16 de setembro de 2009

Do (meu) Patriotismo

Não sei quem seja mais ferreamente acrimoniosa para com este país ou mais impenitentemente crítica. Faço viagens constantes para longe de país e gente pátria. Preciso de férias sem ouvir português e sem portugueses em redor. Anti-patriótica? Não, nem por sombras.
Dos homens da minha vida (os portugueses, entenda-se) fica a noção de todos, sem excepção, me enfatizarem no meu estrangeirismo, com o bom e certamente o mau do meu germanismo. Até o homem que me casou e de quem me descasei me apontava o perfil dinamarquês (?!) e desconfio que desconfia que nunca acabei o processo de naturalização tal a burocracia a que o Estado Português me obriga de cada vez que eu me apresento como cidadã perante a Lei e a Grei. Por vezes ouvem-me o sotaque que eu teimo em não ter e à expressão "Sou portuguesa" franzem-se sobrolhos "Mas com esse cabelo?", o que, digamos, me resume a uma cabeleira loura e nada mais. Também já me mandaram embora daqui porque "Tu não és como nós", o que, quando se tem 7 e é um adulto que fala, nos infunde o medo da nossa própria terra. Comparam-me à Catherine Deneuve e já tive alunos que me chamaram Nicole Kidman, para não falar de ser a Barbie de serviço no ginásio. Não serei, portanto, portuguesa? Bem, pelo contrário.
Acontece que, jamais em dias desta vida, me ouviram dizer fosse o que fosse em desabono deste país estando eu fora de portas. Posso nutrir um odiozinho fundamentalista ao FCP mas torço sempre para que vença no estrangeiro. Abomino o Jürgen Klinnsman, que eu idolatrava, diga-se, por uma vez ter feito o Sporting perder à conta de tanta pancada nas canelas dos desgraçados dos portugueses, ora eu sou benfiquista, entenda-se. E quantas, mas quantas vezes, eu já não me indignei com estrangeiros que acham que nós somos a parvónia em figura de país e que, de Portugal, só sabem "o" Salazar: "Oh no, we've come a long way!" Ou, pior, quando doutamente dizem saber da nossa Revolução: "I'm sorry, that was three decades ago, we've got a strong democracy and those are biased patronising stereotypes". Levam-na logo!
Pergunto-me como é que é possível que, quando é Portugal que é projectado lá fora através de cidadãos que se distinguem por alguma contigência excepcional, assomem sectarismos e revanchismos que são coisinhas tão inhas? Acho, sinceramente, que Durão Barroso traiu o plebiscito que o elegeu aqui, neste canto periférico da Europa, ao aceitar ir para a centralidade europeia e europeísta. Foi!, paciência. Agora, parece-me, é apenas um português num cargo destacado de reputação mundial e, quando assim é, não seria bom que o olhássemos na projecção nacional(ista) que nos enobrece? Enfim, desabafos de uma "estrangeira" que valem o que valem.

12 comentários:

Eu Mesma! disse...

Bem...
nem sei o que te diga ....

este desabafo é demasiado profundo para conseguir comentar com alguma profundidade também....

Pedro disse...

portanto tens traços de
alemã
dinamarquesa
francesa
australiana
americana

esqueci algum(a)?
o (a) é obviamente porque utilizei as tuas referências à Catherine, à Nicole e à Barbie :-)

com tantos traços deves ser um traço

eh pá não me mates, é que eu não resisto a "provocações" destas, é que não resisto mesmo! e, portuguêsmente falando, hás-de concordar que a frase fica gira, no contexto, e que (não se vá dar o caso de com tanto traço não perceberes Português!) a frase pretende ser, como tal o considero, um elogio :-)

em te conhecendo afiançaria da propriedade do elogio;
no caso, na variedade dos olhos que a ver-te te desenham, estranho seria que olhos variados baralhassem traços;
logo a conclusão:
nesses traços só podes ser um belo traço

:-)

O Sousa da Ponte - João Melo de Sousa disse...

É giro que estou a sentir algo de parecido em Angola. Nunca pensei que os meus amigos alemães - e são muitos- não se sentissem em casa em Portugal.

Agora entendo.

Alexandre disse...

Nada a ver, mas isto faz-me lembrar a Laurie Anderson:

"(...)the only sadder cemetery I saw was last summer in Switzerland. And I was dragged there by a Hermann Hesse fanatic, a very sincere Swede who had never recovered from reading Siddhartha, and one hot August morning when the sky was quiet, we made a pilgrimage to the cemetery; we brought a lot of flowers and we finally found his grave. It was marked with a huge fur tree and a mammoth stone that said “Hesse” in huge Helvetica bold letters. It looked more like a marquee than a tombstone. And around the corner was this tiny stone for his wife, Nina, and on it was one word: “Auslander” — “foreigner”. And this made me so sad and so mad that I was sorry I’d brought the flowers. Anyway, I decided to leave the flowers, along with a mean note, and it read:

'Even though you’re not my favorite writer, by long shots, I leave these flowers on your resting spot' ".

(é o final do "Maria Teresa Teresa Maria"; cantado por ela soa bem melhor):)

antonio ganhão disse...

Ah! Já alguém antes te tinha mandado embora...

Mas tu és fado! Tens o seu chorar dentro de ti...

Quint disse...

Bem, começo por assinalar um lapso de memória envolvendo o dito Jürgen Klinnsman ... e que se prende com aquela vez que o Bayern de Munique despedaçou o Benfica, em pleno Estádio da Luz, salvo erro por 5, tendo o jornal dito A BOLA no dia seguinte titulado KATALINNSMAN à conta dos quatro que ele marcou!
Isto só para assinalar que também registei a do ódio de estimação ao FCP que termina na fronteira!

Quanto a uma dita estrangeira estar a meter bedelho em assuntos do mais elevado interesse nacional como foi a eleição de Durão Barroso para novo mandato na Comissão Europeia, eu se fosse do PNR mandava-te calar!

É evidente que é sempre de assinalar que um português consiga projectar-se a cargos dessa relevância. Por aí tudo bem. O que não significa que tenhamos de nos reduzir a um estado de acefalia que nos iniba de lhe apontar má condução de certos assuntos ou até falta de visão no que concerne a uma verdadeira Europa!

Blondewithaphd disse...

Tu mesma!,
Qual profundo qual quê, mulher, sou euzinha a dissertar sobre a abstenção de certa deputada portuguesa ao Parlamento Europeu. Mas dou-te razão: aquilo foi tão mauzinho que nem vale o comentário:)

Pedro,
Faltou falar dos genes franceses que aqui correm em proporção ínfima. E lá de traços... bem faz aí um bem fininho:)

Sousa,
Só que esta alemã há muito deixou de ser alemã:) O mal não é ser alemã, é ser portuguesa sendo alemã. Confuso? Sim, eu sei:)

Alexandre,
Nem quando fui estrangeira na Alemanha me chamaram "Ausländerin", isso só mesmo em Portugal, curioso não?

Implume,
Ou estás doente ou acabaste de ser um querido? :)

Ó Quinn,
O homem não é brilhante no cargo mas não é pior do que os antecessores, né? Bora lá ter um certo orgulho pelas armas e os barões assinalados, ok?
E deixa-me cá fazer-te uma pergunta: se o Benfica for lá fora és por quem? Hein?

António de Almeida disse...

Sou absolutamente contrário ao Tratado de Lisboa, de cherne apenas gosto de uma boa posta grelhada no carvão...

Unknown disse...

Já há algum tempo que aqui não via os posts desta blond.

Por um lado, enquanto português, tenho ideia de nunca, em tempo algum ter criticado, comentado, ou feito algum comentário menos próprio a alguém com uma origem diferente da minha (OK eu tenho sangue de metade do mundo: americano, asiático, africano, europeu - fica a faltar a Oceania).

Por outro lado lembro-me de uma amiga minha, minha namorada durante algum tempo, que tinha origens semelhantes à blonde deste blogue e que sempre considerei portuguesa: Ok culta, inteligente, e fugindo a alguns estereótipos. Será que isso é que impressiona quem a blonde deste blog contacta?

Quem escreve em português como a minha cara senhora escreve só pode ser portuguesa de gema.

Ria-se da pequenez de quem é pequeno, sendo português ou de outra parte qualquer do mundo, pois gente pequenina e mesquinha encontra-se muita e não só cá neste pequeno burgo.

Beijos sinceros de um Português que se revê em todas as raças do mundo.

Carlota e a Turmalina disse...

Excelente a sua colocação, principalmente para uma estrangeira não residente em Portugal.No caso, eu.
Aqui no Brasil a distinção ocorre de outra forma, vc é branco, mulato ou negro.E a grande maioria dos mulatos se diz branco :o)
Aqui certamente serias motivo de orgulho!
A minha descendência é uma salada, tenho correndo nas veias sangue português, italiano, russo e alemão.Não sei que efeito surtiria aí, pq aqui não surte nenhum :o)
Os estrangeiros deslumbram-se com a beleza brasileira, sempre morena e aqui ela não é tão valorizada assim.Mas felizmente as coisas parecem estar mudando...
Vai entender, né?
Com toda a evolução parece que estamos presos ainda à conceitos da época da civilização :o)

Anónimo disse...

Loira,
Para muitos portugueses nunca se é que chegue...
Seja por raízes diversas das deles ou por qualquer outro mesquinho motivo existe sempre algo que justifica desqualificação aos seus olhos.
Alguém que pensa e gosta deste país como tu, tem de resistir às limitações de visão daqueles que se acham únicos.
Mas há algo que te define portuguesa melhor do que qualquer outro argumento: O excelente uso que fazes da Língua Portuguesa.
Serei radical, mas se a definição de nacionalidade passasse pelo correcto uso da nossa própria Língua, seríamos, permite-me a imodéstia de me incluir no luso grupo, muito poucos, e essa qualidade, para mim é de fulcral relevância.
Como diria o Alberto:
F... them.

Beijinho.

Dylan disse...

Numa época de descrença, de desânimo, há que acreditar na capacidade de superação dos portugueses.



Atente-se no exemplo de personagens empreendedoras como Horta Osório, membro do conselho de administração do Banco de Inglaterra, Durão Barroso, a caminho do segundo mandato de presidente da Comissão Europeia, José Saramago, o primeiro escritor de língua portuguesa a ser galardoado com o Nobel da Literatura, e Siza Vieira, arquitecto de grande prestígio internacional.



Não é possível também esquecer todos os anónimos que lutam diariamente para ultrapassar os tormentos da vida: os desfavorecidos, os desempregados, o pequeno tecido empresarial, os estudantes, as mães solteiras e os reformados de baixas pensões. Como no passado, rasgando mares revoltosos e vencendo cabos que atemorizavam, levantemos o nosso orgulho português contra a adversidade e com a audácia que sempre nos distinguirá

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