28 de abril de 2013

Fixei da Marisa Monte

"Saudade não é só quando a gente sente a falta. Saudade é também quando sente a presença."
                                                                                    Marisa Monte, Lx, 27 Ab. 2013.

Presença...


26 de abril de 2013

O meu 25 de Abril

Nunca comemorei o 25 de Abril. Em primeiro lugar porque não considero que se deva comemorar algo que são direitos inalienáveis dos povos: liberdade e democracia. É inato à condição humana e ponto final. Em segundo lugar, porque o 25 de Abril me lembra os abusos cometidos em nome da liberdade, a liberdade que não reconhece que a minha pára onde a do Outro começa, a que a minha família se viu sujeita nos dias tumultuosos que se lhe seguiram e de que nunca ninguém fala. A casa vandalizada. O carro do Pai vandalizado. Escreveram-lhe "fascista" na pintura e atiraram-lhe um tijolo aos vidros quando ele teve o azar de ir a uma reunião aos Estaleiros de Sines. Tempos duros.
Ontem, não foi excepção. Não comemorei nada. Trabalhei até às quatro e meia da tarde. Depois fui caminhar por estes campos. A estação mudou e há mantos relvados e flores bravias em cada nesga de chão. Vento ameno de sol morno. Esse foi o meu 25 de Abril. E essa, entendo, é a minha suprema liberdade: poder fazer da vida o que me apetece.
Porém, ontem pensei na data. Vejo a democracia e a liberdade a escoarem-se por entre uma sociedade definhante e esboroada. Palavras vãs, todas. Cravos encarnados como meras decorações obrigatórias de lapelas. Aceitamos políticas não sufragadas. Vivemos sob a canga como em outros tempos. A Europa manda. A Economia manda. O baronato financeiro manda. Mas o povo, não o povo do conceito esquerdista, mas nós, uma nação de gente que se perde na História e criou um país, não manda nada na nação que ergueu contra Mouros e Castelhanos, contra ditaduras e crises sem fim. Nós estamos perdidos em parte incerta. Talvez precisemos mesmo de um novo 25 de Abril e ontem não foi nada que até a memória do 25 de Abril já perdeu a força.

25 de abril de 2013

Completamente esquecida

Esquecida por completo, a data. Eclipsado do meu pensamento, o acontecimento. Lembrei-me apenas por um instante durante o dia quando tive de assinar a data. Depois evaporou-se. Voltaria a lembrar-me de forma mais consistente já o dia se transformava noutro. Conscientemente comparei felicidades. A mesma data com catorze anos de intervalo. Ontem fui incomensuravelmente mais feliz do que há catorze anos.
Ainda pago o preço da fugacidade e da felicidade enganadora daquele dia mas já consegui esquecer que aquilo existiu. Mal sei quem era a criatura que se deu àquilo no meio dos cacos que a perda maior tinha deixado. Talvez tenha sido uma fuga para a frente. Andar com a vida no botão fast forward para esquecer aquela amputação e aquela forma de vida irreconhecível com que nos defrontámos. Seja como for, não quero lembrar-me porque me dói: a perda, sempre, e o passo mal dado. Perderia mais ainda do que achava ter perdido mas a verdade é que sem tudo aquilo, ontem não teria existido. Como não teriam existido dias no entretanto, dias que validam saudades futuras.
A Mãe está sempre lá quando eu estou mais feliz. Ontem a Mãe esteve lá, no Demis Roussos e nos Abba, mas foi só por coincidência, daquelas que não existiam na outra existência evaporada. Mas ontem não valeu só pela Mãe, que me passou pelo coração apenas como brisa. Ontem foi a antítese feliz de um dia passado há catorze anos. Que eu tenha vivido para viver essa data no esquecimento é glória. Ámen.

22 de abril de 2013

Ia assim todos os dias

Não sei se foi do sol ou do azul. Não sei se foi por já estar ameno ou porque ouvi aquela canção. Talvez fosse porque acho que ouvi a Mãe, como acho que a ouço às vezes. Sei que fui movida a esperança. O trânsito não me chateou, nem o país, nem as notícias, sempre tão "down". Gostaria de ir assim todos os dias: energizada por sensações auspiciosas, como se algo vá ou fosse acontecer.
Depois veio o dia e as suas incomensurabilidades. Mas aquele pedaço de estrada, o dia, o sol, o ameno e o azul, a canção e a Mãe valeram pelo infinito.

19 de abril de 2013

Para o ano há marmelos e eu espero o telefonema

 
O marmeleiro está em flor. Em finais de Setembro farei marmelada. Há sol e eu espero a cada dia o telefonema a dizer que a Margarida nasceu e que temos um bebé novo em casa.
Antecipações doces...

17 de abril de 2013

Mais um passo em direcção à civilização

A Inglaterra aprovou uma lei que proíbe, a partir de 2015, animais selvagens nos circos. Em Portugal, desde 2009 que os circos não podem comprar novos animais selvagens, falta a proibição total. Ainda temos de nos desligar desse século XIX, quando eram comuns os tours de espécimes exóticos, fossem humanos ou animais vindos das fronteiras remotas dos diversos impérios, para que nos tornemos homens do século XXI. Assim como falta deixarmo-nos de sentimentos de supremacia sobre as feras, que nos acompanham desde a caverna. Já domesticámos o mundo o suficiente para não sermos comidos por elas, vai sendo tempo de as deixarmos em paz.
Aqui.

14 de abril de 2013

Primavera aqui

Aqui pelo campo a Primavera já se vai instalando. E ontem fui e fizeram-me feliz quando me mostraram mais pedaços deste meu campo ancestral que ainda desconheço olimpicamente.
Risos. Morangos sem acidez. Casas de luz e vielas íngremes de uma vila presépio. Amizades de anos que se reinventam agora, e à medida, que a minha vida se vai reinventando. Gosto do que reinvento. É como se, finalmente, o passado se me fosse escorrendo e eu abra os olhos para um presente que tem vindo lento e em solavancos.
Acho que tenho medo da felicidade porque ela sempre se me desmoronou. Ontem, porém, só pensei no ontem e dissipei nuvens que me pudessem indicar que até estes momentos se evaporam. Ontem pensei só que vou ficar com estes momentos: os risos, o sol e o carinho. Talvez que, por fim, eu esteja a ficar mais à vontade com o presente e me repita que posso tê-lo e, sobretudo, que posso gostar de tê-lo (tal como gosto imenso de vos ter na minha vida).

12 de abril de 2013

Enjoei café

O meu problema é que adoro café. Não a bica portuguesa. Adoro o que os portugueses chamam de baldes de café. Adoro café americano, long coffee, moca, de preferência. Bebo litros do dito durante o dia. Não consigo começar o dia sem uma bela chávena de café preto sem açúcar, bem fumegante. Adoro café como a Mãe fazia: com um fio de Sahne ou um fio de leite condensado. Tenho sempre café feito. Isto é: a vida era assim até há duas semanas quando entrou aqui um vírus que achou que este corpinho esbelto era um hospedeiro porreiro e eu enjoei comida e, muito particularmente, café.
Como é que se pode enjoar café? Eu quero voltar a gostar de café. Quero as minhas malgas gigantes de volta. Bicho desgraçado!

Estou a ficar doida de tão enjoada de café. É que nem o cheiro de café consigo imaginar sem me dar volta ao estômago. Quero café!!!!!!!

10 de abril de 2013

O despacho do Ministro das Finanças

É infame o despacho, mas ao menos está escrito em Português sem a outra "infamidade" chamada (Des)Acordo Ortográfico.
Não é hilariante?

7 de abril de 2013

Vem aí a política da vingança

O Tribunal Constitucional é um excelente bode expiatório para um governo que não sabe governar mas está convencido de que sabe. Virá agora o discurso dramático da vitimização, da atribuição de culpas a um órgão que mais não é que um fiscal. Virão agora as desculpas para as políticas de terra queimada num país que já pouco tem que arda. O desvario que se avizinha encontrou justificação no chumbo do Constitucional.
Temo.

4 de abril de 2013

Está tudo histérico

Eu não tenho de ficar contente porque, numa vez sem exemplo, o sistema tenha agido com lisura neste Portugal descaído. Eu ficaria contente sem casos como o de Miguel Relvas. Ficaria contente se a classe política se destacasse pelo exemplo ético-moral. E mais contente ficaria sem a chico-espertice que nos (des)governa.

Como professora, envergonhei-me muitas vezes por ter alunos com anos e anos de experiência profissional a virem às aulas em pós-laboral todos os dias só porque não são políticos.

Como pessoa, enoja-me o que uns de nós estudámos e o que outros se riem porque nós estudámos e eles não precisaram.

Que esta andorinha não nos trará a Primavera, claro que não.

3 de abril de 2013

O pior do pós-Páscoa

O pior depois da Páscoa é ver-me com uns literalmente estonteantes 38,8º de febre, meter-me na carrinha e ir ao hospital da minha zona. Dezoito euros depois tenho a triagem feita e uma pulseira verde. Já estou sentadinha a pacientar que chegue a minha vez e eis senão quando oiço no altifalante que senhas verdes têm uma espera de três horas até serem atendidas. Logicamente, a febre sobe-me mais à cabeça, agarro o que ainda resta de mim e fujo. Enfrento a auto-estrada às tantas da noite e chego à CUF. Quarenta euros e quinze minutos depois já me fizeram a triagem, um médico já me receitou quilos de drogas maravilhosas para me baixar a febre e já posso regressar a casa. Faço os quarenta e tal quilómetros de regresso, passo pela farmácia e ainda chego a casa antes de ter sido consultada no primeiro hospital onde tinha ido.
Dito isto, há coisas que me irritam bestialmente no nosso Serviço Nacional de Saúde: a inoperância é uma delas. Não são os quarenta euros na CUF que me custam pagar, são os dezoito num hospital já de si pago com os meus impostos. 

1 de abril de 2013

O melhor da minha Páscoa

O melhor da minha Páscoa foi ter dado o maior tralho da minha vida e ter vivido para contar a história. Como é que não me matei e não me parti em fanicos é uma incógnita e uma sorte do caraças!
O melhor da minha Páscoa é um Manel e uma barriga grande de Margarida (isto de ter sobrinhos é uma alegria).
O melhor da minha Páscoa foi saber que numa residência de idosos alemães no Estoril fizeram uma das receitas deste blogue (esta) e a coisa foi um sucesso (Danke e Obrigada a quem teve a ideia).
O melhor da minha Páscoa é ter quem cuide de uma Blonde semi-entrevada depois de queda estrondosamente monumental no empedrado do jardim sob chuva diluviana:)

Porque a Páscoa é uma época de milagres.