24 de fevereiro de 2014

No país da parvoíce II: agricultura forfetária

De facto, se dúvidas houvesse em relação ao distanciamento dos políticos da vida real do país, dissipar-se-iam com a nova palavra da Ministra da Agricultura para o sector: IVA forfetário para os pequenos agricultores. A coisa é tão disparatada que nem eu, do alto do meu doutoramento, reconheço a palavra à primeira. Conheço "forfeit" em Inglês e daí rapidamente cheguei ao significado de forfetário. Via Inglês, note-se. a Senhora Ministra sabe quem é o pequeno agricultor deste país?
Pois bem, eu sei quem é porque convivo com ele.
O pequeno agricultor deste país, o tal que fica isento de IRS se recebe 1600eur anuais (fortuna colossal a partir da qual um agricultor pequeno passa a grande latifundiário) e que pagará um regime forfetário de IVA se tiver ganhos anuais inferiores a 10.000eur, mal sabe ler e escrever. É alfabetizado mas funcionalmente iletrado. Não percebe nem os políticos nem as políticas. Vai para as reuniões da cooperativa discutir os estatutos da mesma e fica à espera que seja o engenheiro, ou a Loura Doutorada que às vezes por lá aparece, a lançar e a redigir as propostas e alíneas, artigos e excepções que se vão firmar no documento.
O pequeno agricultor, esse dos 1600eur e dos 10.000, não percebe Lisboa, como não percebe de forfeits, sabe apenas que a agricultura é uma pena paga a trabalho, incompreensão e muita desilusão. Digo eu que sou pequeno-agricultora, doutorada, certo, mas pequeno-agricultora.

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