Com o ano a acabar começo a fazer sucessivos balanços de um ano verdadeiramente extraordinário: porque meu inteiramente, o primeiro ano totalmente entregue a mim que o vivi comigo e que o fiz por mim.
Passa hoje um ano que aqui vim pela primeira vez falar do meu divórcio, expor-me a mim que me escrevia. Confrontar-me nas letras que corriam soltas no pensamento e precisavam de forma física. Ver o divórcio escrito para o exorcisar, acho que foi isso. A catarse de o tirar cá de dentro. A catarse sublimada quando me ouvi no som que as minhas letras faziam quando o Pedro Rolo Duarte leu aquele texto na rádio. Foi tão definitivo tudo aquilo, uma espécie de rito iniciático com que comecei a minha vida. Não vou falar de recomeços mas de começos absolutos. O meu casamento morto é uma espécie de não-existência, um hiato vazio que não deixou saudades ou presenças, não precisou de lutos nem de lágrimas por isso não posso falar de recomeços. Curioso como não restou nada, nem ex-marido, nem filhos, nem custódias de Spotty, nada, apenas uma longa batalha judicial pelo direito à ruptura. E curioso também como o divórcio me tem dado mais que fazer e que contar do que aquele casamento morto.
Neste ano que passa vejo-me aqui, a mesma e tão diferente. Tive de aprender tantas coisas, decidir tantas mais. Aprendi a viver na solidão desacompanhada, porque da solidão acompanhada eu poderia escrever um tratado, até mesmo uma nova tese de doutoramento se preciso fosse. Sobretudo, aprendi a viver na minha companhia e descobri que gosto de me ter por companhia. Olho-me no espelho e vejo, agora, uma mulher, loura, na altura da vida de ser mulher, que me prescruta a alma e me diz para seguir em frente que vou bem no caminho. E dou graças. Dou graças, ao Deus que os Homens dizem não gosta do desmembramento matrimonial, pela libertação. Dou graças pelos meus privilégios enquanto ouço alguém que me diz que fui eu que os construí e os tornei privilégios. Mesmo assim dou graças porque eu podia ter soçobrado algures no percurso antes de os adquirir na minha vida.
Se estou feliz? Sim, tão mais. Infinitamente mais. Se passar ao lado dos passos cambaleantes que tantas vezes dei ao longo deste ano, vejo o extraordinário: as pessoas que aqui entraram nesta vida, todas importantes, todas encerrando em si a minha mudança; os sentimentos novos; as sensações novas; as experiências todas. Tive a minha dose generosa de dores anímicas, quebras e pausas, incertezas. Também precisei de colar o coração com fita-cola que se desprendia em tantos instantes. Mas, no cômputo geral, e agora que aqui cheguei, valeu tudo a pena. Aprendi e amadureci com tudo. Estou tão mais rica como ser humano. E dou graças outra vez pela possibilidade de viver o que vivo e como vivo.
Escrevi "Catarse" há exactamente um ano mas esta "Catarse 2009" que agora escrevo não é mais um momento catártico é, antes, o marcar simbólico da viragem para, vendo-a na distância temporal, avaliá-la de mim para mim. É, digamos, a celebração do annus versus para dizer que sobrevivi, que estive lá e que, felizmente, prefiro estar aqui. Que bom que já passou um ano.
13 comentários:
Os blogs também servem para isso. Para nos libertarmos de fantasmas, através das palavras. Faz nos próximos dias um ano que também não resisti a um exorcismo lá no Rochedo, durante uma noite de Natal argentina. Um exorcismo de natureza bem diferente, mas que senti necessidade de partilhar.
Ainda bem que para si, tudo mudou para melhor.
Ainda bem que conheço, agora pessoalmente, alguém que escreve momentos como este.
Estás feliz e ainda bem que encontraste um novo rumo, um caminho melhor.
Sabes o que eu acho?
Estes balanços são bons... fazem-nos pensar no que de facto temos de bom...
ainda bem, que este ano foi positivo para ti :)
aleluia irmã
Beijos minha cara Amiga.
2009 será um ano que não me deixará saudades, entrou péssimo, veremos como terminará, mas existe um caminho que é sempre seguir em frente. Folgo em saber que está infinitamente melhor que há um ano atrás.
Recordas o que ainda ontem te disse?
Não interessa se estás ainda relativamente perto do cais em vez de estar já em pleno alto mar, lá onde antes era a linha do horizonte; o que importa é que a âncora foi içada do lodo!
Olá Blonde:-)
Também eu sou blonde. Também eu faço do meu Vekiki um canto onde vou despejando o que sei que não posso deixar que fique cá dentro a roer-me. (Seria mais fácil se fosse só uma blonde girl sem nome...)Nunca passei por esta situação. Já a imaginei muitas vezes. Sim, por vezes, é bom termo-nos por companhia exclusiva!
Um beijo
Querida Blondinha
Comovi-me ao ler o teu texto. Possivelmente pelas mesmas razões fundas pelas quais me retive no teu blog a primeira vez que aqui cheguei e não saí sem te deixar um :) discreto mas completamente cúmplice.
Um beijo
:)))
Viva a mudança para melhor!
Viva a Coragem e a Sabedoria que nos levam a dar passos certos!
Embrulhe a Catarse 2009 num lindo papel com fita a condizer e junte à árvore branca, bem iluminada! Depois guarde bem, como se fosse o tal bocadinho de "marzipan" que fica até ao ano seguinte ! Que bom vê-lo para o
ano, quando já tiver preparado o seguinte, que lhe saberá ainda melhor ! Beijinhos de "frohe Weihnachten" !
Olá Blondie...
A Vida é ela mesmo isto, desencontrs, encontros, tropeções, quedas e ressurgimentos...
O que nos vale sempre é ter a capacidade de nos ergurmos e tentar encarar mesmo as más experiencias como boas, porque nos troxeram algo que de outra forma não teriamos, e servem sempre para nos abrir os olhos em relação a certas coisas...
No fundo nem tudo é mau, acontece é nas piores alturas...
;)
bjs
É o que a vida tem de revitalizador; a mudança. E se ela é for para melhor, e no teu caso para muito melhor, então a viragem está ganha.
Parabéns Blonde.
É bem isso...fizeste uma deliciosa limonada com os limões que ficaram.Algumas vezes escrevo sobre mim lá no blog, como uma forma de desabafo.E funciona muito bem...que em 2010 continuemos por aqui lendo e sendo lidos :o)
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