Este Sábado passado dou comigo à saída de Beja a olhar para um dos outdoors da pré-campanha para o Parlamento Europeu. Simplesmente: "Nós Europeus". E penso:
"O que é que isto interessa para quem vive em Cuba, Alentejo?"
Por deveres profissionais (muito interessantes, por sinal) ando em itinerância por este país que tanto desconheço. No Sábado confronto-me com um interior profundo para lá de ostracizado e muito além de desertificado, envelhecido e negligenciado pela administração central. Lembro-me de um dos textos de Sul do Miguel Sousa Tavares, "Alentejo: Sobre uma Paisagem de Ruínas", de 1997 e confirmo que nada se alterou - o Alentejo é uma paisagem de ruínas, de abandonos, de carências. Como é que os nossos governantes não percebem isso ou, se percebem, porque é que nada muda?
Como é que se pode desejar que gente marginalizada, debatendo-se com problemas de sobrevivência quotidiana (quando uma Câmara e uma escola são os grandes empregadores de um região algo está muito mal) vá votar para eleger deputados que vão trabalhar a milhares de quilómetros de distância? Como é que se pode cativar esta gente para partidarismos e políticas que nada lhes dizem? Como é que nos podemos admirar com os índices previstos de abstenção?
Saí do Alentejo envergonhada com um país em que o analfabetismo ainda não tem valor residual e com um profundo sentimento de empatia ou de pena, nem sei bem verbalizar, por aquela gente sem horizontes, sem perspectivas. Pior do que isso, senti-me como a turista que sou tantas vezes no Magreb: a visitante temporária proveniente de um mundo desenvolvido que olha para tudo com curiosidade e espanto, advindos da supremacia colonialista europeia, e não gosto desta sensação dentro do país que adoptei mas que teima em não me adoptar.
10 comentários:
Uma urbana desceu ao campo e pergunta-se: tanto ar assim... a campo, não fará mal?
Eu as vezes quando vou ao alentejo profundo tb me sinto uma autentica desconhecida num local que desconhecço.....
Justifica-se o slogan. Estamos no mês das mentiras e a santa Manuela de Boliqueime também diz que quer política de verdade,mas depois faz batota nas listas. Nas europeias o meu voto vai mesmo é para a praia.
Blondinha:
Quando puderes vem ao interior norte. Aí, além do abandono e de tudo o que falas, ainda te vais confrontar com o abastardamento da paisagem em muitos locais.
Este país demora em te adoptar porque é um país que adopta mais depressa um "chico-esperto" do que alguém que não vive só da espuma dos dias e é um país que chega a expulsar ou a desmobilizar muitos dos seus melhores!
: )))
Alentejo? Gosto muito, e conheço-o de ponta a ponta. Espero que tenha levado algum tempo, um roteiro gastronómico e boa disposição.
Blondinha,
Não te preocupes, o Pais não te adoptou mas nós adoptamos-e completamente :)
Brincadeiras à parte, no alnetejo vê-se o melhor e o pior do nosso pais.
É também muito enriquecedor conhecer bem o interior norte do pais como diz a mdsol...Ficarás cmo uma noção mais abangente do Portugalzinho verdadeiro...
beijos
Ó Implume,
Mas eu sou uma campónia!
Tu Mesma!,
Agora imagina aqui a je! Pergunto-me em que país é que eu estive.
Carlos e Carol,
Compreendo, mas eu jamais deixaria de votar. Foi um direito tão duramente adquirido que, nem que seja para chatear, eu voto.
mdsol,
Sim, acho que entre o interior Norte e o interior Sul a diferença não deve ser por aí além.
(Talvez quando este país me adoptar eu tenha partido para outro...)
António,
Ao invés, levei uma gripe monumental que só piorou. Ainda estou a falar com uma voz de fundo de caverna:)
Jo,
És uma querida!!!! Thanx!
Ó sim, o país real é uma coisa assustadora e deplorável. Tenho tanta pena!
Acompanho o seu raciocínio em relação a todos os actos eleitorais internos e referendos, Blonde, mas em relação a estas europeias tenho muitas dúvidas...
Bem visto, um tipo que mora em Cuba, Alentejo é cubano ... ora essa!
O "slogan" não é das melhores coisas que já vi, mas ao menos devíamos sentir um bocadinho a costela europeia.
Quanto mais não fosse, pelos milhões que nos deram e de que, às tantas, se arrependem amargamente!
«Só uma pena me existe...minha doce jovenzinha...é olhar para o teu rosto e ver-te assim tão criancinha...»
E agora por aí fora se iria no encalço de tanta ingenuidade, tão mal aproveitada...
Isto nunca será doutra manêra nã senhora...
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