30 de abril de 2014

Sempre estou para ver...

Sempre estou para ver o que vai dar esta cegada dos testes diagnósticos de Inglês do Cambridge aos alunos do 9º ano.
Somos um país a cair de pobre e damo-nos a estas ilusões. Por um lado, o dito do teste é obrigatório mas os pais têm de desembolsar 25eur "à cause des mouches". Depois, parece que o teste é para alunos de 9º ano mas testa a matéria do 7º. A seguir, é obrigatório para os alunos do 9º mas os outros podem fazê-lo voluntariamente. E, por fim, páram as escolas para garantirem aos meninos as condições óptimas para a realização das provas. Isto está tudo doido, ou sou só eu que sou very, very, burra?
Palavra de honra que ainda gostava que me explicassem qual o sentido disto tudo se a maioria dos ditos meninos em crescendo me chega à faculdade numa lástima linguística que dá dó!

28 de abril de 2014

Graça Moura: Que grande inconveniência!

Era para dizer "que grande gaita!" mas isso não se diz sobre quem cultivava as palavras. É, de facto, uma grande inconveniência para a Língua Portuguesa a morte de Graça Moura. Quem, como ele, nos vai continuar a defender da artrose linguística chamada (Des)Acordo Ortográfico? Estou muito insatisfeita com esta notícia. Ora esta, a Morte é tão incómoda. Que tremenda chatice.


Conheci-o (palavra muito desadequada e muito manca de veracidade) há uns anos valentes quando estava a organizar uma conferência lá na faculdade. Eu muito novinha, toda anglística e ainda me faltava muito chão a percorrer até me pacificar com o Português, ele o portento literário da Palavra. Senti-me uma formiga loura (não sei se existem formigas louras, mas eu não poderia ser uma formiga morena, não é?). Uns anos mais tarde, já eu de pazes com o Português (não vou dizer pazes, é mais tréguas) usei um texto dele num exame. E agora foi-se e levou um bocado da Língua. Não acho bem e, por conseguinte, estou em total desacordo com esta morte (não digo falecimento porque não gosto de eufemismos, morte é morte, como é óbvio).


Tenho dito.
RIP

26 de abril de 2014

Subir ao monte


Ontem passei o dia sózinha de gente. Gosto dessas solidões quando sinto que são-no só porque as escolhi e porque o não são de facto. Solidões de gente em dias que temos só para nós são luxos que nos higienizam o pensamento e nos libertam para nós. Dou graças.
A meio da tarde, enquanto ouço foguetes a estalar na vila comemorando passados recentes esboroados, calço os ténis e ponho um boné. Vou subir ao monte: cansar o físico, refrescar pulmões e falar comigo a ver as vistas deste campo de verdes e vinhas e matos.
A Mãe adorava o tudo silvestre e à minha volta as flores bravias que ela tentava domar e transplantar para o nosso jardim: chucha-méis. Conseguiu que um pé dessas flores aromáticas se acostumasse a viver domesticado. Morreu depois dela, quando eu herdei o jardim e o dei a outras mãos porque as minhas não são capazes. Definhou porque a Dona lhe faltou e a nova lhe transmitia o stress do "tens de viver" e não sabia o que fazer: se o deixar estar ou se o trazer domesticado.
Ontem estavam por todo o lado. Uma lembrança bem viva de algo que me acompanha sempre. O mesmo aroma intenso a flor livre e a memória Dela. Gostei do passeio na minha solidão que subia o monte e observava o vale onde as gentes vivem. Sózinha na altitude, dei graças por ter chegado Aqui. Ámen.

21 de abril de 2014

De volta ao Tempo Comum

E se volta o Tempo Comum: entregar IRS, chatices do dia-a-dia, a Primavera que não se instala... Mas a Páscoa aqui no campo foi toda flores e a Casa toda desarrumada porque 3 anos de gente e 11 meses de gente têm uma vida muito própria, muito dedadas e migalhas e a Tia não sabia a desorganização que causam criaturas destas idades. Sim, as criaturas pequenas são melhores que flores, mesmo que, no final, deixem a Casa da Tia a parecer um cenário pós-furacão.

Note to self: Why don't teething babies die and choke and get poisoned by all the things they chew?
Segunda nota: como se diz em Português "teething"? E como é que se chama em Português um "toddler"? E como é que eu não tenho vocabulário de bebés em Português?

18 de abril de 2014

García Márquez

Impossível não se ser tocado por "O Amor nos Tempos de Cólera" (o meu favorito) ou "Cem Anos de Solidão" (o meu segundo favorito). A partir de agora, no Panteão dos deuses das palavras.
RIP

16 de abril de 2014

Le jour d'après

Como podem ser os dias tão diferentes. Hoje acordei enervada sem razão aparente, quando nem sequer havia razão para nervosismos, bem ao contrário. Talvez que a energia de ontem se tivesse exaurido e me deixasse num invólucro diferente daquele em que ontem o meu corpo habitou. Não sei.
Sei que depois veio o trabalho. O trabalho e mais o trabalho, as contrariedades de uma carreira sem roque neste país sem norte. Perdi as horas do dia em trabalho, danada porque as minhas quarenta horas nunca o foram e não o são mas, para todos os efeitos têm de ser; danada porque as minhas quarenta horas têm de render mais, muito mais, do que as quarenta horas de muitos outros. Se calhar foi por isso que acordei nervosa. Sabia que me ia danar durante o dia.

15 de abril de 2014

O hoje passado que muda tudo

Para memória futura.


Queridos Manuel e Margarida,


Quando souberem ler e souberem o que se passou hoje será futuro. Mas hoje é presente da Tia, passado de vocês. O dia de hoje foi só da Tia. Mas foi por causa de vocês, ou para vocês, que o dia de hoje sucedeu. Também foi por causa da Tia. Foi por causa de uma conversa com alguém caro à Tia. E foi por causa da Avó Vina, que é a Mãe da Tia, e da Avó Matilde e do Avô Teodoro que são avós da Tia e vossos grandes Avós. De Nós, vocês só conhecem a Tia e a vossa mãe, Mana da Tia. Contudo, a Tia espera que o Tempo deixe que nos conhecemos mutuamente melhor do que hoje, que é um tempo em que é mais a Tia que vos conhece do que vocês conhecem a Tia. Enfim, isto tudo para dizer que, a partir de hoje, haverá um dia em que vocês vão saber deste dia. E neste dia, a Tia legou-vos a sua máxima herança, a qual é: Nós.


Para memória futura (vossa), a Tia vai guardar o bilhete de comboio e vocês nem imaginam a viagem que foi. A Tia conta.


Era uma vez Nós. E Nós vimos de há muito Tempo e de um lugar que se chama nada. Por se chamar nada, e porque nenhum lugar se chama nada, alguém antes da Tia escreveu sobre esse nada e muita gente quis saber porque é que esse nada, que é tudo menos nada, se chama a não existência, esse nada do nome. A Avó Vina e a vossa grande Avó contaram muitas histórias do nada à Tia e a Tia e a vossa mãe passavam as férias infantes ali no nada, que é muito. Só que, de tantos que éramos, ficámos só a Tia e a vossa mãe. A vossa mãe fez-vos para nos continuarmos e a Tia escreveu-nos para se libertar de dores de perda e de saudades e para que vocês, que nunca passarão as férias grandes naquele nada, o possam conhecer e às suas histórias.


Vocês vão ouvir, talvez, que a Tia escreveu um realismo-mágico. Contudo, o que os outros possam chamar de mágico, para Nós, naquele nada, era apenas real. Como é. Por isso, no binómio realismo-mágico, só vos interessa, e a Nós, a parte do realismo. A Tia não sabe, ou sonha, o que se possa seguir. A Tia só sabe deste agora, mas vocês, ao lerem isto, saberão o que se passou entretanto, no futuro, que a Tia desconhece mas que vos será passado. Para já é a potencialidade e a potencialidade é fecunda e larga, cabendo lá muitas coisas: as que a Tia espera e as outras que lhe são imprevisíveis.


O dia de hoje tinha de ser como foi e a Tia pensa que cada dia que viveu permitiu a chegada até aqui, até este hoje, um hoje feito de muitos dias antes, muitas gerações e tantas que recuamos séculos até aos princípios de Nós. A Tia queria dizer muitas coisas. Porém, está tudo a quente e só quando a Tia entrou com a carrinha pelo portão adentro e se deu conta de que a viagem acabara aí, é que se apercebeu que o dia de hoje começava a ser passado e que a viagem já entretanto o era. A quente, a Tia só vos consegue escrever, ela que tanto se escreve nos seus dias. A Tia vai precisar de Tempo para se dar conta do Tempo de hoje, ou seja, a Tia vai precisar que hoje seja passado para que o possa rememorar. Hoje a Tia não consegue, e não quer, outra coisa que não seja viver este dia.


Meus queridos sobrinhos, a Tia está tão feliz por vocês irem saber de Nós...

7 de abril de 2014

O dia em que a minha sobrinha vestiu o meu vestido de baptismo

E tudo isto é admirável a meus olhos.
O meu vestido de baptizado. O meu vestido escolhido pela Mãe. O meu vestido vestido pela Margarida.
Olho para a minha irmã a segurar a filha ao colo com aquele vestido e revejo a última Mãe que segurou um bebé ao colo com aquele vestido. Vejo a minha irmã e recordo a Mãe. A minha irmã que é mãe. A minha irmã que é um decalque da Mãe à sua maneira. Olho para isto que nos sucede e nenhumas palavras terrenas conseguem exprimir o que sinto. Se ao menos fosse possível dizer como transborda o meu peito, como me encho de um orgulho que não cabe em mim. Ver a minha irmã. Ver a Margarida. E lembrar-me sempre da Mãe e vê-La ontem ali na sala. O vestido que transporta passados e se faz presente e futuro.
Tudo isto é admirável a meus olhos.

2 de abril de 2014

Morreu o Jacques Le Goff

E, de súbito, apetece-me reler a Civilização do Ocidente Medieval. Já não me lembro em que cadeira é que descobri Le Goff, deve ter sido ainda no 1º ano da licenciatura nos cadeirões gerais. Sei é que li e rascunhei o livro todo e, não contente com o rascunhado, enchi-o de post-its que me seriam muito úteis quando foi do Mestrado e que ainda me servem de guião para consultas rápidas. Nunca mais li o livro mais do que em modo consultivo mas ontem fiquei com vontade de regressar...
RIP

1 de abril de 2014

Uma caixa de Bom

E como é que eu traduzo: a whole box of goodness?
Uma caixa de Bom não soa lá muito bem, mas o conteúdo da caixa sabe pelo Céu...