29 de setembro de 2018

Estátua da Liberdade

Nunca pus os pés em Liberty Island. Há sempre qualquer coisa que me impede de descer do barco e ir colocar-me aos pés da Estátua da Liberdade. Aquilo é algo tão icónico que é como se a estátua fosse uma deusa viva e eu queira, por isso, manter a distância não lhe violando o espaço olímpico onde reside. Prefiro vê-la ao longe e abrangê-la na sua magnífica plenitude. É como se juntar-me às horas turistas que a vão ver ao perto fosse uma dessacralização, uma heresia. Assim sendo, contento-me, feliz, por vê-la nesta distância solene e respeitosa.

26 de setembro de 2018

Acordar em Nova Iorque

Ah, que saudades eu tinha de acordar em Nova Iorque! Até da humidade quente e densa eu tinha saudades. Tenho sempre a sensação de que aqui se aloja o coração do mundo e de que todos os clichés da cidade que nunca dorme, da cidade onde tudo é possível se aplicam.
O taxista que nos traz do aeroporto ao hotel é latino-americano. Vive cá há décadas e ama a América, ama Nova Iorque, dá-nos conta do regime de impostos, das oportunidades que tem, das que têm os filhos já criados. Talvez regresse à sua Colômbia-natal e o Trump só vai estar no poder uns tempos, depois há-de sair. Continua tudo igual menos o trânsito que está cada vez pior. Não se queixa da vida. E é isto o espírito americano, o não se queixar da vida.
O hotel fica colado a Times Square e, da janela, do quarto vêem-se os néons, os LEDs que iluminam aquela praça mítica de todos os sonhos e potencialidades. Penso que também hei-de vencer aqui quando se materializarem projectos que tenho e trago. Que cidade rude e avassaladora e, ao mesmo tempo, que cidade positiva. Deixo as malas no quarto às três pancadas e saio para ver se inspiro a cidade. Anything is possible in New York... 

23 de setembro de 2018

Chegar aos States na era Trump

Ainda não tinha ido aos Estados Unidos nesta era esquizofrénica da nova presidência. Ia apreensiva, sabendo da ideologia dominante nesta Casa Branca. Imaginei os americanos no seu pior e pensei que ia ser sujeita ao cabo dos trabalhos de passar pela fronteira. Enganei-me. Redondamente.
Na fila de espera até à Border Control à saída do avião, ecrãs e ecrãs entretêm os turistas e todos os que entram no país com a CNN. Espanto-me por ser a CNN que está ligada aqui. Tudo bem que este ano o meu porto de entrada no país é essa cidade liberal que é Nova Iorque, mas mesmo assim. A fronteira passa-se sem episódios estranhos ou menos normais do que o costume. O país, os americanos estão como sempre os encontro, afáveis e metidos na sua vida. Ando por estados conservadores como o Indiana e o Ohio e não estranho nada, é como se o residente da Casa Branca não fosse quem é.
Em Nova Iorque, o The New York Times continua na sua cruzada pela verdade dos factos, em Times Square os ecrãs gigantes debitam vídeos do Stephen Colbert e do seu talk-show tornado em arma de resistência. Na era Trump, os Estados Unidos estão iguais a si próprios. Gosto.  

11 de setembro de 2018

A descobrir o meu sobrinho

Estamos no carro. Pede-me U2.
- Um álbum qualquer, Tia. Conheço-os todos.
Parte do meu cérebro trava enquanto a outra tenta perceber. Tem sete anos.
- U2? - pergunto.
- Sim, Tia.
Tocam os U2. Sabe as letras todas. Canta-as e o meu cérebro sem perceber aquela possibilidade. Pergunto-lhe se o pai ouve U2 porque nem eu, nem a mãe dele ouvimos.
- Descobri sózinho.
- E gostavas de ir a um concerto dos U2?
- Adorava, Tia. Mas os bilhetes são só para adultos. Adorava, Tia.
Já se passaram uns dias e eu continuo nesta estupefacção. O meu sobrinho de sete anos descobriu U2, gosta de U2 e canta U2 sem que isso lhe seja um gosto ensinado. Que tempo é este que corre tão veloz?

Descubro, por coincidência, que vou a um concerto de U2 para a semana. Não sou fã. Não aprecio particularmente se bem que a minha canção favorita de sempre seja "One" na versão Mary J. Blige e U2. Eu vou ao concerto sem saber que os U2 vinham cá. Vou sem saber que ia e o meu sobrinho que ama e adora não vai porque só tem sete anos. Ele há cada coincidência...