Aterrando de um fim-de-semana prolongado, o que é que qualquer mortal faz? Procurar as notícias, informar-se das ocorrências que o liguem à macro-comunidade. Mais que não seja, esse mortal pretende saber em que pé está o mundo e se é que existe tal como o deixou suspenso. Regresso, então.
Constato que morreu Alçada Baptista (que já nesta vida cheguei a confundir com Baptista Bastos). Um pouco por toda a parte o coro habitual nestas circuntâncias: perde-se um vulto da cultura portuguesa (indago-me do porquê de ser sempre o "vulto" que se perde, será que não há mais nada na Língua Portuguesa que melhor epitomize "vulto", que associo a uma palavra fantasmagórica pouco correcta para contextos laudatórios como o são os obituários).
Emudeço. O que é que eu conheço de Alçada Baptista? Nada (o muito pouco não vale nada e, por isso, mais vale assumir o nada). Que estupidez! Toda a vida ouvi este nome. Toda a vida soube quem era Alçada Baptista (apesar de certas confusões). E, no entanto, toda a vida ignorei a obra e o autor. Resta-me a irritante, e pouco original, descoberta do artista das palavras num contexto post-mortem. O aprender a dar valor a algo quando o algo falta é mesquinho, é humano, todavia, mesquinho. Remeto-me, pois, a essa mesquinhez humana.
RIP.
Constato que morreu Alçada Baptista (que já nesta vida cheguei a confundir com Baptista Bastos). Um pouco por toda a parte o coro habitual nestas circuntâncias: perde-se um vulto da cultura portuguesa (indago-me do porquê de ser sempre o "vulto" que se perde, será que não há mais nada na Língua Portuguesa que melhor epitomize "vulto", que associo a uma palavra fantasmagórica pouco correcta para contextos laudatórios como o são os obituários).
Emudeço. O que é que eu conheço de Alçada Baptista? Nada (o muito pouco não vale nada e, por isso, mais vale assumir o nada). Que estupidez! Toda a vida ouvi este nome. Toda a vida soube quem era Alçada Baptista (apesar de certas confusões). E, no entanto, toda a vida ignorei a obra e o autor. Resta-me a irritante, e pouco original, descoberta do artista das palavras num contexto post-mortem. O aprender a dar valor a algo quando o algo falta é mesquinho, é humano, todavia, mesquinho. Remeto-me, pois, a essa mesquinhez humana.
RIP.
21 comentários:
Já somos dois a conhecer pouco da obra deste senhor, infelizmente, infelizmente...
Não conheço muito, mas o suficiente para dizer que gostava dele pela sua escrita cristalina e prenhe de afectos. Da ficção, dois títulos imperdíveis "Nós e os Laços" e "Catarina ou o sabor da Maçã".
Já "Peregrinação Interior" era um livro que retratava a sua geração, muito útil para melhor a compreender.
Uma coisa é certa: há quanto tempo não se ouvia falar de Alçada Baptista? No entanto, agora não faltam os panegíricos. Mais uma característica do portguês...
Belo post!
Confesso que só li "Os nós e os laços"...
Uma recomendaçã ... não te quedes pela mesquinhez, porque é sempre tempo de descobrir o que ainda não se topou!
Tiago,
Eu, sinceramente, nem me posso ficar pelo muito pouco, porque é tão pouco, tão pouco, tão pouco que não dá para nada.
Carlos,
Serve como desculpa aludir às minhas costelitas alemãs? :) Mas sim, concordo, uma pessoa morre e depois é o supra de tudo: da cultura, das letras, do pensamento e etc. Agora é esperar as homenagens...
Implume,
já leste bem mais do que eu:)
Dearest Quinn,
Ok, vale, é da mesquinhez e da miopia:)
Confundir Alçada Baptista com Baptista Bastos é confundir a obra prima do mestre com a prima do mestre de obras.
António,
Assim vai, ou ia, o cérebro desta loura. É triste, eu sei...
Míope?
Tu?
Essa seria quase digna de um texto!
Alçada faz-nos justiça à espiritualidade dos afectos, afectividade espiritual que o nosso tempo mal aflora ou toca e mal diagnostica por dentro, com a inteira verdade que o autor usava.
Para o homem oriental, o ser humano é uma totalidade que se exprime por inteiro na corporeidade: a alma e a transcendência não são separáveis de essa unidade corpórea e acompanham-na onde quer que vá danar-se ou salvar-se. Ler Alçada é o começo de uma reunião do ser truncado e seccionado que nos aparece a cada passo e a cada passo se esconde.
Para além de outros títulos seus que qualquer leigo atira, como versado alçadista de última hora, a ler e a reler a graça e o desfile de sensibilidade nas suas crónicas, por exemplo.
Quinn,
1.25 dioptrias! Pouco num ser humano normal, um atrofio para uma Blonde!
Carol,
Acredito! Nunca houve foi motivação, interesse, tempo ou qualquer outra desculpa esfarrapada que agora se invoque para o desconhecimento.
Josh,
Como constatas, é tal a lourice ignorante que nem comentar o comment eu posso. Curvo-me ante que conhece autor e obra para assim discorrer.
Aprender a dar valor a algo quando o algo falta é mesmo humano e como tal absolutamente comum.
Tomar consciência de que indevidamente o fazemos, ainda que forçados por inata condição, é louvável.
Humanos somos todos. Pensantes não são muitos. Fazes parte dessa, por isso especial, minoria.
Cumprimentos.
Miss, eu cá náo falava de dioptrias!
André,
Só por achares parte de uma minoria pensante já me fizeste ganhar o dia:)
Quinn,
Entonces explica-te homem! Eu dioptrias é as da vista! Raios de homem!
Tive uma colega que escrevia versos e tanto porfiou que acabou por publicar um livro. Foi na altura em que David Mourão-Ferreira publicou o seu romance "Um amor feliz", de que não gostei, preferia os seus poemas. Na mesma altura o Alçada Baptista publicou "Os nós e os laços" que eu li em dois dias.
- "Heresia, preferir um jornalista (era?) a essa obra-prima que é "Um amor feliz" (de facto já vai com vinte e tal edições)."
- "Toma, podes ficar com ele"
E assim fiquei sem uma 1ªed que são sempre valiosas.
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