14 de janeiro de 2010

De Maria de Lourdes Pintasilgo ou como o País por vezes trata os seus


E lá fui, enfrentando a noite invernosa, à antestreia do documentário sobre Maria de Lourdes Pintasilgo na Fundação Gulbenkian. A companhia "até" era agradável e eu não sabia nada sobre a pessoa em causa (cf. o documentário que estreia na RTP2 no Sábado às 21.00). E o que é que eu descobri, que, infelizmente, não me surpreende: que o reconhecimento é uma palavra ingrata no nosso léxico, que as mesquenhices e invejazinhas provincianas rasteiram aqueles que sobressaem da multidão pelo intelecto, a obra, as opiniões ou por isto tudo.
Depois, depois do esquecimento, lá vem alguém na boa-vontade ressuscitadora e reabilitadora e tenta fazer as pazes com passados e imagens. Lá sai um ou outro documentário, um ou outro livro, um ou outro encómio. Se gostei do que vi?, sim, é um esforço de homenagem. Mas ficou tanto por dizer, e bem sei que nunca se diz tudo quando o formato é um espartilho. Incomodou-me a alusão velada e omnipresente de lesbianismo. Que falta fazia? Que propósito? Fiquei com curiosidade de muita coisa. No fundo, senti aquela gratidão feminina de quem vive nestes (semi)privilégios no séc. XXI. Gostei, mais do que do documentário, de saber que esta pessoa existiu no nosso mundo, no nosso canto pré-globalizado, um pequeno degrau na nossa História.

9 comentários:

Vera disse...

Esta Senhora foi contemporânea da minha Mãe no Liceu D. Felipa de Lencastre. Era uma pessoa super-activa na altura e assim continuou vida fora. Foi a única mulher Primeiro-Ministro de Portugal e era, realmente, uma Senhora. Vou gravar o documentário para ver com calma e dar a minha opinião. Obrigada :-)

A OUTRA disse...

Blonde, neste mundo onde a má lingua impera, desde política a uma mulher só, há sempre motivo para falar mal.
Ainda por cima "mulher"... ainda por cima "dedicada à política"... ainda por cima "primeira mulher eleita primeira ministra de Portual"... e mais... "engenheira" tinha de ter um "defeito" imperdoável.
Somos mesmo conhecidos, infelizmente, como o País da "boa língua e dos bons costumes".
Bj
Maria

antonio ganhão disse...

Gostei do teu olhar! Somos assim.

Nós somos relativamente generosos com os nossos mortos. A propósito disso escutei um dia esta observação: os mortos não parecem para jantar!

António de Almeida disse...

Politicamente não simpatizei com ela. Não lhe retiro os méritos que teve, e teve, porque construiu uma carreira num tempo difícil.

Anónimo disse...

Foi uma mulher muito maltratada pela sociedade portuguesa, porque simplesmente ela estava à frente do seu tempo. Não tive coragem de arrostar com a intempérie, caso contrário, ter-nos-íamos cruzado.

mdsol disse...

Fui sua apoiante muito activa quando se candidatou à Presidência da Republica. Depois continuei a acompanhar o seu percurso. Acho que ela morreu triste com o país. O modo como foi tratada por queme estava no poder quando faleceu envergonha-nos a todos.
Blondinha, que bom que ficaste a conhecer a MLP.
Se quiseres espreita

http://okayempatins.blogspot.com/2008/01/e-por-falar-em-mulheres.html

http://okayempatins.blogspot.com/2008/09/gostos-do-comum-dos-mortais-3-hoje-mais.html

Beijos

:))

Ältere Leute disse...

Estou cheia de curiosidade sobre o documentário. Sabe que a mim, que a conheci , assim como às suas companheiras do Graal ( duas foram minhas professoras na F.L.),nunca me veio à cabeça pensar em lesbianismo ? Se alguma insinuação ouvi,( dizem-me que havia ) rejeitei-a. Não por preconceito, mas porque isso - a ser verdade - seria um assunto privado. Será que o documentário "pretende" estar "in", desbravando esse campo ?
Dp lhe digo.

Fernando Vasconcelos disse...

Era uma grande senhora. Nem sempre concordei com ela (aliás quase nunca) mas a verdade é que tinha "sentido de estado" coisa que ...

Unknown disse...

Foi, como tantas outras, uma mulher ímpar.

Ao longo do espaço que me foi dado conhecer dela a parcela de Engenheira foi a que melhor pude ajuizar e seguramente foi uma Engenheira de excelência.

Enquanto política as ideias dela estão um pouco ao lado das minhas mas fiquei sempre com a ideia de que primava pela mesma clareza de espírito que dedicava à sua profissão principal.

Beijos