27 de setembro de 2008

ABBAmania


"Mamma mia, here I go again! My, my..."

Se alguém me dissesse que um dia na vida eu ia ter um blogue e escrever sobre ABBA umas quantas vezes seguidas, primeiro: o neurónio pedia tradução para saber o que é um blogue; segundo: recusava-se a passar pela vergonha.

Estava eu aqui ontem muito bem sossegadinha no escritório a ver se acabo o raio do capítulo que tenho de entregar para um livro da UMass quando a senhora que cá vem provar o meu estatuto de dona-de-casa desesperada deu para passar a tarde em cantorias do "Mamma Mia" (com direito a todas as vocalizações, variações e intonações possíveis). E, claro, como aquilo é contagioso, lá o neurónio deu para se fixar na música e não se lembrar de mais nenhuma.

Mas, como as donas-de-casa desesperadas não vivem só de deadlines, esta lá marchou à noitinha para o ginásio para dar descanso ao dito. E não é que, justamente, a meio do esfalfamento dos abomináveis abdominais alguém não me vem informar que foi ao cinema ver... tcharan... o "Mamma Mia"?! Mas isto anda tudo doido, ou quê?

Não só me perdi na contagem dos abdominais (rats! and double rats!) como, desconfio, começo a encher-me desta paranóia colectiva. E já agora, o filme está okzinho, mas ouvir o Brosnan a cantar dá pena (pena dele coitadinho, o que não deve ter penado) e faltam cenas que estavam no musical, como o pesadelo da Sophie musicado com o "Under Attack".

Enfim, dado o momento, é caso para dizer:

Under attack; I'm being taken
About to crack, defenses breaking
Won't somebody please have a heart
Come and rescue me now, 'cause I'm falling apart

Sim, não se interrompe uma dona-de-casa desesperada a meio da malhação, please!

23 de setembro de 2008

Galicia es Portugal!

Há uns onze anos entrava eu pela primeira vez na Galiza. Ia à procura das "Ondas do Mar de Vigo", porque a poesia trovadoresca era a única que me fazia sentido nesta língua, a única que eu conseguia ler e perceber. Ia à procura do Caminho de Santiago e levava, para isso, um desdobrável em alemão cheio de mapas e muitas indicações históricas. E ia à procura de Finisterra, queria saber se aquele cabo era assim tão selvagem e místico como diziam. Queria, enfim, encontrar-me a sós comigo.

Estávamos já a despedir-nos da Mãe e eu queria que houvesse algo que fizesse sentido. Sentia-me, na altura, muito perto do transcendente e a Galiza parecia-me um local misterioso onde sagrados e profanos se interligavam. Eu precisava do espaço sagrado numa dimensão fenomenal, primeva e telúrica. Parti.

Assim que atravessei a fronteira despertei para a dimensão terrena. Na berma da estrada, escrito a branco, um protesto ou um desejo: "Galicia es Portugal". Identifiquei-me com aquilo. A Galiza é o que nos falta no Ocidente Atlântico da Ibéria. E claro, quem estuda impérios, contagia-se facilmente por visões estratégicas: um Ocidente português, o baluarte luso ante a Espanha.

A partir de hoje, o Norte português e a Galiza estão unidos administrativamente numa macro-região que pode concorrer conjuntamente a projectos e financiamentos europeus. Onze anos depois voltei a pensar que, irremediavelmente, a Galiza nunca poderá cortar o cordão umbilical linguístico-histórico que a une a Portugal. A Galiza não é Portugal, mas partilha algo da Portucalidade.

De Portugal, eu fui lá buscar a sacralidade monumental da Despedida.

22 de setembro de 2008

Dia sem carros

Segunda-feira. Entro em Lisboa pela 2ª Circular. Nos painéis de controlo de velocidade a mensagem de trânsito proibido nas Ruas da Prata e do Ouro e no Rossio entre as 06.00 e as 18.00.

Já me tinha esquecido que esta palhaçada de brincar aos ecologismos ainda existia!

Qual é a vantagem real de se interditar um escasso perímetro de uma cidade ao trânsito? A poluição desce por causa disso? Duvido! As pessoas ficam mais alerta para os efeitos nocivos do excesso de trânsito nas cidades? Duvido ainda mais! Pelo contrário, acho que é um estorvo fecharem ruas ao trânsito só para parecer bem.

Sou carro-dependente devido àquilo que a língua inglesa designa de "super commuter", ou seja, vivo longe do local de trabalho e enfrento grandes deslocações entre a residência e o emprego. Ainda me convenço que no campo se ganha em qualidade de vida, mas o preço que se paga traduz-se num problema de acessibilidade ao centro urbano. No meu caso, impossível de ser obstado por transpostes públicos. Preciso, por conseguinte, de um carro poluente. Traduzindo, um modelo citadino e amigo do ambiente não se coaduna com os 104 kms da "round trip" que faço diariamente. No dia em que se lembrarem que há, neste país, quem não se possa socorrer de transportes públicos darei a minha atenção a um dia sem carros. Até lá, lamento, mas não me faz o mínimo sentido!

18 de setembro de 2008

I Kissed a Girl

Não ficou o raio de um vídeo inocente? São tão puritanos estes americanos que até mete raiva. Eu a pensar que o vídeo fosse uma coisa polémica de bradar aos céus e sai-me isto! Valha-me Santa Madonna e que saudades do "I Want Your Sex" do George Michael!
Vá lá, ao menos é uma canção boa para as sessões de "body pump"...

P. S. - Quanto ao resto, não faço a mínima, se calhar até é bom, mas... pois...

16 de setembro de 2008

And now we're... PIGS!

Ele há coisas que nos deixam atónitos, esta apanhou-me com quinze dias de atraso. É até verdade, mas who the f... are they to call us that?

Os pundits da venerável instituição bíblica denominada Financial Times, esse pasquim da vida económica e financeira, achou um acrónimo, certamente inteligentíssimo e cheio de um humor requintado, para denominar os bobos da corte europeia, ou seja, nós os tristes que, por contigências geográficas, nos quedamos aqui, impávidos e serenos, no dito Meridião, o Sul do dolce fare niente, da vida bela e despreocupada, da cauda da Europa, os latinos broncos que falam alto e conduzem que nem suicidas. Somos, alegremente os PIGS! E, haja algum lugar em que este país tenha honras de primeiro lugar: é que somos o P dos ditos, seguidos pela feliz Itália, a descontraída Grécia e a bem-disposta Espanha, perdão, Spain.

Admito que a auto-crítica é uma virtude, admito que é verdade que as economias do sul da Europa enfrentam desafios muito sérios e que analistas externos verbalizem os problemas. Não admito é que os mesmos analistas nos olhem com o paternalismo imperial hegemónico deste princípio de século e que nós achemos que "sim senhora, não vamos contrariar as suas eminências sapientes do Financial Times".

Well, at least, us poor, idiotic, economically braindead PIGS do not have a Merrill Lynch or an AIG, ring any bells?

15 de setembro de 2008

Time to move to the present?


Why is it that I'm not holding my breath waiting to see what comes out of this, at all levels, memorable agreement in Zimbabwe?
Will the country actually move up to the present, at long last? Quite true that "Africans should solve the problems of Africa", still...
Nope, not holding my breath.

11 de setembro de 2008

Porque ainda há alegrias...


De acordo com a lógica ciberespácica (se é que existe uma) eu hoje deveria vir para aqui falar na desgraça de ontem, da inoperância que nos caracteriza face à eficácia que invejamos nos outros. Deveria lastimar o azar da Selecção Nacional, mas a lástima é uma forma de pena e eu não entro em comiserações que não levam a lado nenhum. Pela lógica, também, deveria vir aqui rememorar o 11 de Setembro, como foi trágico, como me apanhou numa cena orwelliana ainda no jet lag de ter regressado de Nova Iorque "just in time", mas isso é apenas replicar à exaustão um assunto que, temo, se banalizou.
Ao invés, quero falar do meu ontem e de como, apesar de fustigar este povo que me enerva na sua passividade, no seu laxismo e na sua fraca auto-estima, eu amo na sua meridionalidade atlântico-mediterrânica, e nessa sua sociabilidade dócil que não encontro em mais lado nenhum.
Ainda vivo num mundo relativamente suspenso num limbo entre o campo e a cidade. Conheço pouca gente aqui, mas, e sempre para minha surpresa, todos me conhecem. Os vizinhos depositam-me caixas de uvas à porta, sacos com pimentos e pepinos e alguidares cheios de tomates que transformo em doce que envio em frasquinhos aos amigos espalhados na frieza da Finlândia e da Alemanha, ou que, à falta de destinatários, acaba por ganhar bolor porque eu não como doce. Ontem foi diferente. Ontem vieram dar-me um tupperware cheio de dobrada com feijão, ainda fervente, acabadinha de sair do lume. Senti-me tão privilegiada nesta generosidade. Alguém fez o almoço e, antes de se sentar, deu-se ao trabalho de pôr de parte e entregar um pouco a esta estranha. É comovente. E mais ainda o modo como me deram o dito tupperware:
- Eu sei que a X não faz destas coisas e é muito bom.
É verdade que tenho dona-de-casa desesperada escrito garrafalmente na testa, que vivo de saladas e sopas e só descobri que dobrada se deve provavelmente comer com arroz ao pesquisar no Google uma foto que acompanhasse este post. Mas o que importa realmente é que alguém pensou que eu ando a perder as coisas boas da vida e cá veio obstar a essa triste situação. Fiquei sem palavras...

9 de setembro de 2008

On nationalities and t-shirts




Como diria qualquer loura digna desse nome: "Ah know this might seem a stupid thang", mas a verdade é que, à conta de uma t-shirt me deu para pensar nas coisas que temos por garantidas e às quais nem prestamos atenção, ou, pior, nem sequer damos valor.
Estava eu hoje a fazer umas orais lá na faculdade quando me aparece uma aluna com uma t-shirt que me parecia propaganda à UNITA ou ao MPLA. Sabem como é, o neurónio tem assim uma rapidez e, como se fala só em eleições em Angola, o pobre associou os símbolos da t-shirt a um dos partidos. Primeiro pensou, não, ninguém anda com t-shirts do MPLA e depois, num reflexo comiserativo pensou, "coitada da criatura, como está num país de expressão livre, manifesta-se como pode e deve é estar a apoiar a UNITA". Coitado é do neurónio!
No meio da inquisição do exame, lá o neurónio reparou que na dita t-shirt estava escrito: "Moçambique. Desde 1975". Alto! (E juro que não reparo em t-shirts de alunos). Numa análise mais semiótica deu-me para pensar em publicidade a qualquer marca que ostente o "Est. 1995" ou o "Since 1957". Pensei que andamos a querer promover a Marca Portugal mas nunca faríamos t-shirts com "Desde 1143". Pensei no que deve ser o orgulho pátrio por uma nação recém-constituída, reconhecida, independente ou o que quer que a enforme: hino, bandeira, fronteiras, constituição (governo é irrelevante para o caso).
E quem de nós usaria t-shirts garridas com "Desde 1143" sem ser em campeonatos de futebol? Temos uma sorte imensa em termos corrido os espanhóis à espadeirada (e esturricados em fornos de padeiras!). Acho que nem nos damos conta da "perpetualidade" (diz-se?) da nossa nacionalidade. Temo-la tão garantida que nos esquecemos que também teve de nascer. E lembrei-me de que também o país de onde venho é um parvenu face a Portugal, mas como, enquanto povo, é uma entidade milenar relativamente coesa sustentada, para o bem e para o mal, no orgulho rácico e linguístico, também não paramos em grandes considerações e achamos que se trata de outra nação antiga remontando às runas e aos pergaminhos góticos que atestam a sua unidade. Como será sentir que temos um país desde 1975 (no Kosovo duvido que já tenham tido tempo suficiente para reflectir nisso)?
Depois, à vinda para casa, ouvi na rádio que a Coreia do Norte faz agora sessenta anos, outro parvenu. Eu a pensar que eram menos. Sessenta anos daquilo deve amordaçar qualquer sentimento nacional, ainda que instigue nacionalismos virulentos (eu vi como foi na Alemanha aquando da unificação: "Furchtbar!"). E a notícia só valendo como notícia porque o sucessor do pater-pátria, Kim Il-Jong, não pôde comparecer nas cerimónias (ó que pena!).
Uma nacionalidade milenar é ou não uma quase benção cósmica?

8 de setembro de 2008

Oh mamma mia, mamma mia!

Se há coisas que me irritam uma delas é a volatilidade da opinião das pessoas. E, à conta da estreia da versão cinematográfica do "Mamma Mia", tenho tido a oportunidade de me imaginar um cartoon com aquele balão sobre a cabeça com ponto de interrogação e ponto de exclamação. Confesso até que acho muito divertido dar conta da minha perplexidade graças à facilidade com que oiço toda a gente, apanhada na histeria do filme, mudar de opinião.

Sempre adorei ABBA. Acho que antes de nascer já gostava porque a Mãe era fã. Lembro-me de brincar aos Festivais da Canção e cantar a "Chiquitita". Naturalmente, as cassetes e os álbuns em vinil há muito foram substituídos por cds, vi o musical original ao vivo e a cores e, claro, também o cd respectivo entrou na colecção. Mas, gostar de ABBA nunca foi fácil socialmente. Porque os ABBA eram "pimba", porque os ABBA eram "disco", porque os ABBA eram "drag", porque os ABBA estavam foram de moda, porque os ABBA eram "pop" muito fácil e etc. Enfim, gostar de ABBA sempre contribuíu para o meu descrédito em termos de gostos musicais. Mas, sim, pior do que dizer que gosto de George Michael, é afirmar que sou capaz de pôr um cd de ABBA e ouvi-lo o dia inteiro (quanta produção científica não saíu aqui à conta dos ABBA!). "Coitada é loura, vem lá do estrangeiro e a malta dá um desconto", acho que é mais ou menos assim que as pessoas encaram o meu duvidoso gosto musical. Enfim, há coisas piores na vida...

Agora, subitamente, anda tudo doido numa onda revivalista dos ABBA. Os ABBA? Os ABBA são o melhor "pop" alguma vez produzido! Os ABBA? Os ABBA têm sido a influência musical de toda a gente que canta em praça pública! O que eu me tenho divertido quando oiço esses músicos que sempre disseram que eram endividados à sonoridade do Leonard Cohen ou dos Talking Heads, e outros demais igualmente densos, afirmar agora que os ABBA são brilhantes! E é vê-los aí nas antestreias e nas projecções do filme ao ar livre e por aí fora! Acho isto hilariante! Bem, ao menos o meu gosto discutível passou a bom-gosto na crista da onda!

Aviso já que adoro Demis Roussos e curto "bué" Erasure que, só por acaso, até têm um álbum só com remixes dos ABBA!

5 de setembro de 2008

Can you say that again?

So, it seems I just blondelize you, as in vandalize you, scandalize you or tantalize you? And I rip your "guts" apart, is that it? Hmm... I wonder, is that good or bad? And, could it be that the TRex is being joshualised? Or, quite the opposite, Joshua palavrossaurialises the Rex? Guess I could write another PhD on this one...

Is Blonde being wooed? Or is she being stoned as in that biblical in illo tempore?

3 de setembro de 2008

Só uma ilustração




Apenas uma pequena adenda ao último post.

Primeiro, uma vista do Vale das Borboletas com as ditas que, não sendo realmente borboletas, são mariposas-tigre de Jersey (lá está: o que se aprende nos livros do Attenborough!).

Segundo, o guru, mestre, mentor... Há quem fantasie com estrelas rock, eu fantasiava que ia trabalhar com o David Attenborough. Aos nove já falava Inglês para poder ler e ouvir os documentários no original e porque, se eu ia ser cientista com o Sir David, tinha de me entender na língua dele, não? Enfim, ao menos tenho feito a carreira toda em Inglês e só se desperdiçou metade do sonho...

Still... who knows where dreams and wishes might take us?

1 de setembro de 2008

Back to Life!


E lá se acabaram as férias! (Ó que pena!!!!). Agora é voltar à rotina do acordar cedo e justificar o salário no final do mês, e só de pensar que os dias estão mais curtos e que o Inverno não tarda está aí...

À terceira é de vez, costuma dizer-se, e, parece-me, muito acertadamente. Na minha terceira incursão por terras e ilhas helénicas e, finalmente, descobri a Grécia (já não era sem tempo!!!). De desgosto em desgosto, nem sei como apareceu a força anímica para mais uma viagem à Grécia. Acho que foi mesmo o não querer desistir daquela terra e teimar em encontrar a mística que lhe subjaz. Aleluia, finalmente!

Foi maravilhoso!

Rhodes é uma pérola. Estou contente por não morrer sem lá ter ido. E o mais fascinante para mim não foi andar pela fortaleza de Rhodes ou por Lindos, subir aos fortes dos templários e ver as vistas de cortar a respiração. Não foi descobrir praias de postal ilustrado como em Kolympia ou em Plaka, nem, tão pouco, demorar-me na contemplação da enseada da Anthony Quinn Beach com aquela água esmeralda. Nem mesmo vaguear por entre as ruínas da cidade de Kamiros ou andar à procura do esplendor de Ialyssos, que, afinal, foi encoberto pelos cruzados.

O melhor foi entrar no Vale das Borboletas, imaginar que o David Attenborough já lá tinha estado e que, agora, eu também lá estava. Fiquei horas esquecidas ali a ver os cachos de borboletas, tal como os vejo nas fotografias dos meus livros e tal como aparecem nos documentários. Regressei sem pára-quedas ao tempo feliz em que queria seguir uma carreira como a do Sir David. É sempre ele que lá está nas minhas memórias pré-vida real. Encontrei-me comigo e com os meus sonhos inocentes. Ainda me pergunto o que é que aconteceu àquela criaturinha que queria ser cientista. Acho que ainda por lá anda naquele passado que me visita em momentos inesperados como no Vale das Borboletas.

Sim, Rhodes foi uma experiência maravilhosa!