28 de fevereiro de 2018

Bremen: Roland

Um dos monumentos UNESCO de Bremen é esta estátua de Roland e, como em quase tudo nesta cidade, significa o culto da liberdade. Segundo a lenda, enquanto a estátua de Roland estiver de pé (e está desde 1404), Bremen será livre.
Roland não tem exactamente relação directa com Bremen mas foi adoptado como seu símbolo por representar os valores da coragem e dessa tal tão estimada liberdade.
Para quem siga a série "Vikings" no Canal História, Roland é Rollo, o irmão do Viking lendário Ragnar Lothbrook. Sim, Roland era Viking, embora haja muitas teorias a seu respeito. Terá casado com uma princesa bretã e abraçado a religião cristã tornando-se num dos paladinos do imperador Carlos Magno, cuja residência preferida era em Aachen, hoje em território alemão.
Tal como nos bons mitos de cavalaria, Roland tem uma espada invencível chamada Durendal, que na estátua de Bremen se mostra desembainhada. E, já agora, para quem tem um fraquinho por literatura clássica, este Roland é o mesmo que inspirou a "Chanson de Roland" medieval e os poemas renascentistas "Orlando Furioso" e "Orlando Innamorato".
Claro que tudo isto é muito giro, muito interessante, muito ao bom estilo das lendas arturianas que povoam o imaginário europeu medievo. Mas, seja como for, é impossível não nos determos em pensamentos sobre quem terá sido o homem por detrás desta lenda. Assim, quando vierem a Bremen (e venham!) já sabem quem é o guerreiro gigante que vos espera na Rathausplatz, a Praça da Câmara.

24 de fevereiro de 2018

Bremen: a rua a caminho de casa

Continuando nas lembranças, tiro esta foto porque é assim que me lembro da rua a caminho de casa. Lembro-me desta imagem como uma passagem familiar nos meus percursos por Bremen quando era pequena e esta era uma parte do percurso que me levava a casa.
Na verdade, esta é a praça central e histórica de Bremen, classificada património mundial UNESCO por causa de dois monumentos icónicos (e ambos nesta imagem), a estátua de Roland e a Rathaus, a Câmara. Falarei deles brevemente. Mas, por ora, isto é o que me fica: a memória da rua que levava à nossa casa, a casa onde passei os meus primeiros anos conscientes de ser pessoa.
Digam lá se não é um bonito caminho de casa?

21 de fevereiro de 2018

Bremen: o "meu" rio Weser

Outras das minhas actividades infantes quando vivia em Bremen era vir com os Heils, ou com os meus pais, ou com os Heils e os meus pais, à beira do rio Weser, o rio que atravessa Bremen e dsagua no Mar do Norte a uns 60 kms de distância numa cidade portuária chamada Bremerhaven (literalmente Porto de Bremen) que, estando separada de Bremen faz parte da cidade-estado-Bremen (coisas do federalismo). Vínhamos aqui para eu atirar pão e migalhas aos patos e às gaivotas. Adorava! Havia dias gélidos em que vínhamos, que o frio aqui não impede ninguém de sair de casa, e eu recordo a nossa respiração fazer nuvens brancas e de dar as migalhas aos patos com as mãos metidas numas luvas que só tinham polegar e o resto era uma saquinho aconchegado para os outros dedos. Vinha toda enroupada e gorro até debaixo das orelhas e vinha feliz junto da água para tratar da bicharada avícola.
Hoje passeio com o meu marido por estas margens. Conto-lhe as histórias das minhas lembranças e é como se eu nunca tivesse saído daqui e este regresso um mero repegar da vida. Olho à volta e apetece-me dizer: Bremen, olha o que eu fiz da minha vida!

17 de fevereiro de 2018

Bremen: o "meu" mercadinho

Esta é uma imagem muito presente na minha infância aqui em Bremen. Os Heils, outras vezes a minha mãe, traziam-me frequentemente ao mercado, a este ou outros, porque os mercados ao ar livre com hortícolas e frutos e outros produtos caseiros das quintas das redondezas são muito populares por estas paragens. Muitas vezes, por ser tradição e por graça, vestiam-me em trajes típicos (coisas muito desprezadas aqui em Portugal e meramente associadas a ranchos folclóricos. Na Alemanha há um garbo e um orgulho pelo envergar trajes típicos) e vinham comigo ao mercado. Lembro-me de muitas vendedoras também estarem vestidas com trajes típicos que, aqui em Bremen, incluem rendas muito finas e uns toucados também em tecido fino e rendado. Lembro-me de em muitas banquinhas me darem fatias de diversas espécies de Schinken (carnes frias) a provar como se eu fosse gente grande e depois, como se eu também fosse gente grande, os Heils perguntavam-me se eu gostava. Se eu gostasse, que era sempre, pediam uns quantos gramas ou fatias da dita Schinken, que era embrulhada em papel vegetal, e chegávamos a casa e fazíamos sanduíches com cremes de maionese e ervas (imaginam o que é chegar a Portugal e as sandes na escola serem só fiambre ou queijo em paposseco, grande choque cultural, isso e a televisão a preto e branco que só abria às seis da tarde).
Ainda hoje me perco por mercados...

14 de fevereiro de 2018

Dia 11: Bremen, cidade livre

Há um orgulho de peito cheio que se sente em Bremen. Bremen é o livre-arbítrio dos homens, a liberdade como valor supremo e quem lê este blog sabe o que me significa a liberdade e o que tanto tenho lutado por ela. Acho que, agora que penso nisso ao escrever estas linhas, talvez seja a minha costela Bremenense (xii, como se dirá isto em Português?) que me fez aguentar sete anos de tribunais para obter a minha libertação daquele mal-fadado não-casamento.
Passo pelo parlamento de Bremen e fotografo com emoção o que diz de ser a casa dos cidadãos livres da cidade hanseática e livre de Bremen. Isto não é um Reichstag imponente e quase ameaçador, isto é uma assembleia, uma casa, de gente livre que se junta para se auto-governar por si própria. Nunca aqui houve reis, príncipes, bispos-governadores (bem, bispos poderosos até havia mas não podiam exercer poder total sobre a população). Aqui é uma terra de homens-livres e é com orgulho que digo: eu cresci numa terra assim!
Como imaginam, vou fazer muitos posts sobre Bremen. Não me sinto nem mais nem menos portuguesa por também pertencer a Bremen. O coração é grande e o amor maior. É possível o amor a dois países. Nunca me questionem de qual gosto mais e nunca me peçam escolhas. Sou portuguesa na totalidade do amor patriótico mas há uma parte de mim que também ama esta terra livre.
Bem vindos à cidade do meu coração. Espero que gostem da visita!

10 de fevereiro de 2018

Dia 11: Bremen

E cá estão eles, agora à luz do dia: os Músicos de Bremen, o burro, o cão, o gato e o galo. São presença constante e conspícua nesta cidade hanseática, cidade livre, cidade-estado: Bremen. Há três cidades-estado na Alemanha: Berlin, Hamburg e Bremen, orgulhosamente o mais pequeno estado da Alemanha.
Morávamos na rua do eléctrico que passa à frente da câmara num prédio de três andares com um jardim relvado nas traseiras que fazia as minhas delícias. Um dia chutei uma bola encarnada com bolinhas brancas para o quintal dos vizinhos e perdi-a. Uma tragédia na minha vida infante. Habitávamos o rés-do-chão, os donos do prédio residiam no primeiro andar e o filho destes e a nora moravam no segundo. Adoptaram-me e, por isso, os avós de que me lembro primeiro são estes: os Heils. Vestiam-me nos trajes típicos e saíam comigo para todo o lado. Era um prédio familiar e eu a única criança. Os meus pais e os Heils viviam, literalmente, na casa uns dos outros (lá se vai o mito da frieza) e as portas estavam sempre abertas. Basicamente, eu vinha dormir à minha cama na casa dos meus pais e o resto dia estava com o Helmut e a Ingrid (os filhos dos donos) ou com os Heils sénior que tinham uma gaiola com dois periquitos, um dos quais um terrorista que me bicou um dedo e me fez temer periquitos até este dia.
A primeira morte que sofri foi do Heils avô. Lembro-me de a minha mãe receber a notícia e ficar lívida. Transfigurou-se e foi assim que percebi que a morte existe e que não tem regresso. Lembro-me da explicação que me deram para não voltar a ver o Heils (nunca o chamei pelo primeiro nome) e lembro-me de pensar que aquela explicação devia ter algum erro porque eu não conseguia imaginar o que era nunca mais ver alguém.
Não nasci em Bremen mas Bremen é o primeiro sítio de que me lembro. Regressar aqui é regressar a um local passado e só percebe este sentimento quem vive longe do espaço onde cresceu. sinto demasiadas coisas para as conseguir verbalizar todas...

7 de fevereiro de 2018

Dia 10: E assim, adivinham?

É muito apropriado que a cidade da minha infância seja conhecida por uma história de infância. Tanta noite que fui para a cama a ouvir contar a história. Tanta noite...

3 de fevereiro de 2018

Dia 10: Chegar à infância

É noite quando chegamos. Noite de céu setentrional de profundo azul em pleno Verão. Está um fresco frio. Deixamos as malas no hotel e eu estou com pressa, pressa de entrar na cidade com os pés e senti-la com o corpo. Cheira a maresia e ouve-se música na rua, algo tão comum por estas paragens. Cheguei a casa, à casa onde me habita a infância. Quero tanto que o meu marido goste desta cidade. Quero tanto que a ame e que, através dela, mais e melhor saiba de mim.
Há pouca gente na rua e a cidade é nossa. Pego na mão dele e sigo um passo à frente como quem diz "Anda! Segue-me!" Sorrio e sou feliz. Olho para ele a procurar-lhe emoções e as que encontro nos olhos vêm-lhe do coração que sorri por me ver sorrir. Há lá algo melhor na vida?

Sim, eu sei que não disse o nome da cidade... Pode ser que adivinhem... :)