21 de fevereiro de 2010

O jardim do Armagedão


Sim, já toda a gente sabia que poderia acontecer. Sim, aconteceu. Sim, talvez se já houvesse um radar meteorológico na ilha, a população se pudesse ter precavido. Sim, é a falta de ordenamento territorial. Sim, o governo declara estado de calamidade e abre linhas de crédito. Sim, estamos todos profundamente consternados. Sim, foi uma tragédia. Sim, procura-se um culpado para a desgraça porque a desgraça nunca se explica por geração espontânea e porque somos incapazes de viver os nossos traumas e moléstias sem bodes expiatórios que nos aliviem a consciência, a culpa ou a mera impotência.
Porém, as desgraças foram feitas à medida dos desvalidos desta vida. Quem é que constrói em leitos aluviais? Quem é que não tem dinheiro para fazer a casa com os confortos e exigências de uma civilização do séc. XXI? Para onde é que vai gente que mal sabe ler, que não conhece nada mais do mundo a não ser o sítio onde nasceu e onde vai morrer? De que valia o radar meteorológico a esta gente? De que valem proibições urbanístico-paisagistas se as pessoas contornam o sistema e constróem ilegalmente ou subornam ou fazem orelhas moucas?
Só numa sociedade sem pobreza, os Haitis e as Madeiras seriam mitigados. Pobres dos pobres. Que ironia pungente que as maiores desgraças afectem aqueles que já vivem a desgraça no dia-a-dia. Olho para a Madeira e só penso na infinita miséria que é a pobreza.
Que Deus e nós tenhamos compaixão. Ámen!

9 comentários:

antonio ganhão disse...

O que lhes não assiste, é que se vai reconstruir sobre os mesmos erros... até à nova calamidade!

Pedro disse...

... para se voltar ao mesmo, desbarato de dinheiro nos mesmos erros, a asneira contínua

Quint disse...

Perpetum mobile!

António de Almeida disse...

Tragédias do género acontecem em qualquer país, até mesmo nos mais desenvolvidos, EUA, Itália são disso exemplo, fazem parte do G8. Tanto quanto julgo ter percebido, aquela anormal quantidade de precipitação teria forçosamente de provocar estragos. O radar serviria apenas para evacuar populações, não diminuiria os estragos, 3 horas seriam sempre insuficientes para grandes preparações.

Goldfish disse...

É mesmo a desgraça dos desgraçados. A confusão que me fez ver gente na rua a olhar para as torrentes de lama sem se aperceberem de que podiam ser eles já os próximos... É muito triste e, sim, demonstra muita pobreza (da que é independente da conta bancária).

Anónimo disse...

É certo que a pobreza aumenta o risco, mas o Katrina devastou New Orleans...
É altura de termos coragem para assumir os erros humanos que contribuem para que estas catástrofes sejam cada vez mais frequentes e mais violentas. Infelizmente, continuaremos a fazer como a avestruz e a fingir que a culpa é exclusivamente da Natureza.
Não posso também deixar de registar que AJJ tenha recusado a declaração de calamidade pública para a região, para não afastar o turismo...

Dias as Cores disse...

Lamento, mas não me espanto...

Daniel Santos disse...

solidariedade com a Madeira.

Joaninha disse...

Foi verdadeiramente terrivel, mas impossivel de impedir...A quantidade de chuva que caiu naquele pequeno espaço de tempo, mais o facto de ter chuvido muito mais do que o normal no mês de Janeiro todo, preparou uma tragédia que, independentemente das previsões, alertas, ou planeamento urbanistico, era inevitavel.

É assustador...

beijos