29 de agosto de 2016

Dia 1: E que carro?

Dezassete dias na estrada querem o providencial meio de locomoção, certo? E o que é que impera na América no que às quatro rodas diz respeito? Tudo o que é asiático. Entende-se porque é que Detroit foi à falência. O ano passado o all-American Dodge cumpriu a função mas era um bocado lento nas ultrapassagens. Este ano não há cá americanices e vai um Nissan Altima (nem sei se há disso cá pelo burgo luso). Ficou bem na foto e portou-se à maneira (e bem que sofreu, coitadinho... contarei, contarei).
 Naturalmente, foi só sair do Texas para a matrícula do "Lone Star State" me dar uma nova naturalidade:
"No, no, I'm Portuguese, from Europe." Sim, que é melhor dizer o continente não vão eles pensar que Portugal é na Austrália... (é que eu já ouvi deles que Portugal é muito "beautiful, the capital of the Algarve").

27 de agosto de 2016

Dia 1: Coisas que se aprendem nos aeroportos

Eu já tinha ouvido falar das modas orgânicas, bio, eco ou que tais, agora "terra orgânica"?! Ok, seja. Água mineral da melhor terra orgânica. Sim, soube-me a água mineral. Ponto.

25 de agosto de 2016

Dia 1: Lisboa-Londres-Houston

A gratidão pela Vida permite-nos o gozo pleno, destressado. O gozo de quem não acha que a "minha viagem é melhor do que tua" ou que eu viajo mais originalmente. Sobretudo, viajo com o gozo de não queimar tempo e paisagens em selfies, postar o que vejo, como e faço no Facebook só para dizer que viajo, fui, vi e venci. Viajo porque sim, porque tenho consciência do privilégio das minhas escolhas e da liberdade das decisões inusitadas.
Porque não atravessar os Estados Unidos de costa a costa? Sim, porque não? E a decisão tomou-se nesse menos tempo do que leva a proferir o monossílabo da anuência. Começar pela Flórida: Miami, Key West, Tampa, Tallahassee e todos os sítios fora da estrada batida, Homosassa, Siesta Key, Islamorada. Depois o "sweet home Alabama", o Mississippi, o Louisiana, o tal da New Orleans dos bandos de turistas em Bourbon Street e dos barcos a vapor a lembrar o Tom Sawyer e o Huckleberry Finn, o Louisiana do desterro em Alexandria onde há uma loja de penhores com um programa de televisão e onde fui deixar os noivos de barro do bolo do meu desfeito casamento (renderam-me 10 dólares!, bem mais do que me valeu o desfeito casamento). E depois o Texas, imenso, gigante, a fazer jus ao mote de que "everything is bigger in Texas", é. Houston, um colosso feio onde tive um namorado nos tempos em que a vida se me apresentava toda pela frente e eu não sabia bem que caminho tomar mas sabia que não o tomaria por Houston. Escreveu-me já eu estava no meu desfeito casamento. "There is still time", disse-me, mas eu continuava a saber que o caminho não seria por Houston. Não foi. Fiquei pouco ali no colosso feio. Washington-on-the-Brazos, a capital do Texas independente. San Felipe de Austin, o coração da colónia dos tempos da colónia. Galveston, a ilha dos pelicanos dolentes e das casas coloridas que se espraiam nos areais. Tempo de regressar.
E este ano, tempo de partir e regressar a Houston. Começar onde se interrompeu a viagem. Parto e levo o coração pleno de alegria. Pronuncio gratidão.

23 de agosto de 2016

Partir

Há viagens que mudam vidas e há vidas que se mudam em viagem. Não sei bem o que me sucedeu. O ano passado muita coisa mudaria na sequência de uma viagem. Este ano, algo mudou durante a viagem.
Instantes e inusitados. Decisões no segundo em que se falam. Não pensar enquanto se pensa. Fazer. Agir. Ir na liberdade de quem pode ir enquanto se agradece o privilégio de poder ir. Acho que estou nessa fase. Vou e agradeço. Agradeço e vou. Levo o entusiasmo excitante de saber que regressarei com os olhos cheios e o coração saciado. Anseio por trazer recordações e poder recordar este presente entretanto passado. Quero viver a viagem e quero, depois, recordá-la. Morrerei sabendo que os meus olhos viram tudo aquilo e que o meu coração se saciou.
Vou contar. Aqui.