21 de abril de 2011

Hoje foi um dia bom

Um dia todo e inteiramente meu. Hoje escrevi à mão livre e já não o fazia desde antes do começo do divórcio. Preciso escrever. Escrevo muito e escrevo sempre. Mas há três anos que só escrevo (e publico) ciência, tirando as duas vezes que escrevi numa revista entretanto desaparecida. O único escape tem sido o blogue. Hoje voltei a escrever e não sei descrever este estado de alma. Esta suprema liberdade de Tempo na suprema liberdade de Espaço e silêncio de que gozo.
Escrevi a ouvir música. Uma coisa tão banal e quão distante dessa banalidade eu tenho andado. Ouvi coisas que já não lembrava ter. É como se, aos poucos, fosse recuperando a minha vida e quem eu era. O divórcio nas suas burocracias tem-me consumido, esgotado e penso-o uma forma de bullying negligenciada pela sociedade e calada por quem a sofre. A profissão tem sido um escape e, simultanea e paradoxalmente, algo que me engolfa e me retira Tempo para o ócio da escrita. Depois sobreveio o confronto com esta Casa, com os terrenos, o repegar passados. Colar pedaços de mim para me voltar a encontrar tirou-me a escrita livre e desimpedida. A escrita na ponta dos dedos e horas fluídas. Hoje tive isso e falham-me as palavras. As tantas que me saíram apressadas e ansiosas, faltam-me para descrever o que é escrevê-las.
É como se uma parte de mim voltasse a ser íntegra. Como se a expiação estivesse a acabar. Não foram só as palavras que voltaram, foi o querer desamarrá-las, ter vontade delas. Não sei se no meio da crise em que vivemos imersos ou nos quotidianos atrozes, alguém compreenderá como é possível ser-se feliz na escrita. Talvez só os escritores, os poetas, os que vivem a amargura e a necessidade de parir palavras. Esses poucos, talvez só eles entendam isto e como esta necessidade é tão vital como o vital que fazemos se queremos viver.
Eu hoje escrevi e isso eu não sei escrever...

6 comentários:

antonio ganhão disse...

A vida sobrepõe-se ao sentimento de culpa, o arrojo sobrevive à inspiração e o amor está nesse dedilhar inconsequente de uma escrita que se solta. Liberte-se assim também a alma.

João Afonso Machado disse...

Está percebidinha da silva. Escrever é isso tudo.
Uma boa Páscoa para si.

luisa disse...

Ai sabes, sabes :)

ana disse...

E escreveu. Desejo um bom caminhar, daqui para a frente. Bom Domingo!

Filoxera disse...

Boa! É sempre bom retomar os cordelinhos das palavras.
Bom Domingo!

Cristina Torrão disse...

És feliz na escrita? És uma escritora, Blonde! Continua, arranja tempo, vale a pena :)