12 de junho de 2014

Desfecho de um divórcio: Parte III

22 de Maio de 2014:
Há três dias que estou em ânsias. Um despacho de um juiz novo no meu processo cível contra o meu ainda-marido dá-lhe dez dias para apresentar provas. Tento conter a esperança e a ansiedade mas é em vão. Não consigo desviar o pensamento do meu divórcio, da dor destes quase seis anos, da injustiça, da lentidão e inoperância dos tribunais, da vitimização dos réus, dos expedientes dilatórios. Sobretudo dói-me a privação da liberdade. Passaram três dias sobre o despacho que me pode libertar de vez e os sete dias que faltam para o prazo expirar causam-me o sofrimento da antecipação da continuação da litigância e a adivinhação das novas mentiras. A mente fervilha-me, enquanto o coração quer a liberdade e já mal pode esperar que aconteça.
Há um telefonema: a parte contrária quer negociar um acordo extra-judicial que ponha fim a ambos os processos antes de expirar o prazo em que se têm de pronunciar.
Suprema ironia. Em quase seis anos nunca quiseram negociar e receberam com escárnio todas as propostas que fiz. Ofereci dinheiro para um recomeço de vida e juntei um carro ao pacote. Na consciência de ter sido eu a requerer o divórcio quis que a parte contrária saísse bem. Renegaram tudo. Tudo desprezaram na arrogância de quem pede sem saber o que pede e pede por pedir e por despeito. Aguentei.
Quase seis anos depois querem negociar fora dos tribunais que usaram contra mim. Que eu faça as minhas contas (que estão feitas há já três anos no processo que corre paralelo no tribunal de família). Não sei o que mais querem de contas. O justo era que eu deixasse a justiça correr, esperar o fim do prazo e deixar-me serenamente observar arder uma pira funerária de mentiras. Mas estou exangue. Aceito tentar uma negociação e, sim, apresentarei contas de novo, uma vez que a parte contrária nunca as apresentou.
Ao cabo de quase seis anos de me supliciarem, sinto que os meus algozes capitulam no enredo de falsas declarações que construíram em sede judicial num país onde o perjúrio não é julgado por ser cultural. Estranhamente não me sinto contente por a minha verdade estar a emergir.
Com seis anos de guerra em cima, contentamento e felicidade são sentimentos que o meu corpo e o meu cérebro já não conseguem processar. Só penso na liberdade que me foi tirada, na vida que me foi impedida. Por muito que a minha verdade vá ganhar, foi a minha vida que eu perdi e nenhum contentamento se sobrepõe à vida perdida.

4 comentários:

redonda disse...

Em determinadas condições - quando falso depoimento - constitui crime e é julgado. Alegações falsas em peças processuais também podem levar à condenação como litigante de má fé em multa e em indemnização à parte contrária se esta o requerer.

ME disse...

Força! O tempo que passou não volta, mas sempre se recupera de cabeça erguida! Que seja desta!

Ältere Leute disse...

Nachholen... soweit wie möglich ist von nun an das Wort !

Goldfish disse...

Boa sorte! Espero mesmo que seja desta.