A demonização do funcionalismo público, parece-me, começa a ultrapassar a razoabilidade ou até o cómico com que o costumamos caracterizar quotidianamente. Se cidadãos anónimos o fazem com o desconhecimento e a estereotipação corrente, é um mal menor. Que uma figura cimeira do Estado, e patrão actual desse mesmo funcionalismo público o faça, é algo totalmente diferente.
Como podemos generalizar e dizer que os funcionários públicos ganham em média mais 10% a 15% que os funcionários do sector privado? Explico:
1. 60% dos funcionários públicos são licenciados, esta correlação de valores não existe no sector privado e, portanto, se a qualificação profissional/académica se deve valorizar remuneratoriamente, a comparação público/privado não se pode fazer com base neste pressuposto;
2. Há carreiras públicas sem equivalente privado, veja-se o caso da Magistratura. Como podemos comparar os salários dos magistrados com algo que não existe no privado?;
3. Na saúde sabemos dos médicos que migram do público para o privado e não será certamente para penalizações remuneratórias por qualquer razão altruísta;
4. Poderemos comparar a Universidade pública com a privada em Portugal? Na América sabemos que as melhores e mais prestigiadas universidades são privadas, no nosso caso é o exacto oposto;
5. Será que todas as empresas privadas declaram o que remuneram aos funcionários de forma líquida e transparente? Ter-se-á acabado entretanto com as falsas declarações de rendimentos no privado?
Pensemos nestas questões enquanto atribuímos à Função Pública a factura do nosso resgate económico.
10 comentários:
Querida Blonde, pois creio que o que enunciaste no ponto 5, está muito longe de se concretizar, verdade?!
Muito bem, Blonde.
Sou um dos "indignados", porque sou um reformado da odiada FP. Claro que para o Estado é mais fácil, mais rápido e mais controlado, ir lá buscar o dinheiro.
Muito bem colocado.
...mas também foi mais fácil ao Estado/Governos ir lá pô-lo quando lhe foi conveniente controlar outras coisas...
Deve ser possível para um Sociólogo identificar as razões que levam a que a percepção que os cidadãos têm da Função Pública seja a que é.
As razões são a forma como a FP trata os reles cidadãos, como eu, pois o vidro que nos separa faz deles uns "tiranetes", dá-lhes uma sensação de Poder.
O ponto 1 também é interessante, dado que a percentagem de "caixas" de hipermercado licenciadas também deve ser altíssima. Harmonizam-se os salários e a segurança no emprego, progressões na carreira, etc. por aí?
O ponto 2 é ambíguo. Se não houver termo de comparação os salários são arbitrários? Aparentemente são-no, e sem qualquer relação com a produtividade, ou intenção de tê-la.
Pontos 3 e 4; talvez com a degradação das condições haja uma inversão de valores nestes dois pontos. Bons professores migrarem para onde lhes pagam mais e maus médicos a procurarem o aconchego do público. A minha percepção, por muito errada, é de que os elementos mais fracos do mercado de trabalho foram procurando o guarda-chuva do tacho público. Até há bem pouco era só onde se podia ser mesmo incompetente sem ir para a rua.
Ponto 5: o Estado tem sido o pior exemplo de fantasia contabilística desorçamentação, e mesmo fraude, como é óbvio pelo descalabro conhecido das contas públicas - é certo que o PM não era licenciado.
Dito isto, que é demasiado fácil dizer, não aprecio demagogias. Os funcionários públicos não são todos maus, como o crédito não é todo mau.
Mas, a percepção é essa. Porquê? Creio que o comentário do Peter dá umas pistas.
Muito bem, Blonde. É isso mesmo.
clap clap clap
e obrigada :)
pois pois pois. A Historia repete-se sempre igual.
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