31 de dezembro de 2008

Dulce et Decorum est...


... tecer agradecimentos e fazer balanços em final de ano. Cá vai.

Há um ano atrás eu escrevia aqui o meu primeiro post em Português, um exercício um pouco naïf tirado a ferros e pensado durante vários dias tal era o pânico da exposição numa língua que não é aquela em que penso, trabalho ou escrevo profissionalmente e que somente uso socialmente (e mesmo assim nem sempre). Foi um post constrangedor, o rever-me em contraste directo com a língua do meu país, a qual, paradoxalmente, não é a minha língua e, simultaneamente, libertador porque foi o início da percepção de que o Português não me magoa. Chego ao fim do ano e, por muita vontade que tenha em escrever noutro idioma, forço-me ao Português e surpreendo-me de cada vez porque, afinal, o pensamento flui, o interior escorre para fora. Acho que falo Português com os dedos e Inglês e Alemão com a mente. (Não sei se isto é compreensível mas é assim que me movimento na Torre de Babel em que o meu cérebro habita).

E é isso, um ano passou. Um ano memorável, no que o memorável tem de horrível e sublime. Retiro apenas o sublime porque é isso que quero preservar quando morrer. "Aqui descansa a Blonde que viveu o sublime", apenas isto como epitáfio. O que vi e fiz, o que senti, os sítios onde fui, o que dei e o que recebi, isso é sublime e este ano foi pródigo. Vergo-me na humildade da gratidão pela generosidade com que Deus, o Universo me tem tratado.

E onde anda o blog no meio disto tudo? O blog é a testemunha de parte deste sublime e fiel testamentário de libertações, (in)confidências, exorcismos, lugar de escape e de auto-descoberta (lá está, descubro que ao falar com os dedos me exteriorizo ao passo que se me ficasse pela facilidade e pelo facilitismo do Inglês não chegaria nunca aos posts da intimidade das últimas semanas). Alguém que conheci recentemente e que, por isso, não me conhece (bem), disse-me que a Blondewithaphd era um pseudónimo atrás do qual eu me escondia. Respondi que não, que a Blondewithaphd era um heterónimo, uma fabricação, uma personagem mas com base real. Nem uma coisa nem outra. A Blondewithaphd é um alter-ego, sou eu ao espelho, projectada au dehors, o meu reverso (obrigada M. por me ajudares a ver). Eu sou a Blonde fora de mim.

E o blog levou-me a mundos desconhecidos, os da minha psique, os da minha língua, permitiu-me a exteriorização das minhas opiniões (políticas, sociais, pessoais) num espaço anónimo, virtual e ilimitado. E, sobretudo, levou-me junto de gente: pseudónimos, heterónimos, ortonónimos e alter-egos como eu. Se o meu Ego se movimenta num mundo de gente concreta e real, também a Blondewithaphd circula num mundo de seres com consistência e personalidade, neste caso virtual, o que me leva a questionar se a virtualidade não é, afinal, uma instância da realidade (bem, mas isso já são cogitações de índole metafísica). Como é que posso demonstrar a gratidão que sinto por todas estas existências que rodeiam a Blonde e fazem parte de um círculo sócio-virtual que aqui se estabeleceu? Mas é isso, estou-vos sentidamente grata. Vocês fazem/fizeram parte de um ano sublime e, por conseguinte, fizeram-no tão mais sublime. Quem se materializou, quem gravita entre o virtual e o real, quem é apenas virtual: sublimes, todos.

Alongo-me. Permitam-me, apenas, um derradeiro agradecimento a quem levou a minha exteriorização a um patamar assustador, porém, também e sim, catártico. Confrontar-me com a minha língua, com a minha interioridade é, confesso, a domesticação de mundos ignotos, o "Mostrengo" do Fernando Pessoa por onde aprendi Português e que, por isso, domei (a duras penas, diga-se). Confrontar-me com a oralidade, o som das minhas palavras mais íntimas, sobretudo se pronunciadas por figuras saídas do mundo da Blondewithaphd para a realidade do Ego é, no mínimo eufemismo, estranho (muito). Ao PRD (acrónimo que aqui me visita mas cuja realidade se lê por extenso) esse agradecimento. (... e logo aquele texto...)

Que 2009 nos seja, a todos, SUBLIME.


P. S. 1 - O título do post é roubado de um poema do Wilfred Owen (1917) que o roubou, como é óbvio, de Horácio e que a Blonde fez o favor de descontextualizar.

P. S. 2 - Quinn dearest, you change names this year and you're gonna get one very pissed off Blonde!
P. S. 3 - Carol, Jo, Pumpkin, Josh, Implume, António, Tiago, Peter, Dante, Jedi Castanhinha you rock dudes! Luv ya!
P. S. 4 - Love to all in blogspace!

27 de dezembro de 2008

Um Novo Natal



Tranco portas e janelas e deixo a casa entregue aos favores da P. e do Spotty. Enfio malas e presentes na carrinha e parto. Tirando o bolo-rei da Garrett do Estoril e os Lebkuchen e Stollen, tudo neste Natal será diferente. Nada de nostalgias, o que importa é que estaremos juntos e, por isso, felizes naquela união inquebrantável de clã. Este ano cedo o lugar que usurpei da Mãe quando ela morreu.

Passei a ver o Pai como Homem no dia em que a Mãe partiu. Não imaginava que ele ainda estivesse apaixonado por Ela. Engraçado como nunca racionalizamos que os nossos pais vivem os sentimentos de homens e mulheres. Vi-o chorar às escondidas. Observei o seu desmoronar interior e percebi porque é que ele regressou à Alemanha: não queria que o víssemos como Homem e, dessa feita, foi para longe fazer um luto penoso que lhe custou um enfarte no dia de anos Dela. Escondeu de nós a sua fragilidade. Mais tarde soube que eles falavam objectivamente da morte Dela e isso encheu-me de um respeito enorme e triste por este homem, não pelo Pai, frio e metódico, mas pelo Homem com emoções e catástrofes interiores como qualquer homem.

No Dia de Natal saímos os dois. Deixámos o resto do clã entregue ao aconchego morno e plácido da tarde de Natal e fomos para a rua. Estaciono na Avenida da Liberdade; queremos ir a pé e vir até ao Cais das Colunas (claro que é do Pai que me vieram os genes desportistas!). Falamos. Falamos tanto. Estou tão bem ali a passear com Ele. Não me invade a privacidade. Entende-me sem precisar de o verbalizar. Falamos da Mãe. Sempre. Falamos em alemão e em português. Falamos do passado e do presente. Rimos. Sinto-me filha, a filha que não vê o Homem mas o Pai. Volto a ver o Pai e é tão especial ver o Pai, estar com o Pai ali no Rossio e pelas ruas de Lisboa.

Ainda me lembro da primeira vez que Ele me levou a Lisboa e de como me pediu para desenhar aquilo que mais me tinha chamado a atenção na cidade. Desenhei uma estátua e pombos, muitos, muitos pombos. Em Bremen havia esquilos e passarinhos nas praças e aqueles bandos de pombos eram uma coisa assustadora, mas, igualmente, muito curiosa aos olhos de uma miúda de seis anos.

Paramos para tomar alguma coisa. Apenas um tasco asqueroso está aberto na Baixa. Propriedade de imigrantes chineses, ali se congregam turistas, mais imigrantes chineses e uns pouquíssimos portugueses que, como nós, saíram à rua. É a globalização à minúscula escala lisboeta. Tomo um chá de jasmim e o Pai o de sempre: camomila e noto que Ele nunca perdeu certos estrangeirismos nos hábitos e na maneira de ser. Ali estamos, ambos vividos do Mundo, ambos estrangeirados eternos: o Pai e eu. E no entanto, já lá em baixo, junto ao Tejo, falamos do como gostamos de Lisboa apesar de todos os apesares. É noite escura e tempo de regressarmos.

Sinto-me pequenina outra vez. Como é bom ser filha, como é bom este Natal...

Dem Vati. Die stolze Tochter.

23 de dezembro de 2008

Feliz Natal!

A todos quantos por aqui passam: os fiéis e os ocasionais, os anónimos e os conhecidos, os que entram para falar e os que saem silenciosos, a quem aqui vem desde a primeira hora e a quem aqui chegou recentemente, a todos os votos de bem-aventurança próprios da quadra.

Um abraço cibernético da,
Blonde


P.S. - Perdoem o postalito ser alemão...

21 de dezembro de 2008

Do Enlevo e da Saudade

Acho que na vida o inesperado guarda-nos as melhores e mais transcendentes surpresas. Eu pensava que só ia ao cinema, mas depois..., depois veio o inesperado e quando dou por mim estou à porta do Museu do Fado aguardando que me venham buscar e sem saber bem o que me espera no resto do serão. Acho que me esperava o sublime da descoberta, mas isso eu só soube mais tarde.
A primeira vez que fui a uma casa de fados foi por obrigação com um grupo de alemães amigos do Pai. Uma estucha! Só canções tristes, mulheres trigueiras de olhos negros, desenganos. O fado inexorável que acorrenta o espírito português. Detestei. Os amigos do Pai acharam exótico. Pensei que nunca iria repetir a experiência. Até este Sábado e ao inesperado de convites à última da hora que, por delicadeza e porque toda a gente é simpática com quem se divorcia, não se negam. Juntei-me ao grupo de estranhos, todos apreciadores de fado, uns guitarristas, outros fadistas, um deles compositor que também toca guitarra para uma destas novas fadistas da nossa praça que leva o fado aquém e além-mar. Ainda lhe disse que gosto de Carlos do Carmo, com aquela voz culta e civilizada de lisboeta polido pela luz e pelo Tejo, e de Camané que só descobri porque cantou com os Humanos. Respondeu-me que eu gosto de fado fácil! Enfim, nada que os meus instintos pop não esperassem. Pedi, então, fado difícil.
Perdi-me no meio da música. Ouvi sem os meus preconceitos e dei por mim num mundo paralelo no Mondego, nas planícies andaluzes, ali naquelas ruas estreitas à sombra do Castelo e vi a lua reflectida no Tejo. Impossível não gostar.
Perguntei-lhe onde tinha estudado música. Não estudou, não sabe ler uma pauta. Perplexidade seria um eufemismo para descrever o que senti! Eu estudei música seis penosos anos e só tiro dois ou três acordes da minha viola (e sem dedilhar). Aliás, ninguém ali naquela sala estudou música. Todos aprenderam aprendendo, tocando uns com os outros. E que sons que tiram daquelas violas e daquelas guitarras! Aliás, quando experimentei tocar naquela guitarra que já viu os palcos deste mundo e do outro, saíram-me sons que jamais pensei fazer sair de uma guitarra. Da minha viola sai barulho, daquela sai música. Achei o fado uma coisa mágica. Guitarras que tocam a melancolia, gente que as toca de cor e sem partituras.
No fim, pedi que me cantassem o "Barco Negro", que fiquei a saber era uma canção de sanzala, proibida no Estado Novo, porque pai João apanhava com a chibata enquanto a mãe preta embalava o filho do senhor na casa grande. Cantaram-me a versão do David Mourão-Ferreira imortalizada pela Amália.
Perdi-me, mais uma vez, e desta entre lágrimas saídas não sei de onde e arrepios na espinha... Acho que isto é que deve ser a Saudade...

20 de dezembro de 2008

This Christmas

Just because I'm in the mood for Christmas, one of my favourite Christmas songs (actually not the favourite one even if it's Wham!, or better, George Michael). But a song full of happy and good memories and Christmas is a good and happy time.

Season's greetings everybody!

19 de dezembro de 2008

Warmest Thanks


Mudanças acarretam mudanças, e só pode ser assim. Ciclos que se fecham, ciclos que se abrem. A Blonde anda em mudanças, logo o Blonde também.

Acontece que a Blonde sem o Quinn, este novel Ferreira-Pinto, não teria dado esta cara lavada ao Blonde. Foi ele que fez a redecoração toda. Obrigada Quinn!!! É muito bom poder contar sempre contigo! És um excelente webmaster e um assessor e pêras! O meu primeiro amigo do mundo blog. Obrigada!

E tu Pequito, heterónimo, pseudónimo, personagem, já nem sei, obrigada por isto. És um exagerado! Mas, hey, exagera à vontade!

16 de dezembro de 2008

Catarse


Demorei dias até chegar aqui ao blog com isto. Devia? Não devia? Mas, hey, a Blonde sou eu e eu sou a Blonde. Por isso, devia à Blonde o vir aqui porque a Blonde vive extra- e intra-blogoesfera.

"Casar nos papéis e não na vida".
Esta frase escreveu o Joshua aqui neste mesmo blog, comentando com a sua vida um post da minha a propósito de Duran Duran e das paixonetas da pré-adolescência. Sem o saber, resumiu tudo. O tudo absoluto que, afinal, é tão fácil, tão simples. Procuramos as circunvoluções da linguagem e, no fim, a simplicidade diz tudo. O tudo absoluto.

"Casar nos papéis e não na vida".
Foi isso. Foi tão somente isso. Daí a distância, a fragilidade, o naufrágio consequente, adiado, mas omnipresente, omnipotente porque só o naufrágio era a solução. Tão simples também entender que o naufrágio era a solução.

"Casar nos papéis e não na vida".
E papéis foi tudo o que restou. Tão pouco. Tão insignificante. Papéis. Papéis que vão amarelecer, esboroar-se até não serem nada. Porque do "casar nos papéis e não na vida" resta apenas o nada.
"Casar nos papéis e não na vida".
Acaba por nem sequer ser triste, nem feliz, é neutro, incolor e inodoro. Triste seria "casar nos papéis e nunca viver". Mas não é o caso. A vida descasa-se. E nem os papéis vão sobrar.

"Casar nos papéis e não na vida".
Lapidar, meu caro Josh. A catarse. Tão simples. Tão serena. Tão redutora e, no entanto, tão abrangente. É isso. A melhor frase para descrever, para escrever o divórcio de uma Blonde. Estava à espera desta frase. Invejo-ta, aproprio-me dela e com ela aqui venho porque a Blonde sou eu.

Feliz com a frase. Feliz com a vida.

14 de dezembro de 2008

Reviver o Passado, Viver o Futuro

Alpedrinha... Belmonte... Gonçalo... Como me são familiares estes nomes. Estou a chegar e vou com pressa. Ignoro limites de velocidade e os 2ºC com aviso de gelo na estrada que indica o computador de bordo. Mais um túnel e ei-la... Fria. Farta. Formosa. Fiel. Falta um "F" de que me não lembro. Já não lhe reconheço os contornos. Cresceu imenso e pergunto-me porque é que estive oito anos sem aqui regressar. É tão bom regressar...

Contorno a radial externa mas vou entrar na cidade. Quero demorar-me. Sigo para a parte velha, conduzo lentamente pelas ruas empedradas a granito, tão ásperas, tão duras. A iluminação de Natal dá-lhes um ar ainda mais nostálgico. Pouco a pouco começo a lembrar-me das ruas, das ruas que eu conhecia como a palma da minha mão. Os Verões e as Passagens de Ano de tantos anos, há tantos anos. Contorno a Sé duas vezes. Impressiona-me sempre. Estou na Guarda.

Comigo vem uma miúda loura e esguia dos seus dezoito/dezanove anos. A cabeça cheia de sonhos e planos. Acho que a vejo olhar para mim e dizer: "Não me atraiçoaste". Trago-a com a sua vida toda pela frente a reviver o passado. Foi feliz aqui, onde os planos se verbalizavam, onde as noites se passavam nas idas a Ciudad Rodrigo no calor do Verão e onde descobria que a Água das Pedras também se servia em quartilhos. Deixo-a nas lembranças.

E hoje? Hoje acordo entre lençóis polares. Puxo as cortinas do quarto e vejo que para lá da janela caem farrapos de neve. Tenho de ir lá para fora para o meio das árvores e do frio. O frio seco da Guarda de que já mal me lembrava. Mudou tanta coisa. Permaneceu tanta coisa. E a vida segue toda pela frente. Vivo a alegria do que está para vir agora que sei como foi o passado e o futuro do passado. Vivi esse futuro e foi bom, o novo será ainda melhor. Estou feliz no meio da neve mas não me vou demorar...



12 de dezembro de 2008

Um choque de civilização!

É isso mesmo!!!! Um choque de civilização é o que este país precisa!!!!

Ontem estive para ouvir a "Grande Entrevista" na RTP1. Vá-se lá saber porquê pensei que me apetecia ouvir o que o Louçã tem a dizer sobre a crise, a recessão, mais o encontro das Esquerdas, whatever absurd idea that is. Como é óbvio desisti ao fim de escassos minutos. Claro que ninguém aguenta a repetição ad nausea dos mesmos débitos esquerdinos. Só uma coisa retive antes de desligar o televisor:

O país precisa de um choque de civilização! Isto não sou eu que digo, foi o Louçã ontem à noite na televisão pública. E não é que subscrevo!?

Vamos pelas ruas da capital e é a imundície. Entramos em lojas de rua e cafés e nada está aquecido (porque será que passo sempre mais frio em Portugal?). A falta de civismo e a "pinderiquice" são o que de mais comum há. Depois é o eterno queixume nacional (ele há lá povo mais queixoso-militante?). Entre o ser e o parecer, claro: mais vale parecer. A indústria está de pantanas, a agricultura morreu, as pescas naufragaram, professores e políticos desmotivados, alunos apáticos, por todo o lado a nova iliteracia. E etc., e etc...

Sim, venha um choque de civilização.

10 de dezembro de 2008

Um "fait divers"?!

Pegando na vaca fria. Esta ouvi eu num noticiário da rádio ao vir para casa. Achei um knock out do melhor e eu que nem ia comentar um assunto já tão espremido e deprimente de tão desinteressante e expectável.

Sim senhora, sabemos que a classe política, coitadita, é uma classe desmotivada. E também sabemos que, este ano, e valha-nos isso, o 8 de Dezembro calhou à Segunda. "Porreiro, pá!" Agora que certos veneráveis séniores deste país venham dizer que quando 48 deputados num parlamento nacional fazem gazeta é um "fait divers", gimme a break! (o "break" literal e figurado). Mais um pouco e temos um país em auto-gestão ou, então, olha, dá-se a tal folga democrática dos 6 meses à nação e arruma-se a coisa. Um "fait divers"?!

Pensando melhor, e vendo as coisas por outro prisma, se calhar até é mesmo um "fait divers" de tão banal que é vermos a Assembleia às moscas. Corrijo já a minha posição: é um lastimável "fait divers". Venham as férias que a malta quer é descanso.

E nada de costeletas

Primeirissimamente confesso que não sei se é costeletas ou costoletas e não me dei ao trabalho de ir ao dicionário! Suponho que sendo costelas e não costolas deverá ser costeletas, se não for, será talvez... bifanas.

Já me interrogava quando é que aconteceria alguma coisa aos pobres dos suínos. Sim, é que as vaquinhas piraram, e os frangos engriparam-se depois de tanto nitrofurano. Chegou a altura dos leitõezinhos se intoxicarem em dioxinas, o que quer que isso seja. Ora bem, sobra o quê, carnivoramente falando? Cordeiros e cabritos. Ah, e coelhos! Olhem só a sorte de uma Blonde que de carnívoro tem muito pouco. E o pouco resume-se, precisamente, a bifes de frango e às ditas costeletas bem temperadinhas (ok, também não se diz que não a outras vitualhas carnívoras desde que bem mascaradas e não passem por animais de estimação da Heidi ou primos do Bugs Bunny).

E de talho estamos conversados. Eis que chega mais uma vaga de histerismo com a ASAE em campo em busca das toneladas de costeletas perdidas! (Hmm... belo título: "ASAE e as Costeletas Perdidas" starring Harrison Ford as Inspector da ASAE, a Christmas blockbuster in cinemas near you). Sinceramente, tenho pena das donas-de-casa, as verdadeiras. O que lhes deve valer é que é Natal e viva o bacalhau (do Pacífico, atulhado em mercúrio e chumbo) e o perú (bêbedo de tanto antibiótico).

Gaita, lembrei-me agora que faço um lombo de porco recheado acompanhado de castanhas que deve ser das poucas coisas que me resultam bem na cozinha (para grande e genuíno pasmo!) e que é servido em vez do perú natalício! Lá terei de ir indagar a nacionalidade do bicho, o que me vale é saber línguas! Não esperem, este ano a Blonde não entra na cozinha no Natal! Ufa, já me safei! Mandem lá vir os leitões irlandeses! E dioxinas com eles!

8 de dezembro de 2008

Da ignorância de uma Blonde


Aterrando de um fim-de-semana prolongado, o que é que qualquer mortal faz? Procurar as notícias, informar-se das ocorrências que o liguem à macro-comunidade. Mais que não seja, esse mortal pretende saber em que pé está o mundo e se é que existe tal como o deixou suspenso. Regresso, então.

Constato que morreu Alçada Baptista (que já nesta vida cheguei a confundir com Baptista Bastos). Um pouco por toda a parte o coro habitual nestas circuntâncias: perde-se um vulto da cultura portuguesa (indago-me do porquê de ser sempre o "vulto" que se perde, será que não há mais nada na Língua Portuguesa que melhor epitomize "vulto", que associo a uma palavra fantasmagórica pouco correcta para contextos laudatórios como o são os obituários).

Emudeço. O que é que eu conheço de Alçada Baptista? Nada (o muito pouco não vale nada e, por isso, mais vale assumir o nada). Que estupidez! Toda a vida ouvi este nome. Toda a vida soube quem era Alçada Baptista (apesar de certas confusões). E, no entanto, toda a vida ignorei a obra e o autor. Resta-me a irritante, e pouco original, descoberta do artista das palavras num contexto post-mortem. O aprender a dar valor a algo quando o algo falta é mesquinho, é humano, todavia, mesquinho. Remeto-me, pois, a essa mesquinhez humana.

RIP.

5 de dezembro de 2008

Save a Prayer

Vou seguir o António de Almeida do Direito de Opinião, if I may. Ao que parece é para apurar a canção de amor (que lamechice de denominação) que mais nos diz ou que é a super, hiper, mega. Enfim, algo do género.

Para não escolher o "Tonight" do George Michael (que aposto ninguém conhece e porque qualquer canção do George Michael é a minha favorita de sempre e o que é que hei-de fazer?) cá vai uma diferente, de um tempo pré-George Michael.

"Save a Prayer" dos Duran Duran foi a primeira canção que ouvi quando saí da infância e comecei a ouvir música de gente crescida. Amei! Apaixonei-me logo pelo Simon Le Bon. Ouvia o disco (meu Deus eu tinha um gira-discos!) à exaustão. Sabia a letra de cor e toda ela me parecia a coisa mais romântica da vida. Foi também quando descobri as verdades da vida: "the birds and the bees"... e que havia mais coisas além dos amiguinhos... Era 1982, é preciso dizer mais?

Uns meses depois havia "Careless Whisper" e toda a minha vida mudou...

3 de dezembro de 2008

61% vs 94%

É sempre tão interessante verificar a regra lusa: Portugal é um país de má Matemática ou mau a Matemática, dependendo da perspectiva. Acho sempre hilariante (sim, também delirante) quando as contas batem certo! Ou então, sou eu que, afinal, não levo jeito para números e acho que uma discrepância de 33% indica um hiato abissal entre fontes e me leva à incredulidade estatística. Claro, a interpretação errónea só pode ser minha: sindicatos e Ministério alguma vez brincariam com a objectividade percentual?! Naah!

Seja como for, se até a minha amiga X fez greve e me colocou de plantão a ver o telejornal da RTP1 porque tinham ido à escola dela é porque, desconfio, deve mesmo ter havido greve. Só pode! A X fez greve! Eu repito, a X fez greve! E nem na faculdade a X fazia greve! Aliás, a X nunca protestou na vida e agora a X não só faz esta coisa inaudita de greve como vem por aí fora de cada vez que há manif. Desculpem, mas algo aqui se passa. Se a X se está a mexer eu tenho mais é de desconfiar de uma série de coisas desta vida. A X, vejam só...

Greve de Professores


Apesar de duvidar que a classe docente do ensino básico e secundário alguma vez se solidarizasse com as lutas dos docentes do ensino superior (que são muitas e muito desconhecidas do grande público), nutro natural empatia pelas aspirações dos meus colegas dos outros níveis de ensino. No entanto, será que esta greve terá algum efeito? No quadro geral actual, duvido. É certo que uma greve a meio da semana é geradora de sentimentos mais benévolos pelo resto da sociedade. Mas, mesmo assim, apesar de manifestações e greves e descontentamentos que recebem enorme "air play" nos media, temo que o grande público ainda não percebeu porque, afinal, lutam os professores. Seria tão interessante se esta greve fosse simultaneamente adjuvada por um cabal esclarecimento à sociedade e não pelos mesmos discursos sindicalistas que, desculpem, pouco ou nada, trazem de elucidativo a não ser os eternos oposicionismos ao poder vigente.

1 de dezembro de 2008

Nicht nur Sex


Deswegen gefällt mir Stern so sehr!

Pode ser densa, muito política (embora pouco politizada, não obstante um certo alinhamento esquerdista), quase impenetrável no seu elitismo intelectual e alemã, mas é com capas destas que os paradigmas se quebram e humanizam. Eu adoro a Stern e mais ainda todas as capas provocantes com que uma revista seca e áspera se deixa de levar tão a sério.

Melhor do que a capa (bem, também não exageremos) só mesmo a foto-reportagem dos piratas somalis e a celebração dos 60 anos da República Federal da Alemanha (apenas para constatar como se volatilizou a RDA e como é surpreendente que todo um país e uma história desapareçam). Só não gostei mesmo que se metam em comparações sexistas entre a Angela Merkl, que não tem culpa de ter levado com uma crise mundial em cima, e os ex-chanceleres Schröder, Kohl e Schmidt. Sempre a estúpida necessidade de contrapor a mulher ao homem, alguém já se lembrou de fazer o oposto? E eu nem condescendo com feminismos!
Aber immer gut zu lesen.