinado.
Olhei à volta e vi o Manel sentado num colchão com outros meninos. Sossegado olhava para mim. Não sei se pensava no que eu estaria ali a fazer ou se estava com saudades ou se não quereria estar ali. Fiquei sem saber se lhe havia de dizer adeus ou se isso o ia perturbar e ele começava a choramingar. Não disse adeus mesmo sabendo que o Manel não é de choraminguices.
Custou-me horrores.
Lembrei-me do que detestei aqueles três meses de creche forçada antes de ir para a escola. A língua estranha que eu mal falava, as rotinas, a ausência da Mãe. Ao pensar em mim senti-me infeliz pelo Manel e pensei coisas parvas como se não vivesse neste século desejando a caverna em que ninguém se afastava de ninguém.
Que bom que logo vou buscar o Manel e quem sabe se não o levo a passear...

(E isto tudo para dizer que se me dissessem que algum dia eu ia sentir estas coisas, eu não acreditaria).

2 comentários:

ME disse...

Afinal de contas o "instinto maternal" está lá todo! Bela história!

Goldfish disse...

Eu acho que um "Até já!" sussurrado ao ouvido faz milagres, creio que serão reminiscências de um passado meio recordado, meio sonhado.