Cansa-me o 11 de setembro. Cansam-me as palavras, as florestas de teorias, as culpas americanas, as culpas terroristas, a Al-Qaeda. Irrita-me a constante alusão a um mundo pós-11 de setembro, como se isso significasse alguma coisa. Farto-me de imagens-choque, de documentários, reportagens e entrevistas, opiniões, relatos e memórias. Mas entendo. Entendo que precisamos todos de uma espécie de catarse para o que os nossos olhos viram naquele dia. Revivemos aquela impossibilidade hollywoodesca tornada real porque ainda a não expurgámos do nosso sistema e ainda a não banalizámos.
Acho que todos nos lembramos daquela terça-feira de um dia bonito e todos, cada um à sua maneira, encontramos maneiras de nos aproximarmos da tragédia, como se comungássemos todos da mesma perda colectiva e aquele atentado não se circunscrevesse ao perímetro americano. Eu encontro essa comunhão ao dizer que tinha acabado de regressar de Nova Iorque e que nessa tarde recebia telefonemas de gente a saber onde eu estava. Aproximo-me daquilo na incredulidade que senti quando vi uma imagem fugaz na televisão de um café que mostrava uma torre em chamas. Pensei que se tratava de uma invenção à americana e só caí em mim quando, para tirar dúvidas cheguei a casa e, na coincidência do horrível, vi o segundo embate. Gritei muda incapaz de gritar e não arredei pé da televisão que me ligava a espaços familiares onde eu queria estar naquela comoção solidária que nos invade em momentos destes.
Mas talvez mais do que o 11 de setembro, lembro-me de acordar no 12 de setembro. 8.00 da manhã e o despertador toca com as notícias. Afinal o dia anterior existira, tão horrível como os meus olhos o tinham visto e tantas horas depois ainda não havia resgates de sobreviventes. Isso e os voos de morte no abismo é o que ainda mais me aflige nisto tudo que aconteceu há dez anos e me farta no demasiado das palavras e das imagens que, ainda que em excesso e excessivas, são tão infimamente capazes de dar uma razão a esta coisa que apenas pronunciamos com uma data: 11 de setembro.
4 comentários:
Um dos dias mais infames na história da humanidade...
desde há mais de 10 anos que há um outro 11 de Setembro, com muitos (mais?) mortos e muitos (mais?) desaparecidos; mas foi mais "tradicional", menos mediático, não menos infame; não consta que os cérebros tenham sido abatidos a tiro
Um dia onde o mundo reparou que a humanidade não era intocável.
Prova viva de que o ser o humano pode cometer as maiores barbaridades... Mas a verdade é que quando nos caracterizamos dizemos sempre que somos boas pessoas!
Enviar um comentário