28 de novembro de 2014

Cante: e um americano é que o definiu bem





Há uns meses mostrei a um amigo americano o que é o cante: "I'm impressed", disse de volta.

Ontem, em pleno Thanksgiving, mandei-lhe a notícia de que o cante pertence a todos. Mensagem de volta dele:

"I was looking for a word to explain it. Artisanal? No. Folk? No. Then I found it: "autêntico"!"



Sim, "autêntico", nem eu diria melhor!

21 de novembro de 2014

Para quem "pensa" que vai ser escritor

O conselho sábio do Michael Cunningham: escrever, escrever, escrever.

http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=4252465

14 de novembro de 2014

Só tive bonecas louras

Andei ontem a comprar os presentes de Natal para os meus sobrinhos Maggie e Manel e dei comigo cheia de preocupações anti-sexistas, anti-consumistas, anti-papéis de género, anti-brinquedos de violência, anti-tecnologia sem sentido e vi a dificuldade que é comprar brinquedos hoje-em-dia. Foi basicamente uma situação "tirem-me deste filme!"
Até aqui eu ainda não me tinha preocupado com brinquedos porque eles são muito pequeninos e gostam mais de tampas de tupperware e o bom e fiel triciclo e uma tenda do que brinquedos a sério. Só que o Manel já sabe o que é uma festa e já se apercebe do que são presentes e acha piada a dar presentes e a recebê-los. Vai daí a Tia entrou numa loja cheia da parafernália diabólica e impaciente da brinquedagem natalícia.
Ora, se compro uma coisa para o Manel, tenho de comprar uma coisa para a Maggie que, com ano e meio muito desenvolto também se apercebe de tudo e um par de botas. Não lhe vou dar Nenucos, nem tachinhos, nem brinquedinhos parvos que preparam as meninas para ser criadas no mundo dos adultos. Lembrei-me que ela gosta de um livro de fadas e detive-me numas bonecas mimosas com asas de fadas. e eis que me assalta o problema: dou-lhe uma boneca loura ou de cabelo castanho?
A pergunta pode parecer estúpida mas não o é tanto.
Eu e a mãe da Maggie somos louras, a nossa Mãe era loura, a nossa Avó era loura e nós sempre e só tivémos bonecas louras. Era natural. Só que as bonecas louras são estereótipos e a Maggie tem os cabelos do pai dela: castanhos. O que é que eu faço? Dou-lhe uma boneca loura e passo a mensagem de que as louras são bonecas mais bonitas? Dou-lhe uma boneca de cabelos castanhos e aí sou eu que não me identifico com a boneca? Sim, confesso que nunca olhei para bonecas que não fossem louras.
Ali estive feita parva com duas bonecas na mão, perdida e abandonada entre brinquedos idiotas sem saber como me decidia.

Mas acabei por me decidir... Isto vida de Tia não é fácil...

7 de novembro de 2014

E o sexo "à portuguesa" depois dos 50 já chegou lá fora

Não nos bastava a crise para sermos ridicularizados lá fora, agora uns "queridos" juízes (homens, pós-cinquentões, portugueses de gema) vêm dizer que, para uma mulher com filhos, o sexo depois dos 50 não é lá muito importante. Acho que sim, que prestam um bom serviço à causa judicial portuguesa em trambolhões com Citius e demais morosidades.
E, claro, quando precisamos de nos internacionalizar, também prestaram um belo auxílio ao desígnio nacional. É que com uma simples sentença nos puseram a correr mundo. Já vamos no "The Guardian" e já passámos pelos americanos. Venham mais sentenças destas que é para a internacionalização continuar.
E, meninas, bora lá a despachar que isto depois dos 50 parece que acaba.
Ele há com cada asno...


No Guardian: http://www.theguardian.com/theobserver/she-said/2014/nov/07/when-a-woman-reaches-50-does-sex-become-less-important  

5 de novembro de 2014

Começámos a morrer

Lembro-me do primeiro de nós, da minha geração que morreu. Renato. Dezoito anos. O choque. A Mãe a dar-me a notícia e eu que a antecipei sem saber como a premonição estaria correcta:
- O Renato morreu. - Não foi a Mãe que disse, fui eu que, sem saber como, lhe tirei as palavras da boca.
Depois os anos de acalmia porque não éramos nós que teríamos de morrer. E aos poucos começaram a chegar: a Cristina, o Nuno. E eu a fazer luto em pensamento pelo choque que me faz perder gente da minha geração.
Ontem fui ao primeiro velório da minha geração. Os outros fui sabendo choque atrás de choque quando já tudo tinha passado. Distâncias e a vida que me manteve longe. Agora não. Noite cerrada e vejo-me numa capela mortuária com gente que andou comigo no colégio, gente que conheço desde quase sempre, porque o meu antes do sempre ficou num país distante. Gente que me parece envelhecida, face a mim e face ao que me lembrava deles. Que vidas terão e terão tido. E vejo-a: viúva. Como é que alguém da minha geração pode ficar viúva? Nem sequer cai bem a expressão cai bem numa rapariga da minha idade. Viúva.
Via-a como se visse uma velha de anos que enterra o marido de anos. Anti-natura.
Reparo à volta e penso que começamos a ir aos funerais de nós. A minha geração chegou à Morte de nós.

3 de novembro de 2014

Filha, cozinhas tão bem

Ouvi-lhe. E emudeço, não por lhe ouvir que cozinho bem quando tanto que eu gostaria de lhe ouvir isso, mas por ter ainda quem me chame "Filha" com som de palavras...