26 de janeiro de 2012

A crise que para aí vai

Leio-a nos jornais. Dou conta dela nos blogs. Vejo-a na cara das pessoas. Sinto-a nos cortes que me são feitos. Mas uma coisa é este saber generalista outra é quando a confrontamos nas palavras que gente nossa conhecida nos transmite. Hoje dei-me muito conta da crise e de uma maneira brutal numa ida aos correios.

Conheço pouca gente aqui onde moro, mas, sem que eu saiba como ou porquê, toda a gente me conhece. A D. Adélia dos Correios é uma dessas pessoas. Hoje entrei para meter uma carta para a Tante Ruth que, na sua longevidade distante, ainda não aderiu aos mails. Cumprimentei a D. Adélia com os votos de bom ano. O bom ano que ela não sabe se vai ter com a privatização dos Correios e a redução no mapa de pessoal. O marido está no fundo de desemprego e com o subsídio em final de prazo. A filha ficou ontem sem emprego. Falou-me das despesas da filha e do neto de dois anos e dos seus 55 na juventude para a reforma e na velhice para o emprego novo no caso de ficar sem este. Fiquei atordoada.
Que tempos são estes, meu Deus? Que país é este? Percebi naquele instante a indignação dos que não gostaram que o Presidente da República tivesse dito que nem sempre o dinheiro lhe chega para as despesas. Nunca deixámos de ser o país pobre onde eu cheguei há muitos anos. Vivemos na miragem da abundância da União Europeia como vivemos um dia na miragem da abundância do ouro do Brasil. Não sabemos transformar miragens em realidades e voltamos sempre a cair no buraco profundo da nossa crise endémica mal as miragens se dissipam.

4 comentários:

Dias as Cores disse...

Sem me contentar "com o mal dos outros", acho que há quadros mais negros...

Ältere Leute disse...

E com o avançar do ano ainda vamos ver mais sinais de tudo isso! Começa-se a cair na realidade. Já noto muito aqui à volta: no comércio,na restauração,até no trânsito.
Virar os hábito? Terá de ser à força, mas será que o íntimo das pessoas que não viveram (perto de) outros tempos e outras limitações vai - finalmente - abrir-se à regeneração do modo de ser lusitano? Penso em amigas minhas estrangeiras (que viveram guerras ou, não as tendo vivido, adquiriram hábitos de combate ao desperdício com os que as viveram ou delas ouviram falar) : essas não precisam mudar muito de hábitos !

mfc disse...

A crise é absolutamente real...
Mas eu sempre me empenhei para que este Presidente da República não fizesse fracas figuras... ao não ter votado nunca nele!!

António de Almeida disse...

Em breve a própria Europa será uma miragem, a começar pela União Europeia. No final irá salvar-se a Grã-Bretanha, a Rússia, veremos a Alemanha...