28 de junho de 2013

15 anos

Três lustros. Parece hoje. Parece ontem. Continua estranho, Mutti, que não estejas aqui.
Tentamos o equilíbrio constantemente mas esta amputação de Ti permanece gigante mesmo que a silenciemos para fingirmos que está tudo bem. Comecei a falar de Ti ao Manel. Desde que morreste que me assomou a preocupação de falar de Ti aos filhos que eu pensava ter, aos sobrinhos que eu pensava ter. Como é que as novas gerações de nós te iriam ver, como é que eu lhes daria a conhecer de Ti? queria tanto que eles amassem a Avó deles como eu e a Mana te amámos. E tenho tanta pena, no que a pena tem de vazio, que os teus netos não conheçam a Avó maravilhosa que têm.
Não te dei netos, Mãe. Não te apresento aos meus filhos mas revejo-te nas parecenças que o Manel tem contigo e apresento-te a ele nas poucas fotografias em que te emoldurei porque não posso viver num mausoléu lúgubre e tento a cada dia que a alma se não me afunde em saudades de Ti.
- É a Avó Vina. - Digo ao Manel quando ele passa pelo móvel em que nos exponho como família. Ele já nos reconhece. Reconhece o avô, a Tia, a Mãe e esta pessoa que se chama Avó Vina e que eu ainda não disse que está no Céu.
Sabes, Mutti, não lhe quero dizer fanchonices como essa de que a Avó está no Céu. Isso não diz nada. Isso é uma infantilidade. Quero dizer-lhe de Ti sem eufemismo. Primeiro talvez lhe diga que a Avó Vina não está cá. Depois, não sei quando, vou dizer-lhe porque é que não estás cá. e o que eu mais quero, Mãe, é que ele te ame e é isso que eu não sei em absoluto como vou fazer. Como é que se ama sem se conhecer? Penso que ele vai entender tudo e saber quem és mas daí até ao amor vai uma grande distância. Ele nunca te sentiu o calor das mãos que tinhas sempre tão quentes. Nunca te ouviu cantar e rir. Nunca se sentou ao teu colo. Nunca foi para o colégio pela tua mão. Como é que ele te vai amar? Penso que te estimará pelo que lhe falarmos de Ti e porque te amamos, não sei, porém, se te amará como eu egoistamente desejo, porque, Mãe, eu não sei outra coisa que não seja amar-te.
E depois de falar de Ti ao Manel há a Margarida. Vou repetir:
- Esta é a Avó Vina. - Quando passar com ela pelas tuas fotos. Falar-lhe-ei de Ti com o que aprender falando de Ti ao Manel. E vai ser assim, Mãe, a vida na continuação desta amputação que me custa horrores, que escondo de nós e de mim, porque, independentemente de passarem hoje quinze anos, eu não consigo que a tua ausência me doa menos.

Minha querida Mãe que falta me fazes e que amor eu te tenho...