Acabei de ver o "Jornal da Uma" na televisão. A última peça foi sobre uma criança guineense desaparecida desde 2005, sem que as investigações levem a alguma conclusão, sem que aquela mãe receba algum tempo de antena de autoridades manifestamente manietadas, sem que ninguém se preocupe que uma criança tenha sido tirada ao lar familiar e hipoteticamente vendida em Inglaterra.
Seja como for, a reportagem termina com aquela mãe, arrancada a uma África parada no tempo e na miséria, a andar ao longo de um Tejo lisboeta lavada em lágrimas entrecortadas por palavras em que o unicamente compreensível é "nha filho". Tanta dor. Tanta que não a compreendemos porque não a vivemos.
Tive pena do Carlos Daniel que, especado a ver a os restos dolorosos da reportagem, teve de pôr o melhor sorriso o-mundo-continua-e-amanhã-cá-estamos, como se as notícias fossem mais um programa de entretenimento apresentado por gente feliz (sem lágrimas).
O mundo a que chegamos... Como dizia a Hannah Arendt é a banalização do mal ao ponto de o acharmos normal, quando o devíamos olhar como excepcional.
12 comentários:
Essa não vi, mas comparo-a àquela de que ouvi referência hoje na ANTENA 1 e depois vi esparsa na edição em linha do CORREIO DA MANHÂ de uma certa Margarida Correia da Silva.
Uma cidadã portuguesa de 95 anos que morreu à fome dentro do casebre em que vivia em pleno centro da cidade do Porto.
Vergonha!
Vergonha!
Vergonha!
Vergonha é um eufemismo!
Pior que a banalização do mal é a banalização da indiferença, que é o mal perfeito.
PALAVROSSAVRVS REX
Dearest Josh,
Francamente não sei o que é o mal perfeito. Aliás, arrepia-me pensar que se possa juntar o conceito de pefeito ao mal. E sim... claro... tens razão que a indiferença é um mal, só que, como todos os males, é tão cobarde e desprezível como eles.
Carol,
Bem que podes aumentar a lista de epítetos!
-A notícia da criança estou a sabê-la agora, mas guineense, vendida em Inglaterra, espero que não signifique tráfico de orgãos. A notícia que o Quint refere, mea culpa, tomei conhecimento na 3ª feira e ainda não fui perceber os pormenores. Não serei o culpado pela indiferença, mas também faço parte da sociedade, e a falta de tempo não explica tudo!!!
Dear Antonio,
Se fosse só a nossa indiferença andava a sociedade bem, o problema não é a esta indiferença esclarecida e inintencional mas a indiferença compactuante que não se está para ralar (pardon my French!). A polícia vê um caso encravado e não se mexe e os vizinhos da outra senhora que morreu pensavam que nunca iria acontecer o pior e também não estiveram para se chatear!
É por estas coisas que às vezes fico com o peso tão grande na alma que parece que me esmaga...
É mesquinho e mau este nosso mundo as vezes.
Beijos
O facto de a rede de adopção, da responsabilidade da Segurança Social, funcionar como tudo o resto no país, a prepotência e falta de preparação dos juizes, torna muito dificil a adopção sem recurso a atalhos... isso propicia as ilegalidades!
Se deres um salto ao outro meu sítio poderás perceber que falo com conhecimento próprio.
A agilização da adopção é a única forma de proteger o interesse de todas as crianças.
Vi essa eportagem no "30 Minutos" terça-feira passada e achei estranho que ningém se tivesse referido a ela na blogosfera. É por isso, com grande satisfação, que a vejo abordar o assunto. Sinal de que não se deixou envolver na corrente da "silly season" que conduz diariamente à banalização dos dramas. A vergonha parece ter sido banida do vocabulário humano.
Blonde
Eu não olho para todos os casos com o coração aberto porque ele é demasiado sensível e não aguenta com tudo. E na maioria das coisas não podemos fazer nada, pelo que sofrer só por solidariedade com os outros torna-se inútil. Pode mesmo tornar-se fútil se for só para demonstrar que se sofre (o que não é o caso de nenhum do pessoal que aqui se exprimiu, e que tem sentimentos nobres).
O que há de útil a fazer é de facto agilizar redes de adopção, efectivo combate à pobreza e resposta policial. Ou seja, o mal sempre vai continuar a existir, mas ter uma sociedade que funcione é maneira de o prevenir. Mas como pode um cidadão ou grupo de cidadãos fazer isto? Exigir que as suas instituições funcionem?
Já agora, para contrabalançar, um bom exemplo.
Só tem uma coisa: o "namoradinha de Portugal" dá-me calafrios...
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