15 de março de 2008

Tattoo taboo!

Nunca imaginei escrever sobre piercings e tatuagens, tal como nunca pensei que se pudesse legislar, com laivos impeditivos e autoritários, o que se pode, ou não, fazer com ou ao nosso corpo. Vamos por partes.

O corpo humano foi talvez das primeiras telas usadas pelo Homem e, por isso, uma das mais antigas maneiras de expressão gráfica, leia-se artística. Colorir o corpo, preenchê-lo de cicatrizes, perfurá-lo dos mais diversos modos é algo tão humano como usar vestuário ou acessórios. Só o puritanismo ocidental dos séculos mais recentes desdenhou o uso do corpo como adequado à invasão pela Arte.

Nos últimos anos ressurgiu, parece, um renovado prazer em ornamentar o corpo com técnicas e formas antigas. São populares as tatuagens celtas, maoris e totémicas, isto é, tatuagens de inspiração étnica presentes em diversas culturas e, ainda hoje, cultuadas. É também disseminado o uso de piercings (do verbo inglês "to pierce" ou furar) que de novo não tem nada porque também é remanescente de culturas tribais ameríndias e da Australásia. Ou seja, este revivalismo de tatuagens e piercings não é uma invenção de gente marginal dada a hábitos condenáveis. É meramente uma forma de expressão pessoal que tem acompanhado o passo da evolução humana.

Claro que cada um de nós tem absoluto direito a gostar ou não de tatuagens e piercings. Pessoalmente não acho piada a piercings na face e na língua, mas apenas porque os acho inestéticos. Também não me seduzem as tatuagens de corpo inteiro porque, afinal, a pele também é bonita e sensual ao natural e, sobretudo, não me venham com tatuagens amadoras de caveiras azuis e águias do Benfica. Porém, se há quem goste vou fazer o quê? O mau-gosto não é contagioso felizmente.

Defendo, todavia, que se deva legislar sobre os locais apropriados para a realização deste tipo de ornamentação corporal. E mais, defendo que se aperte bem a vigilância sobre as condições higiénico-sanitárias desses locais e que até haja formação para os profissionais do ramo. Até aí tudo bem.

Agora, proibir a realização de piercings em sítios específicos do nosso corpo? Mas quem manda aqui no meu próprio corpo? O Estado? Acaso serei propriedade pública? E porque não proibir quem fuma? Considero que legislar sobre o meu corpo é mais invasivo do que legislarem sobre aquilo que eu faço dentro das paredes da minha casa. Legislar sobre o meu corpo é a forma final, máxima e mais trucidante da minha auto-determinação como ser humano detentor de livre-arbítrio que posso conceber. Se eu tenho o direito humano de recusar um tratamento médico que poderá salvar a minha vida porque tenho de estar limitada ao uso que quiser fazer do meu corpo?

Confio, ainda, que se vá a tempo de inverter o que esta legislação encerra de coersivo ao dispor individual do bem mais precioso que temos: o Eu!


P.S. - A Blonde, como não é hipócrita, escreve, como se depreenderá, com conhecimento de causa.

18 comentários:

joshua disse...

Quem legisla com tal falta de senso sobre o corpo e os seus limites, como não será falto de senso em tantas matérias mais?! Nem elenco quais.

PALAVROSSAVRVS REX

antonio ganhão disse...

E com que critério vai a polícia inspecionar os nossos genitais em busca de piercings?

Sim o nosso corpo foi a nossa primeira tela, porque colocamos nas emoções a nossa mais forte forma de comunicar.

Defendes meninos tatuados e piercibentos e não gostas dos meus escuteiros? Pelo menos têm uma ar lavadinho!

Blondewithaphd disse...

Dear Josh,
Nem vale a pena elencar! Ias dar-te a uma grande trabalheira and simply it's not worth it!

Blondewithaphd disse...

Dear Antonio,
Estás a ver a Princesa Zara Phillips vir a Portugal e a polícia mandá-la logo botar a real línguinha de fora e enviarem a coima à atenção da majestática avó?

Mas estás a chamar-me nomes ou quê?

António de Almeida disse...

-Nunca usei, nem usarei no meu corpo, qualquer tatuagem ou piercing. Tendo uma sobrinha adolescente, que desde criança gosta se habituou a pedir coisas ao tio, nomeadamente aquelas que o pai recusa, também lhe recusei pagar uma tatuagem, porque o meu dinheiro não serve para esses adereços de gosto duvidoso.
-Feita esta declaração, considero a proposta do deputado socialista, uma imbecilidade, começou com o tabaco, já se questionam os obesos, e agora passou para algo que faz parte da privacidade e individualidade de cada um. Regular a actividade, obviamente acho bem, quanto á verificação dos instrumentos, sua esterilização, locais higienizados, tudo isso pode e deve ser observado, quanto a eventuais complicações de saúde, provocadas por esta prática, excluam-nas do SNS, afinal a medicina dentária, ou certas especialidades oftalmológicas, estão fora, agora proibir? Tenham juízo!

Anónimo disse...

Aqueles tipos desde que deixaram de me ouvir, só fazem asneira! [gaba-te cesta].

Coincidentemente, o António de Almeida aborda a questão pelo prisma certo ... quem quer, faz; quem tiver problemas de saúde decorrentes da sua aplicação ou do seu uso, paga do seu bolso.

Sem comparticipações públicas.
E se não quiser pagar tudo, que faça seguro de saúde.

Tiago R Cardoso disse...

concordo em legislar os estabelecimentos, totalmente contra o legislar sobre onde fazer ou não as "decorações".

Gostava de ver é depois a verificação, "faz o favor de mostrar a língua, par ver se leva ou não uma multa.

Blondewithaphd disse...

Dear Antonio de Almeida e Quinn,
Será que eu li bem e, for once, you agree? Bem, quem não agree nada sou eu.
Se complicações imanentes à realização de tatuagens e piercings não puderem ser tratadas pelo SNS, então e os doentes por causas tabágicas? E as overdoses? E os comas alcoólicos? E as anorexias? E as tentativas de suicídio? Tudo isto são complicações auto-infligidas, ou não?
Quem faz tatuagens e piercings também paga impostos!

No resto estamos em total agreement!

Blondewithaphd disse...

Dear Carol,
Tempo de antena muito bem gasto, sim senhora! Já respondi ao "bro" e ao Antonio de Almeida. Concordas?

Blondewithaphd disse...

Dear Tiago,
Estás a ver a pipa de massa que os tipos faziam só à conta da Angelina Jolie?
Vai ser giro, a seguir à Brigada de Trânsito haver a Brigada da Língua;)

Manuel Rocha disse...

Pela parte que me toca fiquei a sorrir a imaginar a dinãmcia de "verificação" pública do cumprimento da lei....operações stop e a autoridade a ordenar : " Sr automobilista, faça favor de sair da viatura e baixar..."

::)))

Estão a rir ?!

Não riam...dizem-me que não há assim tantos anos quanto isso que o método já era usado para identificar judeus, logo...

Blondewithaphd disse...

BOA Manuel, gostei do paralelismo!!!! Discrimanação é sempre discriminação!!!!

Blondewithaphd disse...

Carol,
No worries, he's a good guy;)

JOY disse...

Olá Blonde,
Só cá faltava essa
Está na moda proibir, eu só não tenho uma tato,porque tenho pavor de agulhas ,estou de acordo que cada um faz do corpo aquilo que quer desde que se sinta bem consigo próprio.

fica bem
Joy

Contacte-nos disse...

Preocupa-me por demais o nível intelectual dos nossos legisla(dor)es, como é que se chegou a este ponto?
Como é que um deputado da nação, seja de que partido for, pode representar o povo desta forma, com ideias tão absurdas e tonto ocas?
Vi no Notas à pouco a crítica voraz ao véu islâmico, relembras aqui a prova de que os excessos pudico/culturais existem em qualquer sociedade, é pena, mas é assim, não façamos disto uma guerra de mundos antagónicos, que se querem complementares e eucuminista, é esse o meu profundo desejo.

Blondewithaphd disse...

Dear Joy,
Não custa nada! E não vês agulhas nenhumas!
Sim, era só o que faltava era virem cá inspecionar o corpinho à malta!!

Blondewithaphd disse...

Jedi dear,
Não sei onde é que isto vai parar! Como é que se legisla com tanta arrogância e tanto desprezo pelo ser humano. É isto um governo de esquerda? E nem que fosse de direita! Legislar o nosso corpo? Estamos em que ano? 1939?

Blondewithaphd disse...

Bluesíssima,
É por isso que eu gosto tanto do teu estilo. Esse teu comedimento é algo que eu própria gostava de ter, a sério. Chamas-lhe tontos e, enfim, coitados que deles é o Reino dos Céus. És uma querida! Eu acho que são umas coisas "braindead", prepotentes, botas de elástico, completamente desprovidos de intelecto abrangente. Uns burros!
Estou para ver quem é que vem cá passar revista à Blonde! Será em público, num cubículo qualquer numa esquadra (sim, só pode ser num local de autoridade), será o povo chamado ao consultório do médico de família que passa uma declaração para a pessoa ir pagar a multa do piercing ou da tatuagem? Ah, já sei, devemos ir todos a juntas médicas, deve ser assim que nos vão revistar!