Passaram doze anos sem que houvesse Mãe nesta famíla. Na devastação e orfandade, o dia de hoje sempre me foi penoso, um dia em que recordava a mutilação de já não ter Mãe, de ir a um cemitério e fingir que aquilo era uma rotina de levar flores porque sim, porque o dia exigia, como se neste dia eu sentisse a obrigação de ter mais saudades do que nos outros. E sempre a dor de ver as mães dos outros e, mais doloroso, de ver os outros com mães. Sim dói. Sim, dá a tristeza da injustiça e a sensação de abandono. E sim, acho que dá ciúmes.
Este ano temos uma mãe nova. Como é que eu hei-de explicar o que sinto por ver a Mana mãe? A Mana que eu fui conhecer à maternidade, que cresceu no meu universo e que sempre e ainda eu vejo como a irmã que me fez companhia no percurso mas que é pequenina no sentido em que, sendo eu a mais velha, nutro por ela o sentimento da responsabilidade que faz dela a minha prioridade de vida? E a Mana agora é mãe.
Olho para ela com o bebé Manel e sinto-me na terceira pessoa. Fico na ombreira e não entro num mundo que não me pertence e cuja linguagem não possuo. Acho admirável. Procuro nela resquícios da Mãe. Mas não é a Mãe que encontro, é a Mana mãe e vagamente eu vejo a nossa Mãe. Traços físicos; muitos; cada vez mais, e cada vez mais ela é a herdeira dos genes da Mãe. Algumas expressões características que só a Mãe usava. No resto, sinto apenas que a Mãe lhe flui como se de uma espiritualidade se tratasse através da maquinalidade oleada dos gestos, dos olhares concentrados num objectivo impronunciável porque instintivo.
Sim, é admirável. É ver a Mana a construir vida para além da vida que tínhamos. Seguir em frente e enriquecer o caminho dela e, colateralmente, o nosso. É olhar para ela e sentir o coração insuflar-se como se ela fosse minha filha nos filhos que eu não tenho. Vejo-a à distância. É a Mana do meu Nós de irmãs, mas é Ela no mundo novo que se lhe abre, no mundo futuro, enquanto o nosso vem de outras temporalidades.
Acho que talvez seja isso que nós pais e irmãos queremos para os nossos filhos e irmãos: que eles um dia sejam Eles e se movam para um universo no qual apenas a ombreira é o espaço em que conseguimos entrar. E daí observamos com sorrisos entre o surpreso e o embevecido que o percurso valeu a pena.
Feliz Dia da Mãe, Mana!
4 comentários:
comoveu-me.
um abraço sentido.
Belíssimo e comovente. Bjnhos com um nó na garganta. Feliz dia da mãe para todas as mães do mundo e para todas as que só puderam engravidar de coração.
Mas deve andar por aí uma madrinha de cinco estrelas... A sua forma de sentir merece.
Sem qualquer espírito de intromissão( e sabe bem quanto aprecio essa sua capacidade de manter incólume a imagem que sempre a vi venerar=amar ) continuo a sentir que tenho três meninas... Um bj por hoje e sempre!
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