22 de julho de 2013

Em tempos de guerra não se limpam armas




A Mãe tinha sempre um jeito de explicar o presente com uma série de adágios que lá lhe facilitavam as conversas. O "em tempos de guerra não se limpam armas" surgia-lhe em momentos de stress. Ela, que de modo habitual era a epítome da calma, reagia como eu às limpezas profundas: "Tirem-me deste filme!" E, nessas alturas, suspendia todas as suas actividades e dedicava-se em exclusivo àquela que lhe preenchia o pensamento na ânsia da conclusão rápida.
Assim estou eu. Quinze anos depois de Ela partir daqui revejo-me e sinto-me naquelas sapiências. Pus-me com obras em casa, na casa que era Dela, e suspendi a Vida. Não há tempo que não seja para o pó e a tentativa de ordenar o caos. Faço grandes taças de fruta que vou comendo ao longo do dia e ontem ao jantar estrelei os ovos de codorniz que me deram a semana passada. Tinha pensado fazer uma espécie de Eggs Benedict com uma receita que vi na net para ovos de codorniz. Desci à terra e desfi-los na frigideira no que ainda me resta de cozinha antes de voltar a ter cozinha.
A Vida é sublime no prosaico do quotidiano... (mas se me vejo fora das limpezas ainda julgo que é mentira).  

19 de julho de 2013

Caos!

Há dez anos que não mandava limpar a chaminé da lareira. Mandei.
Aproveitei mexer na lareira e mandei instalar um recuperador de calor última geração (made in Portugal para ajudar a economia).
Aproveitei que o caos se instalou na sala e mandei pintá-la (como se eu mandasse muita coisa). E já que uma sala ia ser pintada porque não a outra? E porque não a cozinha? E porque não os tectos? E porque não dar um facelift à porta de entrada e pintá-la eu mesma de azul ilhas gregas? É, de vez em quando dá-me destas fúrias e de todas as vezes arrependo-me do pó, do caos, da desarrumação brutal, das moscas em casa. Depois costumo gostar do resultado mas, neste momento, estou na fase do:
- Socorro, tirem-me deste filme!!

11 de julho de 2013

Como em Green Acres

Aqui neste meu campo, onde me vêem citadina, vai acontecendo de um tudo. Esta semana convidaram-me para integrar listas autárquicas, ofereciam-me a presidência da mesa não sei das quantas para a Junta de Freguesia. Um encontro pessoal e 30 minutos de telefone depois lá me consegui descartar ainda que me palpite que virão cenas de novos episódios.
O calor foi forte demais para o fresco a que estamos habituados e, de repente, até cacimba e neblina fria tivémos. E hoje deram-me ovos de codorniz.
Dão-me muitas coisas aqui. A terra dá e eu recebo em partilha dos vizinhos que estranham o meu quintal e o meu jardim serem coisas decorativas, que estranham eu não ter uma hortinha nos hectares que dou de cultivo a outras mãos. Então dão-me. E eu agradeço, de cada vez admirada com a generosidade. Hoje, na verdade, não foram só os ovos de codorniz. Foram ovos normais, pêras e maçãs e uma travessa de figos. Mas foram os ovos de codorniz a coisa mais exótica, ao nível de cabeças de nabo com casca preta que também já me têm dado.
Não sei o que fazer com eles e a net há-de ajudar-me. Seja como for, olho para eles e penso na série dos anos 60 "Green Acres" com a Zsa Zsa Gabor, e é isso: eu vivo em Green Acres e não poderia adorar mais.
Obrigada a quem me dá ovos de codorniz e nabos de casca preta.   

8 de julho de 2013

Vaga de calor




Uma vaga de calor. Um alguidar grande cheio de água. O relvado do jardim e sombra de árvores. Um fim-de-semana na casa da Tia. Felicidade!
Olho sem cessar para as fotos do Manel neste fim-de-semana. Sorrio em permanência. Não sei se teria dado uma boa mãe mas sei que dei a melhor super-Tia do mundo. Nunca pensei ter em mim fazer as coisas que faço com o Manel e pelo Manel. Ensiná-lo a andar de triciclo na rampa do quintal, encher alguidares de água para piscinas improvisadas à escala de mini-gente, fazer doces ao fim-de-semana e dar-lhe a colher de pau a lamber, fazer infusão de hortelã do canteiro para lhe lavar os olhos depois de ele andar a apanhar pó entre as folhas secas da nespereira. Agora invento de lhe tirar fraldas. Primeiro pus-me a ler artigos na net armada em intelectual de bebés, depois deixei-me disso e apliquei o método super-Tia: xixi na carpete da sala, xixi no puf marroquino que me deu um trabalho danado regatear em Fez, xixi no estofo da cadeira da mesa da cozinha mas havemos de chegar lá, ao xixi no sítio certo. E o método super-Tia há-de resultar.
Hoje perguntaram-me se eu tinha tido um filho porque não me viram grávida mas viram um menino a brincar no meu jardim. Também já me perguntaram duas vezes se eu tinha adoptado uma criança. Acho piada a que a sociedade veja uma mulher com uma criança e ache imediatamente que é dela por biologia ou adopção. Há mais formas de amar e há mulheres não-mães que se descobrem maternais.
O percurso de conhecer o Manel está a ser um percurso de me conhecer melhor. Caio nos clichés todos de sentir que não há nada melhor no mundo do que amar uma criança. E quando o Manel sorri realmente não há nada melhor na vida. Como nada há que se compare ao ouvir um espontâneo e sorridente:
- Tia Bá, I uóve you!
Eu nunca gostei de clichés e da sua banalidade. Hoje, devo-o ao Manel, sei que são sapiências humanas das palavras que faltam para as grandes verdades.
- I love you Manel!

E porque é que não se pode chumbar?

Feliz ou infelizmente já vou tendo idade para dizer o infame "no meu tempo..." e a verdade é que no meu tempo quem não sabia as matérias chumbava. Que eu saiba nunca ninguém morreu de chumbite. A malta repetia o ano precisamente para aprender o que não tinha aprendido. Era cruel? Demasiado medieval? Um trauma para os petizes? Acho que não. Agora os alunos têm todos de passar que é para me chegarem à faculdade e escreverem que estão no curso de "Recuços Humanos". Passam todos que é para as estatísticas da OCDE virem direitinhas e nós sairmos da trágica cauda da Europa mais que não seja por sabermos ler e escrever (que não sabemos mas isso é lá importante?). Por isso, pasmo quando leio nas notícias que "há 12.000 alunos do 1º ciclo (também não percebo qual era o mal da Primária para agora ser 1º ciclo) em risco de chumbar". Qual será o horror tremendo se houver miúdos que chumbem por não saberem ler e escrever e fazer contas no final da Primária?
é que não há meio de se acabar com o eduquês, caramba!
Aqui.

3 de julho de 2013

Começos parvinhos, fins parvinhos

Dois briefings depois acabaram os briefings.
Tiveram a inaudita e peregrina ideia dos briefings porque supostamente o Governo tinha imensas coisas que comunicar, agora que as há à pazada e em catadupa acabam os briefings porque, pelos vistos, não há nada a assinalar. Isto anda ou não anda tudo parvinho?
Aqui.

2 de julho de 2013

Desculpem, agora foi o Portas?

Uma pessoa mal tem tempo para respirar no intervalo de tão alucinantes acontecimentos. Como dizem os ingleses, este país não é para os "faint at heart", que é como quem diz, não é para pessoas facilmente impressionáveis. Porta-aviões ao fundo...

Histeria a mais

Claro que um Ministro das Finanças impopular em tempos impopulares só pode estar a prazo. Saiu ontem e daí? Claro que segundas escolhas não são primeiras mas toda a gente faz o papel e daí? E claro, num governo totalmente desnorteado composto por gente que de estadista não tem nada nascem ideias tão esgrouviadas como briefings diários à comunicação social.
Não fosse pelo enorme sofrimento colectivo que tudo isto implica, diria que nunca vivemos momentos políticos com tanto potencial para nos divertir.