30 de dezembro de 2010

2010


Foi. Nem bem nem mal. Passou-se. Dificilmente tenho outro 2009 tão inolvidável e surpreendente no bom todo que o bom tem.
Só que, pensando bem, eu tive este 2010 de habituações mornas e caminhos aplanados porque me dei 2009. Sim, talvez tenha sido a falta da adrenalina nova, dos anseios todos, das novidades que agora me dão a ideia de um 2010 meio insosso, meio acomodado. Ou então sou eu que sou uma mulher de ímpares e recordo melhor os anos e as idades desemparelhados. Que bom que é tudo ímpar em 2011.
O que eu acho no fundo é que 2009 me habituou mal, muito mal. Foi tão vivido e tão inesperado que se tornou num clímax de Vida, da minha. E como os clímaxes se esvaziam, porque é da sua natureza imanente o esvaziamento, eu aterrei mal na fase pós e o pós leva-nos ao nível do chão e tira-nos das alturas insuportáveis de manter. Em vez de voar, como em 2009, caminhei e as minhas asinhas nos pés não apreciaram muito terem voltado a ser solas (podem até ser solas de pumps mega-fashion, mas solas).
Tive o meu sobrinho: a energia de saber que ele vinha aí e depois o confronto com a pessoa ele quando nasceu. Não sei se foi amor à primeira vista porque o estranhei e estranhei tudo. Mas agora, aos dois meses, ele já me deu tempo e eu descubro que ele é a coisa mais adorável e gostável da Vida. Ainda me pasmo saber a Mana mãe e mais ainda quando lhe oiço a palavra "filho" neste novo vocabulário que agora nos entra Vida adentro. É bom este episódio.
De resto, continuei a domar esta Casa de ecos e espaços, de passados e fantasmas. Já vou habitando as divisões quase todas em vez de morar apenas no meu quarto, na biblioteca e pouco mais com medo das paredes que falavam. Aos poucos vai ficando, ou já está mesmo, irreconhecível face aos diversos passados que por aqui passaram desde a morte da Mãe ao meu não-casamento. Teria sido mais fácil vendê-la e Deus sabe que um tempo houve em que essa ideia era uma obsessão. Acabar com tudo. Vender o passado. Mas como é que eu ia vender os fantasmas? E eu, que depois de a Mãe morrer lhe quis calçar à força os sapatos de matriarca, ia ser matriarca onde? Era aqui que eu tinha de ficar. Aqui começava a minha luta por um presente novo. Eu começava aqui. Caramba, eu era uma mulher de coragem, ou não? Aqui estou e vou amando a Casa como já a odiei na demonização personificada que lhe conferi.
Foi também o ano de me virar para os terrenos. Com a Casa mais exorcizada virei-me para outra frente: passo a passo. Acho que me estou a sair bem. Mais importante, ando a recolher as peças do meu cadáver, a colá-las para renascer. Se calhar precisei destes doze anos de luto, que nem foram bem de luto, foram de absoluta dilaceração. Esqueci-me da Vida de mim, devastei-me, não-casei-me daquela maneira e só agora estou a emergir num parto que demora. Mas já respiro a plenos pulmões. É bom este ar. Posso até andar cansada, afinal enxotar fantasmas, querer um matriarcado, domesticar a Casa a chicote e ressuscitar terrenos é obra! No meio disto tudo ainda tem de me sobrar tempo para o Tempo de outras coisas, das coisas que nos acontecem a todos e que em todos nos são exclusivas. Se calhar é isso: 2009 foi tão especial porque foi só meu; 2010 foi menos excitante porque trabalhoso, porque cheio de frentes, porque cheio da Vida interrompida há doze anos que gritava para que eu a tirasse das silvas e das heras que lhe tinham crescido por cima. Aqui estou, de foice na mão (mas sem martelo) pronta a continuar o desbaste.
Veremos 2011...

A todos que aqui vêm e se detêm nas frivolidades que por aqui deixo nesta cadeira freudiana: obrigada. Um excelente Ano Novo.

29 de dezembro de 2010

Bater perna

Tarde de chuva. Saldos. Centro comercial. Os meus afilhados. A minha amiga C. Não tenho pachorra nem para tardes de chuva, nem saldos e muito menos centros comerciais. Só posso mesmo gostar dos putos e da minha amiga... E porque é que eu tenho a impressão que saldos significam só trapagem investível e incalçável? E já agora, também será impressão minha ou a malta ainda não se deu conta de que estamos em crise?

28 de dezembro de 2010

Só mesmo neste país!

Se ele há coisas essenciais à vida como respirar é acordar, fazer café forte em chávena king mega size e passar em revista as notícias. Heaven! Mas neste país, o Heaven! passa rapidamente a Hell! porque quando menos esperamos: bang, lá vem bomba!
Eu admiro, sinceramente, as mentes brilhantes que pensam em coisas como esta, i.e., o Estado devolve aos partidos as multas que os dirigentes, ou outros, recebem. Não acham isto genial? Eu acho! E como as ditas cujas coimas engrossam as despesas partidárias, fixe: no final do ano o Estado tem de arranjar provimento para um orçamento partidário engrossado. Brilhante! Devíamos exportar esta ideia, com chorudos direitos de autor, aos paspalhos dessa Europa que se diz civilizada!

26 de dezembro de 2010

Cansada. Cansada demais. Rodeada de muito, do muito que não quero que me falte. Rodeada de muitos, dos muitos que não quero me faltem. Porém...
Vou desmanchar a árvore. O Natal não começou bem. Não sei como acabou mas tendo em conta as circunstâncias acho que até acabou bem. No meio houve o Pai, o Pai que é uma força da natureza, e acho que foi ele que me fez o Natal este ano. No meio houve também o bebé Manel (são dele os pézinhos que agora me descansam no aparador).
Já pensei se não estarei a ressacar destes dois anos loucos de adrenalina a mover montanhas e a viver à pressa. Ou então estou a ressacar da morte do Nuno. Ou então é tudo junto. Quando olho à volta a pensar que tudo já faz sentido, que já cheguei lá, o horizonte fica mais longe e isso confunde-me. Olho outra vez e está tudo no chão. Encho-me de questões não verbalizadas e mal articuladas na mente. Questões que se eu materializar ganham vida e eu prefiro-as dormentes para fingir que são inconscientes. Fingir que não existem. Fingir que não me magoam...

23 de dezembro de 2010

Em Babel

Não me lembro de adormecer. Lembro-me do vento em silvos. O vento solto e forte de campo descoberto e amplo. Lembro-me de pôr o despertador para muito tempo antes de me ser necessário acordar. Planeei ir ter com a tua tia. Falar-lhe sem saber o quê, só à espera que o olhar dissesse que não foste em vão. Planeei ir ter contigo. Não conseguiria passar por ti no dia em que te sei aí e ignorar-te sem me deter.
O alarme toca. Esqueço-me porque tenho de acordar. Lembro-me mas a coragem quebra-se. Fico na cama a olhar a claridade coada que entra pelas persianas. Não sou capaz. Não, ainda vou a tempo, penso melhor.
Visto-me de bonita. Sempre quis que me visses bonita. Tento forçar o pequeno-almoço sabendo que a angústia sempre me levou o apetite. A angústia vence.
Saio.
Entro na loja da tua tia e, graças a Deus, é a tua prima que lá está. Como é que eu, agora que tenho um sobrinho, como tu foste da tua tia, a ia enfrentar? O que é que ela sente, ela que também te adormeceu nos braços nos intervalos da tua mãe? Que dilaceração eu não sentiria?
Não são precisas muitas palavras. Estávamos todos lá no passado. Não são precisas grandes explicações e das outras eu prescindo. Recuso-as. Peço-lhe que dê um abraço à tua tia e digo-lhe que não insisto em enviar um à tua mãe para a poupar de mais memórias. Ela diz que não, que o vai dar, que o quer dar.
Vou ter contigo.
Não sei porque te trouxeram para aqui. Foste feliz aqui? Terá sido por isso? Por aqueles Verões e férias? Pela liberdade que aqui tinhas e que talvez nunca tenhas tido onde moravas e a tenhas procurado da maneira como o fizeste? És livre aqui? Também só eu aqui permaneci quando a minha família morreu. Percebo. Aqui temos o vento. O vento que me desalinha os cabelos sedosos de limpos do meu cosmopolismo quando entro para te visitar. Demoro a encontrar-te. Uma campa fresca de lama. Flores que dizem que morreste agora e que eras querido. Vês como te sentem a falta? Ajoelho-me como se te estivesse à cabeceira.


- Foste querido e tenho pena que seja tão tarde para te dizerem isso. Espero que tenhas encontrado a libertação. Que te seja suave e pacificadora.


Falo-te. Lembro-te enquanto afago flores molhadas de chuva. Deixo-te uma rosa, encarnada, despida de ornamentos. Levanto-me e vou-me embora. Um traço magro de cor por entre mármore encardido pelos elementos. Apercebo-me que é a minha geração a que agora começa a levar com os embates que eu via a geração dos pais levar. Sou eu agora que vou contando os mortos. Já devemos ser adultos para nos confrontarmos com isto. Adultos no sentido de vividos.
Regresso à carrinha e sigo para a cidade onde vou dar amor e ver olhos que começam a ver. Estou cinzenta por dentro. Na alucinação imagino que falas comigo na coincidência de ouvir os Queen em "Too much love will kill you, just as sure as none at all". Falaste comigo? Sinto-as escorrem-me pela face. Grossas e quentes. Contornam-me o queixo e escorrem pelo pescoço. Não as aguento.
Chego a Lisboa com a cara a repuxar de lágrimas secas. Passo o resto do dia a olhar um céu estranho através de janelas de cidade. Sobre a mesinha de café, dorme numa alcofa um embrulho de gente e por detrás imagens sem som de um mundo aberrante que leio em legendas.
Babel. Não a Torre. Babel o filme das coisas ininteligíveis. Sinto-me personagem em Babel. Falo com mortos na cabeça enquanto um bebé me dorme em frente do sofá onde estaciono os pensamentos.
Reconheço-o, o luto. Não queria estar aqui, em luto. Guardo-te para sempre como N. nos meus diários, como Nuno nas minhas memórias e vou ver-te para sempre como eras: um tipo com um futuro maiúsculo pela frente e céu nos olhos.

Só hoje te consigo dizer:
Descansa em paz...

Nuno,

Não sei como te escrever. Sei que quero escrever de ti. Não estou em choque. Não estou a reagir na incredulidade, na surpresa violenta com que reagi quando soube da Cristina. A F. saiu daqui agora e tu calhaste em conversa. Ela não te sabia um capítulo na minha vida. Engraçado como ela poderia ter saído hoje daqui, de uma das nossas conversas, sem que eu soubesse de ti. Eu ignoraria. E na noite de Consoada iria, como nestes anos todos, lembrar-me: "O Nuno faz anos hoje." Um pensamento que duraria os segundos de se semi-materializar na minha mente mas estarias lá nesses segundos. Não sei, portanto, como estou a reagir. Se for para a cama levo-te no pensamento e não será só por uns segundos. Lembrar-me-ei de tudo, das canções que compunhas e tocavas à viola, da tua voz, de tantas coisas.
Eu augurava-te um futuro escrito a maiúsculas. Admirava a tua inteligência e a capacidade de articulares conversas. Acho que me ficaste como marca em muitos dos homens de que gostei a seguir a ti: olhos de céu a espreitarem nos óculos e o cabelo louro dourado, quente, amistoso, diferente do meu mais agreste. Talvez inconscientemente eu tenha estabelecido em ti um paradigma ou talvez, aqui neste Meridião, me lembrasses os homens do meu Norte original. Não sei. Sei que gostei de ti e que me fui lembrando de ti à medida que a minha vida se separou de ti.
Não te reconheci na última vez que nos vimos. Estranhos. Vidas muito distantes. Universos de galáxias diferentes. Acho que me desapontaste mas é terrível de mim, depois de eu saber disto, dizer uma coisa destas. Não vi o teu futuro escrito a maiúsculas e o meu estava ali, em negrito e sublinhado. Apareceste-me escrito normal. Foi isso que me desapontou. Que terrível de mim ter pensado isso. Que terrível hoje.
Sim, tudo nisso foi, afinal maiúsculo. A tua inteligência rumo à libertação última, final, amordaça o meu desapontamento. Foste determinado, louvo-te isso. Calo a vontade de te recriminar. Inibo-me de te julgar. Imagino a cena. A premeditação meticulosa. O jogo do teu cérebro superior a ser usado no plano perfeito, com calma. Não consigo imaginar mais. Páro. Porque se imagino mais acho que vou perder a consciência ou vou desabar.
Sinto o coração a querer bater, naqueles batimentos arrítmicos, sabes? Mas estou a fazer um esforço estóico para não o deixar descontrolar-se. É medo. É medo de aceitar. É medo de saber que sim, que é real. É medo de desatar a chorar. É medo de começar a visualizar. É medo de te perguntar porquê e começar a comparar-me contigo e que eu estou aqui. E eu não posso fazer isso. Eu não te posso dizer:
- Olha para mim. Pensas que tem sido fácil? Pensas que alguma vez foi fácil? Pensas que não pensei nisso? Pensas o quê? Que enfrentamos a Morte e a perda sem que isso nos faça passar o inferno? Pensas que é fácil aguentar um casamento duro e sair dele sem que te deixem sair? Pensas que isto não é uma luta constante? Pensas que é fácil acordar todos os dias com o passado a olhar-te quando te levantas da cama?
Pronto, conseguiste! Ei-las que chegam! E eu não te posso perguntar nada. Não me posso usar como comparação contigo. Nem seria justo.
Vou ter saudades de te saber neste mundo. Não gostaria que um capítulo bom desse passado que acorda comigo fosse tão derradeiro e tão permanentemente fechado.
Vieram enterrar-te aqui. Estavas tão longe e agora estás tão ironicamente perto. Vou passar por ti todos os dias. Todos os dias. A começar daqui a bocado quando amanhecer e eu passar no mundo dos vivos à tua porta.
Ó meu Deus, que esta hora me passe depressa. Ó meu Deus, eu estava a protelar. Ó meu Deus, que o meu choro se cale. Ó meu Deus...

22 de dezembro de 2010

Presentes, check!

Já estão todos tratados!!! Ufa! Tudo embrulhado. Tudo pronto a distribuir.
Só o presente do Sr. Dom Spotty José é que não cabe debaixo da árvore e já está a ser estreado: uma casota super cool em versão vivenda com sótão com janela que abre e fecha, ventiladores nas paredes que também abrem e fecham, enfim, o último grito da Arquitectura canina (e um rombo orçamental). Só não consigo descobrir é se o Senhor em causa se sente encalorado ou se, pura e simplesmente e à sua boa maneira, está a protestar com a sua Dona Blonde. É que não há tapete ou colchão que a dita Senhora lá coloque na casota nova que não seja arrastado inclementemente para a rua (sim que a casota até está dentro de outra casa), para a chuva e para a lama.
Este cão tira-me do sério!!

21 de dezembro de 2010

Xmas spirit


Slowly, slowly a entrar no espírito da quadra.
Slowly, slowly a entrar nos rituais.
Slowly, slowly...

E acho que vou mais devagar que o ano passado porque este ano já não há a pressa de ser Eu. Já sou... Eu. Já cheguei e agora a viagem segue em cruise control.

Ah, o Natal, o Natal...

20 de dezembro de 2010

Ganda Markl!


Nunca em dias da minha vida eu pensava ir ouvir um Cromo do Markl a propósito dos Wham! E logo com "Last Christmas"! I so totally digged it!
Em '84 eu era a versão loura da Pipi das Meias Altas, trancinhas e tudo, mas o que eu curtia os Wham!, melhor: o que eu curtia o George Michael, o tal que o Markl diz que parecia a Princesa Diana naquele cabelinho louro e bimbo.
Fartei-me de rir a imaginar-me a gostar da canção, colada ao televisor e a Mãe com o cérebro a derreter porque eu punha aquela música a tocar no gira-discos o dia inteirinho. E quando não era o gira-discos era o toca-cassetes e também tinha o "Last Christmas" gravado numa daquelas geringonças de fita magnética (que eu era muito tecnológica e, como hoje, muito precavida!).
E, como nem sempre me posso identificar com os cromos do Markl porque as minhas referências estão noutro país, fiquei toda contente ao estilo:
- Fixe!, haja um cromo que eu percebo, partilho e me lembro! - E lá pensei que, como eu, àquela hora, haveria muita gente desta minha geração a achar piada àquilo e a rever-se. Amei!
E agora olhando em flashback: Nossa Mãe do céu, as figurinhas que a malta faz quando é pequena...

19 de dezembro de 2010

Mary & Max - Simplesmente fabuloso



E eu d.e.t.e.s.t.o. filmes de animação.
Há que séculos que um filme não me enchia assim as medidas. Lindo. Lindo. Lindo.
O retrato de que todos temos vidas disfuncionais. Todos vivemos com uma série de "issues". Todos queremos ser felizes e, no fundo, no fundo, não há vidas vazias, há é vidas incompreendidas.
Caramba, amei!

É de 2009 e australiano. Não passou por cá mas ganhou tudo o que há para ganhar (excepto o Oscar, mas, afinal, quem precisa de um Oscar?). E tem o Phillip Seymour Hoffmann irreconhecível na voz de Max. Eu já disse que é genial?

18 de dezembro de 2010

E com este frio?

Apetece-me ou não me apetece ir ao ginásio, agora, daqui a nada?
Não, não me apetece.
Mas se não for hoje só posso ir segunda ou terça. E se não for hoje fico com problemas de consciência. Mas fui ontem. Sim, fui ontem, mas tenho de ir hoje que a vida não está para preguicites e o desporto faz falta. Ok, mas não me apetece mesmo nada. E está frio. E o meu PT não está e eu vou estar em auto-gestão ou vou gramar com outro que não percebe nada. Está bem, mas antes estar em auto-gestão ou gramar outro caramelo do que ficar aqui em casa feita parva a escrever posts idiotas. Pois está bem, mas continuo sem apetecimentos. Então e o que é que te apetece fazer? Olha nem sei. Ir fazer as compras pendentes nem pensar que não enfrento compras em fim-de-semana antes do Natal, ir trabalhar nos zilhões de coisas que tenho MESMO de fazer também não me está a apetecer. Daqui a bocado chega a Paula e o sossego vai-se. Depois vou sair e entretanto passou um dia estupidamente.
Aaaargh, vida estúpida. Vá, vai-te mas é equipar e marcha-me esse rabo para o ginásio que já me estás a irritar! Caramba de moça!
"Pronto", ok eu vou, mas sob protesto! Seja tudo em prol da luta anti-efeitos-da-gravidade. Ó vida!
Fui! (mas muito ao relantim e com uma tonelada em cada pé...)

16 de dezembro de 2010

Quem era o crómio...?

... ao lado do candidato semi-Alegre? Pareceu-me outro semi-alegrete. Ó por favor!

No resto, vendo a situação na Grécia, o PREC IV, os layoffs e demais insanidades, ao menos a malta vai-se entretendo alegremente antes que o FMI estacione aqui em definitivo.

15 de dezembro de 2010

Diários agrícolas: Blonde 1 - Pombas de louça 0

E não é que eu estava enganada?
A coisa é a seguinte:
Desde que peguei em mim e decidi que é tempo de tomar certas coisas em mãos, nomeadamente a vertente agrícola e outros sucedâneos cuja razão de existir começou num Junho há doze anos quando a Mãe morreu, fiz uma petição na Câmara para que um vizinho, que pensou certamente que eu tinha morrido com a Mãe (morri mas em versão fénix), fechasse uma janela enfeitada com pombinhas da Catrina que abriu despudoradamente sobre um dos terrenos aqui da je. O vereador lá me respondeu e eu pensei que "balelas, não vai acontecer nada e já me vejo no tribunal a resolver o assunto derivado da questão". Enganei-me. Hoje passei pelo terreno e não é que em vez da janela está uma coisa horrorosa cimentada de cinzento? Gosh, I'm proud!
A parte séria da coisa é que me vejo a tomar todas estas decisões sózinha e a seguir em frente. Vejo-me arcar com esta Casa, com os hectares de terra, as responsabilidades que não pertenciam à minha vida já de si repleta de responsabilidades e vejo-me andar, andar sem parar. Nunca pensei ter força para tudo isto. Nunca pensei conseguir suportar toda esta engrenagem que eu via funcionar antes da Mãe morrer, quando outras almas oleavam tudo para que tudo me parecesse suave quando é tudo, afinal, tão pesado.
Sim, vou seguir em frente. Resgatar a terra, como tenho resgatado a Casa. Vou pô-la a produzir, não como no antigamente porque não conseguiria, de todo, administrar pomares, vinha, chão de cereais. Vou domá-la à minha medida e, no fundo, vou amá-la como outros a amaram, outros que eu tanto amo.
Hoje, agora, estou tão orgulhosa!
Mutti, Tu que vês, que dizes? Estou a sair-me bem?

14 de dezembro de 2010

1º Debate Presidencial

Candidatos perdidos. Fernando Nobre vs. Francisco Lopes. Não me interessou. Nem me lembrei. Vi excertos. Nem me aqueceram nem me arrefeceram nem prestei atenção. De início, nos preliminares da campanha há uns meses, ainda pensei que Fernando Nobre fosse um escape para quem de nós já não se revê na máquina politizada. Demitiu-se da campanha. Esfumou-se. Não se deu a visibilidade que podia grangear. Dêem-lhe um Nobel e esqueçamo-nos deste seu passo no circo de lama onde se afoga e para onde veio imberbe e inseguro.
O outro... não comento aquela ala política balofa que merece o seu lugar nos livros de História mas para a qual o presente não é um lugar.

Delícias do campo


E se de repente vos baterem à porta com uma caixa de tesouros destes, isso chama-se: as maravilhas da vida no campo...
Yummie!
(Doces que sobraram da festa de Domingo, doces hoje, o Natal à porta... a coisa tá brava com a doçaria...)

13 de dezembro de 2010

Presentes FedEx

Com o Natal a chegar a minha pachorra para enfrentar os empórios do consumismo esgota-se antes sequer de existir. Por outro lado, não embarco nos falsos moralismos que oiço por aí do género: o Natal é só para as crianças, os adultos não levam presentes; ou ai que este Natal a coisa está mal não há presentes para ninguém. Eu acho que Natal sem presentes não é Natal. Gosto de dar e, caramba, gosto de receber e escusam de vir com a história gasta da Festa da Família porque se uma família só for família no Natal algo vai muito mal. Eu faço e tenho festas de família sempre que estamos juntos, o Natal é uma festa diferente porque, lá está, mete presentes, mete outro estilo de decoração, é mesmo no pico do Inverno, mete a percepção religiosa, é diferente e, portanto, nada tenho contra os presentes e outro tipo de pequenos excessos.
Isto a propósito das minhas comprinhas de presentes. Já comecei. E já começaram a chegar as compras. Vêm por FedEx este ano. Como estou danada com quem manda no país, decidi entrar numa de manifestação silenciosa. Eu sei que, mais do que nunca, devia dar um exemplo de altruísmo patriótico e ir esbanjar o meu dinheirinho cá dentro da economia. Mas, e eis a questão, isso é o que eu faço o ano inteiro: devolvo à economia, em diversas formas consumistas, o que ganho. O Estado agradece das maneiras mais obtusas com que actualmente nos confrontamos. Por conseguinte, neste Natal, resolvo egoistamente não devolver à economia da maneira habitual. Não é que faça falta o meu contributo, mas deixem-me, ao menos, pensar que me estou a revoltar.
Mais que não seja, pelo menos, vou dar presentes muito originais...

12 de dezembro de 2010

Árvore 2010

Não ficou tão original como a do ano passado, mas já não consigo passar pelo ritual de montar o pinheiro de plástico só porque é giro ter um pinheiro nórdico gigante (ugh!) e nem estou para ter o trabalho de ir desencantá-lo à casa de (des)arrumos.
Serrote de jardim em riste, carrinha por montes e vales e na mata mesmo aqui ao pé de casa (os montes e vales não eram assim tão longe) ei-los, os ramos para a árvore deste ano (e a carrinha a precisar de banho depois de tanto TT).
Porém, o melhor dos melhores nem é a árvore, é a casa cheia como se não tivesse havido aquele passado. O que eu adoro o calor das conversas e os sorrisos abertos, a lareira bem afogueada e o quente de casa vivida. Faço brindes por tudo e por nada porque é bom dizer "amo-vos" e porque o hoje está garantido, o amanhã não sabemos. Já tive perdas demais. Carpe diem.
Agora, bom agora aguento-me a comer sobras o resto da semana...

10 de dezembro de 2010

Dramas do Divórcio

Comprei a Focus desta semana, logo eu que sou mais da Sábado e da Visão, por causa da parangona do título: "Dramas do Divórcio". Grande treta. Leio a reportagem toda e chego ao fim com a convicção que já tenho há muito tempo: realmente o meu divórcio deve ser uma coisa absolutamente fora de qualquer norma. E realmente, as leis deste país em matéria de divórcio são a coisa mais emaranhada e mal-feita que imaginar se possa. Sim, porque só mesmo neste país se concebe que as audiências sejam calendarizadas com seis meses de intervalo. Só neste país se concebe que haja a figura ridícula do divórcio sem culpa quando se discute na barra quem tem culpa. E só mesmo numa reportagem idiota se pode escrever que o pior erro é entrar na justiça com um advogado agressivo. Bem frita eu estava se não tivesse um advogado agressivo! Quer dizer, chegava ao juiz e dizia: Meretíssimo, o meu futuro-ex pode ficar com tudo o que os meus ricos pais me deixaram, o meu futuro-ex pode sair deste casamento na presunção acertada de que casou com uma herdeira rica (bem gostava eu de o ser, mas enfim) e eu posso pagar-lhe carro e montar-lhe casa que é para ele sair do casamento com a vidinha bem tratadinha. E sim, Meretíssimo, perco a conta aos processos em que se desmultiplicou este divórcio. Condene-me em todos a pagar compensações milionárias ao pobre do meu futuro-ex tal como ele tão encarecidamente pede. Sim, porque um divórcio, a menos que o meu seja ainda mais anormal do que é, não é nada mais nada menos do que uma das partes querer sacar o máximo que puder da outra. Ah, e nisso eu também devo ser uma anormalidade: só peço uma coisa, divorciem-me, sff!
Mas que treta de reportagem. Realmente!

Acabou o Contra


Ó que pena, e nós tão precisados de humor (do bom) com que se distraia a nossa cinzenta sisudez.

9 de dezembro de 2010

Homem do Ano


Apesar de tudo, acho que a Time o devia eleger Homem do Ano. Fico a aguardar.
E apesar de tudo, o tipo é um génio que vai dar muitos filmes em Hollywood, e fazer rios de tinta correr em biografias. Também fico a aguardar.
Estas mentes de QIs gigantes e inadaptações concomitantes fascinam-me.

6 de dezembro de 2010

Começou o meu Natal


É a primeira vez este ano que oiço "Last Christmas". Estaciono no Martim Moniz. Chove. Apetece-me andar e estou com tempo. Lisboa está cinzenta como as pessoas. Atravesso a Praça da Figueira por entre fumo de castanhas. O Rossio. Subo o Chiado como na canção. Gosto de andar à chuva. Prescindo sempre o guarda-chuva mas hoje chegaria ensopada. Es ist immer so gut. Immer diese warme Freundschaft. Die Erinnerungen...
O tempo é uma coisa tão rara. E Lisboa, assim sob a chuva no triste da tarde, nas vidas apressadas de passos, nos turistas, Lisboa elegíaca em cinza, tão bom.
Recebo chocolates de Beja. Vêm quentes de sol do passado no calor do presente. Hab'ich es nicht gesagt wie gut, immer so gut, die warme Freundschaft ist?
O meu Natal começou hoje por entre pingos de chuva e palavras mornas que se trocam e chamam outras. Palavras que vêm de longe no Tempo e que sabemos estão apenas à distância não de um Aufwiedersehen de circunstância, mas de um auf Wiedersehen redondo de volta. No Chiado ou em qualquer outro lugar...

Correcção meteorológica

E não é que o tempo h.o.r.r.o.r.o.s.o. melhorou? Agora o que eu pedia mesmo mesmo era menos humidade e, já agora, pressão na torneira e menos falhas na electricidade, se faz favor, é que isto de morar no campo tem que se lhe diga (e eu não me apetece ir tomar duche na casa-de-banho do rés-do-chão à conta da falta de pressão, ok?).

5 de dezembro de 2010

Blhack!

Que tempo mais h.o.r.r.o.r.o.s.o!
E porque é que tenho sempre mais frio na casa dos outros do que na minha?

4 de dezembro de 2010

Feia

Senta-se pesada e imóvel como um fardo à minha frente. Cruza os braços que mal se dobram sobre a barriga proeminente misturada com o peito. Fita-me. Encara-me directo. É feia. Desagradável. Os lábios finos escorrem para baixo dando-lhe a expressão de mal com a vida, de mal com o mundo, de mal consigo. Continua a fitar-me. De alto a baixo escrutina-me. Sem vergonha. Os olhos fixos, inexpressivos. Imagino-a amarga e seca. Imagino que perdeu a vida num azedo de limão. E o olhar que não me larga. O que é que vê? Como me vê? O que é que aquele cérebro antipático pensará da mulher em frente? Acusar-me-á? Reflecti-la-ei na antítese?
Sinto, para lá do desconforto, nojo. Nojo pelo olhar lívido, plenamente ausente de qualquer sentimento. Não o consigo ler. E olhos que não se lêem são anti-naturais. Imagino-a com algodões nas narinas num caixão. A visão pavorosa nunca me ocorreu na vida. Vejo-a morta e é igual ao que vejo em vida.
Chamam-na. Levanta-se a custo sem agradecer a ajuda. Arrasta-se. Deixa cair uma revista que olha com desprezo no chão. Nem ela nem quem está com ela a apanham. Vai-se embora caminhando morta.
Acho que vi um fantasma morto que ainda não se apercebeu que morreu.

2 de dezembro de 2010

Este país humilha-me

Não é que eu tenha por hábito revelar-me aqui na vida profissional. Mas como é, pelo menos, a segunda vez que o meu mail profissional assiste a uma cena destas cá vai.
Mail vindo dos USA a propósito de uma conferência que estou a organizar em Bruxelas:

Dear Dr. Blonde,
Blablabla, blablabla e agora o giro da coisa:
If you don't mind me asking, are things as scary in your country regarding debt as the news and financial markets indicate? We were talking yesterday in my class about Portugal and Spain in relation to what happened to Ireland earlier this month. I would love to share any insights you might provide with my students.
Best,
X

A reacção educada é, claro, ignorar, embora me tenha passado pela cabeça responder a dizer: I'm afraid I'm not a financial expert. A reacção que, porém, isto merece é fazer um forward ao nosso PM e pedir-lhe que responda sff. Estou a chegar perigosamente ao limite da vergonha. Sinto-me quase como se sentiam os sul-africanos nos anos 80 quando viajavam e punham um sticker com a bandeira do Canadá na mala ou na mochila pois não queriam ser associados ao país do Apartheid. E o que me irrita bestialmente é que, em nome de brios nacionais (que feliz ou infelizmente ainda sinto), eu não responda algo do género:

Sim, as coisas estão realmente medonhas porque há gerações que somos governados por mentecaptos, políticos decadentes com a mania das grandezas, gente com vistas curtas e inteligência diminuta, capazes, apenas, de políticas de corredor, de compadrios e simpatias mesquinhas, gente que ignora o supra-bem comum e que trata o Estado como um feudo pessoal-partidário. E vocês meus bimbos americanos, em vez de andarem na sobranceria que questiona a desgraça alheia, bem responsáveis foram por estes imbróglios. Experimentem, pois, levar com os dois anos de congelamentos de salários que o Obama vos prometeu e não me venham cá com mails paternalistas destes que não tenho pachorra.
Best,
Blonde

Eu tenho de levar com cada uma!!