29 de fevereiro de 2012

Mas quando é que chove?

Não me lembro de uma coisa destas: querer chuva e não a ter, sonhar com chuva e não chover, regar artificialmente em pleno Inverno e ver os montes à volta castanhos de chão ainda lavrado mas não despontado de sementes que germinam. Sinto a terra em stress.

26 de fevereiro de 2012

O fim de uma era aproxima-se

Ontem passei o filme todo a pensar na geração que está a sair de cena. Não é só a Margaret Thatcher (magistral, como sempre a Meryl Streep), são as minhas tias alemãs ou o David Attenborough. Nasceram antes da II Guerra Mundial. Viveram o racionamento, os bombardeamentos, a Guerra-Fria e o fim da Cortina de Ferro. Deixaram-nos o mundo tal como o conhecemos. Estão a morrer. Gostemos deles ou não por razões pessoais, ideológicas ou outras, temos de lhes admirar o legado e a vida. Ando a despedir-me da última tia que me resta, reviver a vida dela e tudo o que ela me tem ensinado ao longo da minha. Tenho receio que as mortes deles, dos nossos antecessores, deixe cair no esquecimento da História o que é a História. E, no que me toca, não quero palavras por dizer.

Ah sim, escrevi ao Attenborough.

24 de fevereiro de 2012

Regar a acácia

Rego a acácia que trouxe clandestina do Egipto. Perdeu o viço na secura deste Inverno estranho e eu não quero que morra. À beira do Nilo tinha água. Ironia ter vindo para um país de chuvas sazonais e ressentir-se que lhe falta água nas raízes. Deve ter saudades da voz dos Muezzins que anunciam o dia e o crepúsculo. Talvez se lembre das faluas lentas sobre as águas lânguidas. Talvez morra longe como eu pensei que morria longe antes de a ter arrancado da terra de um jardim meridional. Que Inverno estranho este que não me deixa semear a terra, logo no ano em que me decidi semeá-la e cuidá-la por mim.

22 de fevereiro de 2012

Laranja e gengibre cristalizados

Inspirei-me nas receitas da Cristina Nobre Soares (que eu acho fantásticas) e arranjei maneira de aproveitar as cascas das toneladas de laranjas biológicas que os meus vizinhos me dão. Como adoro gengibre cristalizado (não é tão doce dizer candied ginger?) fiz uma Google search e eis o resultado absolutamente delicioso!

Ingredientes para a laranja cristalizada:
Cascas de 3 laranjas
1 chávena de açúcar
1/2 chávena de água
Água para fervura

Corta-se as cascas da laranja em tiras e levam-se a ferver três vezes (assim que a água ferve desliga-se o lume e deixa-se na infusão um ou dois minutos antes de deitar a água fora e repetir a operação). Depois, coloca-se num tachinho 1 chávena de açúcar e 1/2 chávena de água. leva-se ao lume e mexe-se até o açúcar derreter na água. Adiciona-se as cascas e deixa-se ferver em lume brando durante aprox. 20 minutos. Retira-se as cascas da calda de açúcar e coloca-se a escorrer numa grelha. Quando escorridas espalham-se num tabuleiro de forno revestido a papel vegetal e leva-se ao forno a secar 15 mins. Retira-se do forno e passa-se por açúcar. (Obrigada Cristina!)

Para o gengibre cristalizado:
1 raiz de gengibre generosa
1 chávena de açúcar
1/2 chávena de água
Água para fervura

Descasca-se o gengibre e corta-se em rodelas fininhas. Segue-se o mesmo processo para com as cascas.
Dica: A calda de açúcar e gengibre serve para fazer ginger ale: gasosa, sumo de lima e a calda de açúcar e gengibre.

21 de fevereiro de 2012

Para quando a Symphonica em Portugal?


Acho que tirando o meu Pai e o David Attenborough, o George Michael tem sido o homem mais constante na minha vida. Os reais vêm e vão. Uns ficam mais tempo. Outros partem tão de súbito como vieram. Uns falam uma língua, outros outra. Uns foram louros e outros morenos. E uns já morreram. Todos, porém, perduram nas memórias e só me arrependo de um. Isto para dizer que já não passava uma tarde inteira a escrever e a ouvir George Michael. Ainda bem que é Carnaval sem ser Carnaval.
A ver se este homem melhora de vez, reata a tour e desce aqui ao cantinho à beira-mar plantado, nem que seja, como da última vez, para ir a Coimbra.

20 de fevereiro de 2012

Tubérculos no forno com feta e azeite de especiarias

Isto dar nomes de receitas em Português tem vezes que é tramado. Tubérculos parece uma aula de Biologia. Raízes parece a dieta do homem das cavernas. "Root" não é mais simpático? Root jumbo, não era tão giro? Enfim... saiu "Tubérculos no forno com feta e azeite de especiarias", que trampa de nome! Mas come-se bem e é o que interessa.
Inspirado no Foodnetwork e com twists de Blonde.

Ingredientes:
2 cebolas roxas
2 inhames
2 cenouras grandes
1 batata doce grande
1 limão
1 queijo feta
1 colher de chá de cominhos moídos
1 colher de chá de grãos de coentro em pó
azeite (talvez 1dl mas fiz a olho)

Numa saladeira grande colocar o azeite e as colheres de cominhos e coentros em pó e mexer. Cortar as cebolas e os inhames em quartos, as cenouras em pedaços diagonais, a batata doce em cunhas e o limão em rodelas finas e colocá-los na saladeira. Mexer com as mãos até os ingredientes estarem bem envolvidos no azeite. Colocar num pirex e levar ao forno. Quando os tubérculos e o limão estiverem macios mas ainda não cozidos polvilhar com o queijo feta e deixar cozinhar até estar pronto. Servir quente. 

19 de fevereiro de 2012

E o que é que se faz sem TV e net?

A MEO pifou. A net idem. O serviço de reparação da PT é dos tempos da pedra lascada. O que é que se faz quando o mundo se fecha e não há mais nada para fazer?
Corta-se a relva (e a trabalheira insana que foi), limpa-se o filtro da máquina de lavar (outra tarefa inglória) e vai-se para a cama cedo. Fiquei estafada do dia de ontem e concluo que a habituação à tecnologia não é uma coisa lá muito saudável mas que sem ela já não sabemos muito bem o que fazer.

17 de fevereiro de 2012

E o Presidente alemão renuncia em escândalo

Muito eu gosto de ver os gigantes com pés de barro. Exemplos da moralidade e da razão e afinal também se debatem com as questiúnculazinhas com que se confrontam os restantes mortais. Portanto, o Exmo. Sr. Presidente da toda-poderosa Alemanha anuncia, por entre grossa escandaleira, que renuncia ao cargo. A Sra. Dona Merkel que se fique com esta, hab'ich gesagt!

16 de fevereiro de 2012

De vez em quando

Não há nada giro, ou espirituoso, ou sagaz para dizer. Nem há notícias tremebundas e necessidades de comentar seja o que for. De vez em quando as coisas são assim como este tempo: frias e secas.

14 de fevereiro de 2012

Afinal não matei as roseiras!

Pareço uma anormal de tão contente estou por ver que as roseiras não morreram com a poda que lhes dei e já despontam em ramos viçosos e tenros.
Nunca tinha podado (é a crise) e as roseiras são memórias da Mãe. Não queria que morressem. Pelos vistos vão dar rosas... Que bom.

13 de fevereiro de 2012

Fim-de-semana entre o bom e o esquisito

Família. Tulipas. O bebé Manel. Os dias de sol. Coisas que me enchem a alma e a vida.
Palavras impensadas que saem antes de serem apanhadas e guardadas. Palavras que lembram passados e que doem presentes. Gestos conciliatórios. Aproximações e esquecimento. Equilíbrios precários numa Vida pouco convencional. Jogar felicidades em malabarismos complicados. Fechar o coração para abri-lo.
Oscilo sobre o precipício a meio do vácuo entre as duas margens. Tem vezes assim em que a ressurreição do esquecido nos alerta para o Presente e a razão ou falta dela para termos chegado aqui.

12 de fevereiro de 2012

Whitney Houston (1963-2012)


Esta apanhou-me desprevenida embora fosse mais ou menos expectável. Lembro-me de fazer com a Mana uma coreografia para "I wanna dance with somebody" e isso já me parece tão distante. Tão distante como este vídeo, tão ainda próximo, da Whitney com o George Michael no ano em que a Mãe morreu. Somos tão pouco na vida...
RIP

10 de fevereiro de 2012

Novas do Acordo

Depois de no CCB, Vasco Graça Moura ter dito aqui d'El Rei e suspendido o uso do nefando (Des)Acordo, eis a Faculdade de Letras de Lisboa a enveredar por um caminho de liberalidade: quem quer adopta, quem não quer escreve à antiga. Ontem também o Jornal de Angola criticava o Acordo, dirigindo-se a nós, ex-metrópole, com discursos paternalistas de quem não ratificou, tal como Moçambique, este vexame à língua.
Parece-me que isto não é o fim da discussão. Palpita-me que até à sua total implementação muita água vá correr debaixo da ponte. Por mim, sou contra. As línguas evoluem sem necessidades legislativas, são supra-governos, supra-leis e a prova está na dificuldade que existe em implementar mudanças com a força brutal da lei no papel. Seja como for, a minha vénia a Vasco Graça Moura, ao Professor António Feijó, aos paternalismos do Jornal de Angola e a todos os que, no mundo livre da língua, resistem a esta ingerência anti-democrática no universo de uma língua viva coberta dos pergaminhos que faltam ao Legislador.

9 de fevereiro de 2012

French Toast

Pain perdu. Fatias douradas. Apeteceu-me experimentar fazer. Preciso apurar a técnica para demolhar o pão, mas, para primeiras impressões, não ficou catastrófico.

Ingredientes
4 fatias grossas de pão de véspera
1 ovo
150ml de leite
1 cálice de licor de mirtilo
1 pitada de extracto de baunilha
azeite para fritar
canela em pó e açúcar para polvilhar
amêndoas laminadas para decorar
maple syrup ou mel para deitar por cima

Numa taça larga bater o ovo com o leite, o licor e o extracto de baunilha. embeber as fatias nesta mistura e fritar numa frigideira com azeite suficiente para cobrir o fundo. Dourar de um lado e doutro e retirar para uma travessa forrada a papel de cozinha. Dispor num prato de servir polvilhadas com canela, açúcar e amêndoas laminadas e mel ou maple syrup a gosto. Servir. Eu acompanhei com café. 

7 de fevereiro de 2012

A nova geração de casas: não quero

Os especialistas dizem que a tipologia das casas vai mudar: serão mais pequenas, baratas e eficientes. Sobretudo nas zonas urbanas vamos viver em T0 e T1 que podem ser comprados separadamente ou agrupados. Bem sei que o problema nem é tanto da crise, é da família que encolheu, das pessoas que vivem sózinhas, enfim da modernidade dos dias a que chegámos.
Não sei se algum dia vou ter de sair aqui da minha Casa. Quero pensar que não. Quero pensar que vou ter pernas para lhe subir as escadas, que vou ter sempre dinheiro para as facturas astronómicas de electricidade, que não lhe vou sentir a solidão ou que não vou morrer aqui perdida sem que ninguém me ache. Gosto de casas grandes. Nunca habitei o espaço todo da minha Casa. Ainda hoje não a habito na totalidade. Não me incomoda. Começo agora a reclamar espaços, a senti-los mais meus, a negligenciá-los menos porque, de facto, dentro da minha Casa eu só preciso de pouco mais do que um T1. Mas eu amo-a toda e preciso de saber e sentir que o resto está ali. É umbilical isto. O facto é que a Casa não é minha: é das memórias, da família que aqui viveu antes da morte da Mãe, dos Natais felizes; é talvez das gerações futuras e eu sinto-me responsável por mantê-la. Ou é talvez minha afinal porque os ecos e os fantasmas falam comigo e já não me assustam. Seja como for, podemos ir viver todos em casas mais pequenas, mas, por enquanto, preciso Desta.

5 de fevereiro de 2012

Luz de casa

Às vezes sinto-me como Lord Grantham na solidão de não ter descendência directa a quem legar, não Downton Abbey, bem entendido, mas estas coisas em dimensão muito mais reduzida. A luz de hoje, por exemplo. Fria de inverno, reflectida no mármore velho da bancada da cozinha. Luz de Leste de manhãs a vento. Quem a seguir a mim se deterá no momento da contemplação desta luz no silêncio da cozinha com cheiro a café e pequeno-almoço? Sei que a Mãe tinha momentos destes. Herança maior que eu recebi, recebendo-a em conjunto com a Casa. Sei que há coisas que me chamam. Escolher a Casa tem sido pesado. Continuará a sê-lo. Acho que não me importo com o peso ainda que sinta que deixo escolhas por fazer que me trariam outras felicidades, menos passados. Mas esta Casa sou Eu nos meus grilhões e liberdades. Os meus genes estão argamassados nestas paredes, nos mármores frios e nos ecos. A Mana e depois dela o meu sobrinho farão a geração seguinte e eu serei uma espécie de limbo intermediário. Gostava que qualquer um deles amasse esta Casa com o amor que eu lhe tenho nestes momentos de luz fria que passa pelas vidraças e me enche o espaço de ânimo. 

4 de fevereiro de 2012

Creme de ervilha

Serviram-me esta soupa num jantar aqui há dias. Achei-a: genial e inimaginavelmente simples. Pedi a receita, alterei-a a gosto e aqui vai o resultado.

Ingredientes:
1kg de ervilhas descascadas (usei das congeladas)
1 cebola pequena
1 molhinho de coentros
1 fio de azeite
750 dl de água

Cozer as ervilhas e a cebola cortada aos pedaços na água. Quando cozidos os ingredientes juntar os coentros picados, o fio de azeite e passar com a varinha até ficar em creme. Servir.
genial, não é?

2 de fevereiro de 2012

Arrependimentos antes de morrer

Às vezes, quando me vejo no futuro, penso naquilo de que me arrependi. Este estudo agora divulgado por uma enfermeira australiana sobre os arrependimentos dos seus pacientes terminais também fala um pouco das coisas de que me arrependerei: o trabalhar em demasia, o nem sempre dar atenção aos amigos e o viver de acordo com as expectativas dos outros em detrimento das nossas. Vivemos numa sociedade avassaladora do indivíduo e, ainda que nos irritemos, parece que nunca temos a força suficiente para nos libertarmos dos grilhões que nos ligam a ela e nos fazem reféns.
Há uma coisa, no entanto, que tantas pessoas falam como o maior arrependimento e que eu não vou levar comigo: a expressão dos meus sentimentos. Aprendi isso com a Mãe e com o ver escoar entre os meus dedos os dias com Ela. Nessa lição tremenda aprendi que se deve dizer tudo o que sentimos enquanto há tempo e enquanto é tempo. Acho que nesse campo não vou levar arrependimentos. Levarei outros mas não os do silêncio das palavras por dizer.