Passo doze horas fechada na faculdade. Não sei o tempo que faz cá fora. Aulas, reuniões, grupos de trabalho, orientações, o dia corre sem que eu o apanhe. Ignoro que o Vargas Llosa já é Nobel. A crise passeia-se nas conversas de corredor. Sinto que estou cansada só quando saio e é noite lá fora.
Hoje acordo cedo, justo quando estava a dormir tão bem. Despacho o que há para fazer. Enfrento o temporal. Regresso a tempo de apanhar o sono. Deixo-me ir. Acordo com latidos contentes do Spotty que encontrou maneira de ir para a zona proibida do jardim. É tarde, muito tarde. Devia estar tão cansada que não dei conta de adormecer naquele desaprisionamento morno que nos cura o corpo e a alma.
Café amargo e fumegante, o de sempre. Ligo-me à net nesta biblioteca invadida pela luz cinzenta de um dia triste. Parece que há uma fórmula meio idiota para me calcular a redução salarial anunciada. Já contava com a pancada, não com matemáticas obtusas. Insisto em ler as notícias de um país moribundo e desnorteado. Desisto. Não há ideias. Não há nada. Há um Nobel da Paz lá fora. O vento acalmou. Vou buscar o Spotty que pensa ser o herói da batatolina no meio da relva molhada para onde não devia ter ido. O vendaval trouxe folhas castanhas e galhos partidos para o quintal. Esqueço-me de ir ver o correio. Regresso à biblioteca e à poltrona aconchegante. A luz cinzenta quebra-me ritmos e vontades. Contemplo o resto do dia. O imenso trabalho que tenho em cima da secretária. E esta luz pálida. O trabalho. A luz. A tristeza do dia num país que já nem é triste, um país em hibernação, olhando para o lado com medo de olhar para dentro.
Decididamente, hoje é um dia daqueles...
6 comentários:
olhar para dentro
longe ou perto
é o conforto de ser dentro
que o faz mais perto
Hum. Hoje é o prenúncio de todos os dias que nos esperam. Cinzentos e de galhos partidos. País quebrado.
Blonde, até eu fiquei surpreendida e rendida ao Aqueduto das Águas Livres tal como o vi.
Nunca pensei vendo de longe e tentando estudá-lo durante anos e anos em que por ali passei que fosse uma joia de arqutectura como é, ou por outra, como os meus olhos o viram!
Não mais esqueço aqueles momentos e os que se seguiram depois. Agora a minha intenção é visitá-lo por dentro e isso não pode demorar.
Este tempo, Blonde anuncia o cinzento em que o Inverno nos vai mergulhar, um Inverno mais prolongado e imprevisível, pois não conseguimos adivinhar como será a próxima Primavera ou se haverá Primavera. Pouco sabemos, de meteriologia e muito menos de finanças a longo prazo.
Mas que será rigoroso para "nós" isso não tenho dúvidas... já o estamos a sentir!
Obrigada a sua vinda e até ao próximo encontro.
Pode ser molhado e cinzento, mas este tempo é muito bom para o teu pedaço de chão!
hoje é uma daqueles dias em que me sentei, acompanhado de um copo do Porto e fui lendo o que tinha mais há mão.
Como "tintendo"
:)))
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