A Mãe tinha sempre um jeito de explicar o presente com uma série de adágios que lá lhe facilitavam as conversas. O "em tempos de guerra não se limpam armas" surgia-lhe em momentos de stress. Ela, que de modo habitual era a epítome da calma, reagia como eu às limpezas profundas: "Tirem-me deste filme!" E, nessas alturas, suspendia todas as suas actividades e dedicava-se em exclusivo àquela que lhe preenchia o pensamento na ânsia da conclusão rápida.
Assim estou eu. Quinze anos depois de Ela partir daqui revejo-me e sinto-me naquelas sapiências. Pus-me com obras em casa, na casa que era Dela, e suspendi a Vida. Não há tempo que não seja para o pó e a tentativa de ordenar o caos. Faço grandes taças de fruta que vou comendo ao longo do dia e ontem ao jantar estrelei os ovos de codorniz que me deram a semana passada. Tinha pensado fazer uma espécie de Eggs Benedict com uma receita que vi na net para ovos de codorniz. Desci à terra e desfi-los na frigideira no que ainda me resta de cozinha antes de voltar a ter cozinha.
A Vida é sublime no prosaico do quotidiano... (mas se me vejo fora das limpezas ainda julgo que é mentira).