... andava eu nos mares revoltos das grandes decisões. Aqui no blog ninguém suspeitava mas, por detrás da Blonde, a dona da Blonde separava-se sem vacilações, sem lutos, sem olhar para trás, sem arrependimentos. O blog só soube algum tempo depois quando a dona da Blonde percebeu que ela e a Blonde são a mesma pessoa.
Pois é, um ano inteiro passou. Depressa demais, talvez, em tanta Vida vivida, em tanta coisa acontecida, em tanta reviravolta e tanto turbilhão de emoções e sensações. Acho que o divórcio acabou por ser, não tanto o inevitável desmoronar de um casamento condenado a priori desde ainda antes do casamento. O divórcio foi, sobretudo, uma segunda hipótese de Vida, como se eu tivesse passado por uma doença trágica ou um acidente grave e sobrevivido para começar realmente a viver.
É maravilhoso viver desagrilhoado: aceitar os desafios da carreira, pegar num avião e ir não importa onde, relacionar-me com quem quer que seja que aqui aterre nesta tal Vida de singularidades (engraçado como isto me faz lembrar o conto do Eça "Singularidades de uma Rapariga Loura", embora as minhas semelhanças com a tal rapariga loura se esgotem no cabelo).
Porém, mais que tudo, nada há de tão extraordinário como descobrir-me Eu neste preciso momento da Vida. Que bom é ter aqui chegado, com as âncoras que jamais me deixam soçobrar nas tempestades que por vezes se levantam, os meus sucessos (que são tantos, meu Deus) e todas as razões que me fazem Eu, Blonde e dona de Blonde, neste aqui e neste agora.
Há um ano fui para Londres no estado de espírito de quem quer e vai começar uma Vida nova, interessante como não parti para curtir mágoas, aliás, eu estava tão feliz. Depois regressei e confrontei-me com a Vida nova, tudo novo, desde o Natal diferente às rotinas que anteriormente não existiam. Voltei a Londres mais tarde e noutro estado de espírito: desta vez acomodada, de certo modo, a uma fase desta Existência que ainda me deixa perplexa na quantidade de benesses com que me trata. E tudo isto apenas porque me separei, porque saí do comodismo do deixa andar e meti os pés a caminho desta outra/nova Vida que, afinal, sempre esteve aqui à minha espera.
E escrever isto tudo porquê? Bem, porque, sem saber como ou porquê, tive um flash, súbito como todos os flashes, de que Tudo mudou há um ano atrás agora e que o Agora é infinitamente melhor do que há um ano. Acho que, no fim de contas, faço anos agora, um ano, um ano já. Vivo.