4 de julho de 2016

Maioridade de Ti, Mãe

Passei o dia a pensar em Ti mas fui-me distraindo em trabalho até que, ao final do dia, já não pensava. Como sempre, nestes dezoito anos a menos para Te voltar a ver, nem eu, nem o Pai, nem a Mana nos comunicámos. É um dia tabú que não desaprisionamos entre nós porque nos dói, ainda e sempre. Às vezes imagino o que o Pai ou a Mana sentem neste dia. Porém, nunca lhes pergunto. Sei bem o que é que se sente neste dia e em todos os que o coração nos lembra de Ti.

Quando o ano começou, a primeira coisa que pensei foi que este é o ano da nossa maioridade sem Ti. Não nos dóis menos por isso. Penso que se nesse ano eu tivesse tido um filho, estaria agora a preparar-se para a faculdade. Eu teria um filho em idade de faculdade, Mãe. É este o tempo todo, tão grande e longo, que passou. É o tempo que daria para um filho ir para a faculdade, imaginas? Dezoito anos, Mãe. E o que me custa pronunciar estes dezoito anos. Como é que é possível que não te tenhamos Aqui há dezoito anos? Como é que aquilo pôde acontecer e como é que nós sobrevivemos àquilo?

Calo as perguntas, como sempre as calei para não desatar a gritar de ódio e raiva e incompreensão e dor. Calo as perguntas, fecho a mente e o coração para sufocar o sentimento.

Tem dias, no entanto, em que me lembro de Ti no meio de um sorriso. Na coincidência da data desta maioridade vinha a conduzir quando ouvi uma lamechice qualquer que não ouvia desde antes de aquilo acontecer e Te teres ausentado de Aqui. Os Modern Talking! Consegues imaginar eu a ouvir os Modern Talking em 2016?! Lembras-te de quando os ouvíamos? Aquele pop alemão, piroso como bem se quer o pop alemão e tu tão alemã a sorrires daquilo. Ouvi. Pus o som no máximo e segui auto-estrada fora a lembrar-me de Ti e de um tempo tão longínquo. Fui feliz na fugacidade da canção. Lembrei-me de Ti sem choro ou tristeza. Não me doeste como me estás a doer agora que Te escrevo.

Por isso, Mutti, aqui Te deixo os Modern Talking, datados e pirosos, como não pirosos nem datados são os momentos que nos deste e nos dás, hoje, ainda, sempre.



Amo-Te tanto, Mãe...



1 comentário:

Ältere Leute disse...

Um beijinho ! E que haja por Aí mais uma rosa !