Little Gidding
What we call the beginning is often the end
And to make an end is to make a beginning.
The end is where we start from.
[...]
We shall not cease from exploration
And the end of all our exploring
Will be to arrive where we started
And know the place for the first time.
T. S. Eliot
É um facto que a linguagem poética pouco me diz e que dificilmente consigo racionalizar as mensagens encriptadas em poemas. Sou uma pessoa da prosa e do escorreito das frases com pontuações pragmáticas. Mas, a par com os versos de Fernando Pessoa que a Mãe me mandava decorar na tentativa de me ensinar Português, há dois poemas, ou melhor três, que reescrevo constantemente nos cadernos da minha Vida: um é de Dylan Thomas e os outros do monumentalmente denso e hermético T. S. Eliot.
"Little Gidding" é, confesso, uma gigantesca odisseia interpretativa. Todavia, as estrofes finais sempre me fizeram sentido desde que as descobri há mais de uma década. "To arrive where we started and know the place for the first time": é ou não uma das dádivas maravilhosas que a Vida nos dá gratuitamente assim nós queiramos olhar para um lugar de chegada com os olhos de quem nunca tinha visto?
E, claro, "we shall not cease from exploration" porque, na sua infinda riqueza probabilística, a Vida é a hipótese em potência. Faz-me todo o sentido...
16 comentários:
Conhecer pela primeira vez antes que se desfaça a inocência...
"To arrive where we started and know the place for the first time"
O renascimento
Tens de facto alguma sensibilidade poética embotada pelo excesso do lado racional e atrofia do expressivo e emocional [António Damásio, se te analisasse o cortex, diria que em ti a emoção que gerou o sentimento que gerou a inteligência dele está precisamente nos antípodas do tal self discovering]. Tens por isso mesmo agora de perder a preguiça de a exercitar com os poemas e com os poetas.
Banquete para onde se vai nú e o qual consiste em to «know the place for the first time» time and time again and express it widely and vividly.
És[ainda] uma grande virgem [Virgem Vestal indevida] da sensibilidade alargada em Poesia.
Mas nós esperamos. Temos todo o tempo to arrive where we started.
Poesia é isso: quando as palavras encriptadas subitamente fazem sentido e se atravessam no nosso (bem real) caminho... Sinto tão bem esse poema, querida blonde...
Loira, Loira,
Apanhei-te, afinal sempre gosta de poesia ;)
beijos
"And to make an end is to make a beginning."
Pena é que o mais das vezes nos agarremos ao que termina sem nos deixarmos alegrar pelo que há-de vir. Parece-me lógico. O que termina poderá trazer algum tipo de dor e todos os começos estão repletos de incertezas.
Cumprimentos!
Implume,
O pior é quando já não se é inocente à partida...
João,
EXACTAMENTE!
Ai Josh,
As coisas que tu me chamas!! E achas que há cura? E se eu não me quiser curar para a poesia, como é?:)
PRD,
Pois é, tem tudo a fazer com fazer sentido(s) no literal e no figurativo.
Jo,
Tu não te comeces já a esticar... Gostar, gostar, bem... vamos com calma:)
André,
Tal e qual não há começos sem incertezas! Bem verdade! Tal como o facto de tantas vezes nos agarrarmos estupidamente a passados acabados.
-Confesso que poesia não é a minha especialidade, excepto é claro Fernando Pessoa e Florbela Espanca, dos quais li muito. O pouco que li de Dylan Thomas gostei.
Ai minha blondie companheira bi-neuronal...
Eu, rapariga de majestades prosaicas e pouco poéticas, sempre senti repulsividades alérgicas a tudo que se assemelhasse rimas e outras que tais... depois... bem, depois descobri Camões e Pessoa e mais do que isso ainda, descobri o Alberto Caeiro que comigo partilha um amor profundo à natureza e espiritualidade vivida a sós.
Depois descobri que em mim subsiste um ser poético, profundamente poético, com pouca rima mas ampla e gloriosa admiração pelo pormenor dum voar de borboleta, de um luar incandescente, de um restolhar de folhas de outono...
E depois descobri que tenho muitos fins e imensos novos começos. descobri que já vivi muitas mortes nesta vida e que a cada morte se seguiu um renascimento, um glorioso renascimento, olhando para tudo com olhos de quem nunca viu...
E assim vai caminhando esta minha nova alma poética, a que acabou de nascer, mesmo agora, aqui há pouco...
António,
Fernando Pessoa é aquela coisa!!! Florbela Espanca, tirando uma certa canção dos Trovante de que não gosto particularmente, não conheço nada! Mea culpa, mea culpa.
Indy,
Pois eu ainda não cheguei a essas profunduras poéticas do meu ser (e cá entre nós duvido que alguma vez chegue). Mas essa das mortes e renascimentos entendo eu muito bem, mesmo muito bem, aliás. Mas como sou muito prosaica e pragmática digo "meia bola e força", o que quer que isso signifique da meia bola e lá vou eu!:)
Enviar um comentário