17 de fevereiro de 2009

A Blonde e a Crise



Estou farta da crise!

Estou farta de pagar a crise!

Começo a crer que, além de ser uma rica pessoa, devo ser, igualmente, uma pessoa rica. Se não fosse, os sucessivos governos, à direita e à esquerda, não galopariam sobre mim como infame capitalista, money-maker de um raio de um raio de classe-média que, tal como os carros, se segmenta em gama alta. É isso, devo ser um Mercedes SLK Kompressor! Um Bentley é outra liga. E se eu fosse um Bentley certamente não pagaria a crise mas a crise pagar-me-ia. Gostava, sinceramente, que a crise me pagasse pelos anos de crise. Acho que tenho juros a haver numa factura com diversas parcelas. Fazendo bem as contas, a crise deve-me um Bentley para eu me deixar, de vez, de Mercedes. Não que eu tenha algo contra os Mercedes que até são deutsche Technologie e o meu BI ainda lá diz que eu tenho naturalidade alemã. Mas um Bentley... com motorista, já agora, que era para eu, refastelada e de flûte de champagne na mão, olhar a paisagem e ver a crise passar a grande velocidade para lá da janela fumada do meu Bentley.

- Ambrósio, que crise tão cinzenta acabou de passar agora, reparou?

- Sim, Milady, era uma crise e tanto.

Pois quando o PSD foi (des)governo lembraram-se de impor tectos de 1.000 euros e congelar progressões nas carreiras. Nem me aumentaram, nem progredi. Ali, queda e muda que era pelo bem do país!

Agora que o PS é (des)governo vêm-me com a história dos 1.900 euros e lá me vão aos bolsos. Aqui, queda e muda que é pelo bem do país! E o Louçã nem me venha dizer que a talhada corresponde a 50 cêntimos por dia que até podiam ser 5 cêntimos e a discriminação contributiva seria, a meu ver, a mesma.

Ah, e também não me venham com a história ridícula de que quem aufere maiores rendimentos tem de contribuir para a justeza social! Justeza social?! E quem me dá a mim justeza social? Não tenha eu seguros de saúde e PPRs e eu queria ver da justeza social! O que é que os meus impostos generosos me beneficiam? Que retribuição me confere o Estado Português se até para dizer que sou portuguesa pago 80 euros de emolumentos e carimbos de cada vez que me vejo numa situação qualquer que envolva registos civis e/ou prediais? E o mais ridículo é que cada papelucho que diz que eu sou legítima cidadã deste país me tem um prazo de validade de seis meses! Sim, como se eu um dia fosse portuguesa, no outro alemã e nos restantes logo se via.

Enfim, o que me vale é que os Mercedes têm chapa boa e muitos airbags que amortecem as colisões frontais com os (des)governos deste país. Eu é que, honestamente, não tenho feitio para crash-test dummy e aborrece-me solenemente que sejam sempre os mesmos a pagar crises crónicas e tão endémicas como a malária em África. E não, não sou minimamente elitista. Aflige-me que haja uma coisa chamada salário mínimo. Aflige-me que haja novos pobres. Aflige-me que haja espirais de dívidas nas quais as pessoas se enredam. Aflige-me a falta de liquidez nas famílias. Aflige-me a praga do trabalho mal-remunerado. Mas irrita-me pagar bairros sociais e rendimentos mínimos de inserção. E irrita-me ainda mais a discriminação económica de que sou vítima. E discriminação, que eu saiba, é sempre, e sempre, uma forma de marginalização.

Portanto, e em resumo, eu sou uma vítima económica.

23 comentários:

DANTE disse...

Hummmm...uma vítima económica...acho que isso não ganha caso nenhum em tribunal. De certeza que é considerado um 'dano colateral' ;D

Jokas :)

antonio ganhão disse...

Metes tudo no mesmo saco! O rendimento mínimo garante que vivemos numa sociedade que pretende fugir à selvajaria e que não se rende à ditadura última do lucro. Em que as pessoas se dividem em as úteis e as descartáveis.
E lembra-te que chegámos a este estado de coisas com o teu voto...

Alexandre disse...

eu sempre achei que uma sociedade era composta por indivíduos que trabalhariam todos para o bem comum. também sempre achei que os párias, os parasitas e os avessos a seguir as normas e as regras dessa mesma sociedade deveriam ser dela expulsos. sejamos, então, politicamente incorrectos: de que serve à sociedade, um toxicodependente que não se quer curar da dependência? de que serve à sociedade um seu elemento, válido, na plena posse de todas as suas capacidades intelectuais e físicas que não quer trabalhar e prefere arrumar carros ou, pior, se dedica a assaltar miúdos para lhes roubar o telemóvel que custou aos pais pagar?

Blondewithaphd disse...

Dante,
O pior é que eu estou fartinha de ser um dano colateral, quando, modéstia à parte, sou uma força viva da sociedade. Estou mesmo muito farta!

Implume,
Chegando a este estado de decepção com a sociedade política-governativa em que vivo é natural meter tudo num único e mesmo saco. E essa do voto... pois não enveredes por caminhos temerários...

Alexandre,
Sabes que mais? Faz falta sermos politicamente incorrectos. E também faz muita falta assumirmos os nossos burguesismos para dizermos que estamos de saco cheio de aturar todas essas coisas que mencionas e que, concordo, nada trazem à sociedade.

António de Almeida disse...

De acordo com a maior parte do post. Defendo o fim das deduções fiscais e avançar para a flat tax, que ao contrário do que alguns julgam em sempre progressiva e justa. Imagine-se por exemplo que a taxa só teria aplicação a partir de 600 Euros, sendo a mesma de 20% (valor para facilitar as contas na explicação do raciocínio), alguém que aufere 650 Euros, teria assim 10 Euros de imposto a liquidar, mas quem aufere 10 vezes mais, 6500 Euros, não se fica por 10 vezes mais imposto, pois pagará 20% sobre 4400 Euros, o que totaliza 880 Euros de imposto. Isto para explicar aos preguiçosos mentais que não sabem fazer contas, que a flat tax também é progressiva, mas bem mais justa que os actuais escalões, por exemplo alguém que aufere 59500 Euros anuais, está a 500 Euros de subir o escalão, se for aumentado em 40 Euros mensais passará a ver o seu salário real diminuido. Para mais as deduções são uma panóplia de oportunidades para fugir ao fisco.

Anónimo disse...

Começo por dizer que fiquei baralhado lá com a flat tax do António de Almeida pois ou as contas estão mal feitas ou então qualquer coisa não bate certo.
É que não atingi bem como sendo a taxa de 20% se atingem aqueles valores face a rendimentos daqueles!

Depois, também não entendo como funcionaria a dita flat tax para os chamados independentes, pois é aqui que as maiores fugas ao Fisco occorem.

Quanto à menina BlondewithapHd quem anda de bentley que pague a crise. E mais nada!

Agora a sério ... como é que se atingria a tal jsuteza social?

Pela via dos liberais ortodoxos nós já sabemos que era deixar o mercado funcionar a pleno vapor que tudo encaixaria como um milagre!
Nunca nos disseram foi para que lado se operava o milagre, mas já suspeitamos.

A via que tem sido seguida é a do caminho mais fácil e alguns castiços (ali como o antonio - o implume parecem esquecer que não foi a via do voto pois, que saiba, o teu e o meu voto devem valer tanto como o dele; só que suspeito que o dele é nuns que, estando no poder, fizeram e aconteceram e até tiveram um chefe que se raspou para Bruxelas ... se não for desses, deve ser daqueles que como sabem que nunca serão poder, deliram ...

Pois eu sou dos que acham que os ricos, os obscenamente ricos de Portugal (e levem isto pelo padrão do português médio), mais os vigaristas que roubam descaradamente a Segurança Social e o Fisco deviam ser os primeiros a pagar a crise. Eles mais os tipos que gostam muito de viver à custa da mama pública, enquanto fumam um Cohiba armados em liberais!

António de Almeida disse...

Caro Ferreira Pinto

Todas as flat tax têm um montante ao qual não se aplica. Eu exemplifiquei com 600 Euros (igual para todos), a partir daí todo o rendimento será tributado. Quem ganha 650 Euros paga sobre 50 Euros, quem ganha 6500, tem razão, fiz mal a conta, seria sobre 5900, o que resultaria em 1180. É progressiva, e mais justa, porque não dá saltos repentinos, terminando com as deduções introduz justiça fiscal. Em função do estado que queremos podemos discutir se taxamos, 10, 20, 30 ou 50, é irrelevante para o princípio da progressividade.

antonio ganhão disse...

Hi,hi,hi...

Anónimo disse...

António de Almeida eu bem sei, por via das Lições de Finanças Públicas que tive, o que é uma flat tax e que existe um montante ao qual não se aplica.

Só dei conta do lapso, quanto ao não querer que as suas contas se parecessem com as da Manuela Ferreira Leite enquanto minstra das Finanças ou as do Teixeira dos Santos.

No mais, insisto que é certo e seguro que independentemenet da justeza do princípio, a maior justiça fiscal passará, quiçá, por outras medidas.

De qualquer modo, e quanto ao montante da taxa, não tenha dúvidas que seria sempre pelos patamares mais elevados. Não vá os pacientes estranharem!

Anónimo disse...

Quanto ao amigo ridente, é caso para perguntar de que ri?

Mas ele lá sabe ...

Blondewithaphd disse...

António e Quinn,
Continuem Senhores que estou gostando do debate! Demito-me de participar porque eu de impostos só sei mesmo pagar!

Implume,
Estás a rir de quê, homem?

Anónimo disse...

Lá tenho eu que meter a minha colherada para dizer que embora não perceba patavina de Finanças, me parece que a justiça social só será atingida através de medidas redestributivas e com uma acção fiscalizadora intransigenet. Agora quando vejo o MP pedir a absolvição de tipos que fugiram ao fisco, porque pagaram voluntariamente,quando foram apanhados, pergunto-me logo se estou a viver num país a sério ou no pais do faz de conta!
Nos EEUU, por exemplo, quem fugr aos impostos vai logo dentro ( Pelo menos era assim quando lá vivi...)

mdsol disse...

Blondinha:
Gostei de ler, mas estou em crise de argumentação.
Restam-me ainda forças (rsrssr) para te dizer que estou contigo na necessidade urgente de se ser "politicamente incorrecto" (whatever) e que concordo com o que escreveste num comentário qu eli algures por aí a propósito do debate de ontem (prós e contra)na RTP. Começa a ser difícil não ser histérico e radical neste país!
beijinho
:))

antonio ganhão disse...

Bem por acaso ria-me da resposta da Blonde... mas lá tive que ler o teu comentário. A diferença entre os nossos votos é que um é feito de convicções e o outro de lealdades...

Mas vinha cá para dizer que postei.

Anónimo disse...

Pois, meu caro António - o implume não te sabia homem de lealdades ... mas tu lá saberás da tua vida.

E, pasma-te, descubro agora que és um julgador nato de costumes e de pessoas, ou seja, és uma moralista com um certo toque de diletantismo!

Joaninha disse...

Também estou farta da crise, estragou-me as férias da neve :(

beijos

antonio ganhão disse...

Quint, vê lá não te corrija o Manuel Alegre, como o fez a esse teu correligionário e camarada ASS.

Tempos difíceis os teus... defender uma causa em que ninguém acredita!

Joaninha, pois esses estúpidos dos desempregados a estragarem-te as férias!

Joaninha disse...

António,

Por acaso não foram os desempregados, foram os empregados mesmo que me deram cabo das férias ;)

beijos

Anónimo disse...

Meu caro António e lá vens tu com a tua superiodade moral ... já faltava essa!

De qualquer forma, já viste o prazer que é estarmos nas minorias em vez de andarmos na carneirada das maiorias?

E quanto aos Alegres e aos Santos Silvas, tens razão. Abster-me-ei doravante seja do que for, pois o argumento da velhice que subtilmente trazes à liça tenho de o respeiar. Normalmente, os mais velhos gostam de se dar ares mesmo quando começa a raiar a senilidade!

Não é o teu caso, mas seja como for não te quero controleiro de serviço.

antonio ganhão disse...

A susceptibilidade da culpa…

Anónimo disse...

E tu a insistir ...

antonio ganhão disse...

Só porque tu encaixas...

joshua disse...

ahahahah