16 de junho de 2014

Desfecho de um divórcio: Parte IV

28 de Maio de 2014:
O prazo dado à parte contrária para apresentar provas em tribunal termina dia 2 de Junho. Continuo ansiosa. Durmo a custo. Ainda tento ajuda química mas os meus níveis de stress são de tal ordem que nem a medicina do século XXI consegue penetrar no meu corpo. Quero tanto a liberdade. Desenvolvi, nestes últimos seis anos, uma empatia sólida com todos aqueles que foram presos sem culpa, todos aqueles que se vêem privados de liberdade e todos os injustiçados. Vivo num cárcere legal num país democrático que, presumivelmente, respeita os direitos humanos. Seis anos de tribunais levaram-me a ler a Constituição, na qual anoto todos os artigos perante os quais a minha cidadania tem sido violada. A minha vida é um défice de Constituição.
Penso e repenso nas mulheres que não têm a minha capacidade financeira para suportarem custas e advogados durante seis anos de justiça lenta e burocracias medievas. Penso nas mulheres que não têm o meu nível de instrução e o meu empowerment. Penso nas desgraçadas oprimidas pela injustiça de bullies resguardados pela morosidade e inoperância do nosso sistema judicial. Seis anos de martírio a requerer algo tão legítimo como a oportunidade de emendar o erro tremendo que foi o meu casamento, é essa a minha vida de hoje.
Como católica, mortifico-me por não ter conseguido manter a promessa que fiz perante altares divinos. Confessei-me por quebrar os votos eternos que pronunciei. Esperei do Padre, meu confessor, a penitência devida. Ouvi apenas: "A Igreja não quer o teu sofrimento". A Igreja não quer o meu sofrimento, mas quere-o a justiça dos homens que, num país democrático e moderno me impede o divórcio vai para seis anos. Seis anos sem ser senhora de mim: dos meus bens patrimoniais, do meu nome, do meu querer. Seis anos de prisão sem grades.
Apresento as minhas contas à outra parte. A minha generosidade inicial de oferecer dinheiro e bens esvaiu-se, transformando-se agora na frieza de longas folhas de Excel que expõem a crueza dos números. E os números não sentem. Os números não querem saber de mortificações, de generosidades. Os números são-no. A Matemática é a racionalidade em estado puro. Apresento números.  

1 comentário:

Dalma disse...

Oxalá volte a sentir-se feliz e como o aforismo popular diz" vão-se os anéis fiquem os dedos". Boa sorte!