Ando a pensar neste texto há uns tempos, sem saber se chegaria alguma vez a ver a luz do blogue. Nem é pela imagem em si (aqui bem desfocada que é para não se sobrepor à palavra!), é mesmo pela língua que me atrofia a escrita e o pensamento e me faz passar de "I"/EU a ELA. E assim tenho de me ver de longe e em exterior e confrontar-me com aquela pessoa que ali está. É horrível, mas é verdade (and I confess I'm a bit scared of SHE!).
Não nasci nesta língua. Aos 9 estava a aprender Inglês, a minha segunda língua estrangeira, mas já era a quarta língua que eu falava: duas línguas maternas e mais uma língua estrangeira começada aos 7. Um pouco confuso, admito, mas para mim era a coisa mais natural da vida. E assim, no meio desta Torre de Babel privada, umas línguas vieram sobrepor-se a outras. O Inglês tornou-se a língua do pensamento, da escrita privada, das ideias, sonhos, leituras, músicas, diários adolescentes, cartas e, inclusivamente, de trabalho e, claro, das viagens. É a língua dominante. O Português ficou a língua social (ainda me lembro de a Mãe dizer ao Pai que tinham de esconder os meus livros na outra língua senão eu nunca ia falar Português, o que era uma chatice porque eu ia ao parque infantil e falava estrangeiro com os outros meninos e meninas. Surpreendentemente todos me entendiam e, mais surpreendentemente ainda, todos me obedeciam, se calhar porque a outra língua é áspera e imperativa, quem sabe?).
Adiante. 2007 foi um ano a todos os níveis memorável (e como eu não sou lá muito original, que diabo, também posso entrar em balanços).
Comecei esta história do blogue como um espaço pessoal, uma coisa só minha, onde eu podia vir à vontade, escrever o que me dessa na ideia, guardar as coisas ditas e voltar à vida da Outra (the one that dominates ME!). Era assim mais uma espécie de diário adulto numa época em que já não se escrevem diários em folhas lindas e fechadas à chave. E, naturalmente, nem me ocorreu escrever noutra língua que não o Inglês. Era EU que aqui vinha, eram os MEUS pensamentos. Certo que eu sabia que podia dar-se o caso de alguém passar por aqui e ler, mas numa blogosfera infinita, quem é que viria aqui? E depois, mesmo que alguém viesse o que é que tinha? Isto é tudo tão anónimo, tão difuso e tão distante que não tinha importância nenhuma que lessem as maluquices ou os desabafos que eu para aqui mandasse. E a verdade é que "I couldn't care less" (custa-me pronunciar o equivalente em Português).
Mas... (porém, contudo, todavia, não obstante)...
Vocês chegaram! E eis-me aqui a sentir necessidade de fazer balanços e apresentar justificações e a querer dizer que, por causa disso, dessa presença, isto ganhou vida e a Blondewithaphd tornou-se em mais uma figura de alteridade (esta coisa estranhíssima que me persegue desde o berço e produz uma quantidade infinita de estudos científicos fenomenais, um dos quais o meu próprio, enfim, ironias do destino e cada um sabe da sua vida). E cada um de vós veio na sua "uniqueness" (e por isto é que o Português me atrofia. "Uniqueness" não existe em Português. Há a ideia, mas não a palavra).
Primeiro apareceu o Quinn: imenso, seguro, guru, mentor (ainda não sei como apareceste mas fico feliz por teres acontecido). Foi ele que me fez "realizar" (cá vai o anglicismo) que eu tinha um blogue. E depois há aquela clarividência, e aquela confiança, e a escrita arrojada que fazem dele "O" Quinn que eu admiro. Depois vieram os Antónios: sérios, exigentes. O António de Almeida com aquela capacidade analítica que me transcende e impressiona e o António ("un peu l'agent provocateur") naquela sua densidade literária e metafórica. Veio o Joshua na voragem linguística e no desrolhamento escatológico (hiding what I believe is a very sweet person). Veio o Tiago e a simplicidade das palavras certas e a visão lúcida. Veio o Peter, que disse vir à lição de Inglês de cada vez que por cá aparece, e me fez ver que eu é que escrevo numa língua estrangeira, e, assim, a lição foi e é minha. O mesmo com o C Valente, que faz coisas com o Português que me deixam a pensar nas minhas limitações. O Joy foi uma descoberta recente, "a real joy", e tem o único blogue cuja música de fundo eu oiço com ouvidos de gostar. No entretanto apareceu um Jedi que me chamou Anita (a mesma dos livros infantis!, só que essa é morena!) num outro lado e que, confesso, foi outra das minhas (tantas) surpresas na blogosfera.
Deixei-as para o fim para terminar com chave de ouro (nunca percebi bem o valor desta expressão ou de onde é que vem, mas, como é para exprimir uma coisa final muito boa, uso-a). A Blue foi a primeira: serena, lúcida. Tem a escrita da calma, da naturalidade, da constância (I admire her in silence. It was serendipity). Depois a Indy, um rio torrencial, opiniões verbalizadas na fortaleza da escrita que vai reinventando (a finding in the midst of so many blogs). E, "last but in any way least", a Carol que eu invejo no seu lirismo e naquela maneira de acordar as palavras. As minhas são tão pacatas e nas mãos dela transfiguram-se e ficam ali perenemente a falar connosco (man, I call that a gift!).
Devo estar a esquecer-me de alguém, mas não olvido os desconhecidos que por aqui passam e que me fazem sentir humilde porque há quem se dê ao trabalho e/ou à curiosidade de vir aqui e ver o que é que a Blonde (esta foi outra, nunca pensei que me inventassem um nick! E não é que eu gostei?) anda a escrevinhar.
You make me happen. You are all unique. Special. Thank you!
A todos vós um 2008 inolvidável pela positiva, pelos sucessos, pelas metas alcançadas e sonhos realizados. Be bold, be brave, be happy!