27 de janeiro de 2012

Sobre o fim dos feriados

Há coisas que me enervam de tão parvas que são. Esta da eliminação dos feriados acho que bate os recordes da asnice. Gostava que me provassem, sem engenharias estatísticas, como é que a abolição de quatro feriados nos vai fazer sair do buraco tornando-nos imensamente mais produtivos.
E agora a minha opinião enxofrada:
Como é que se acaba com o 5 de Outubro? A minha família materna é toda para o monárquico mas eu orgulhosamente degenerei e sou republicana até à medula. Afecta-me que tenham acabado a Monarquia num banho de sangue inglório, mas deixar de assinalar a nossa republicanidade?!
E que dizer da nossa independência se a nossa História é uma de luta contra os intentos castelhanos? Se andamos à espadeirada aos espanhóis desde antes de nos conhecermos como gente e a D. Teresa se passar com a irmã? Que diria a pobre da padeira de Aljubarrota se nos visse neste desatino?
Eliminam-se dois feriados católicos. Tudo bem há que manter aqui uma certa equidade mas num estado que se diz laico e estando a nossa lealdade ao rito pelas ruas da amargura e a ignorância das novas gerações na total incapacidade de crerem no que quer que seja, não me feriria a consciência (católica) se os feriados a eliminar fossem mais os religiosos do que os laicos. Aliás, o povo que somos não o é por ser católico, é-o pelas opções de destino colectivo que tomou, pelas batalhas em que se envolveu, pelos momentos fracturantes da sua História. Não somos o povo que somos por causa da Ascenção de Nossa Senhora, do Corpo de Deus ou da Imaculada Conceição. Somos o povo que somos porque somos tenazmente independentistas, republicanos, anti-ditadura e pró-liberdade.
E já que é moda compararem-nos aos países ditos desenvolvidos aqui fica que os alemães gozam de nove feriados federais e, pelo menos, mais um feriado estadual e não os vejo a dizer que é por isso que produzem menos Volkswagen ou que o DAX cai a pique de cada vez que é feriado em Frankfurt.
Não há outras ideias mais inteligentes para governar o país?   

8 comentários:

Nelson Mendes disse...

Invençao pura e simples acabar com os feriados. Quanto muito podia-se optar por uma solução à britânica e tornar os feriados móveis e cabar com as pontes...
Muito barulho por caisa nenhuma.

Ältere Leute disse...

Ora aqui está uma reflexão que me agrada! Diferente do que tenho ouvido dos vários quadrantes - chã, racional, que toma partido sem se mostrar "biased" !
Como, aliás, seria de esperar desse espírito treinado para a independência! Gostaria de vê-la mais divulgada...

mfc disse...

A produtividade tem a ver com os meios colocados ao dispor dos trabalhadores... para produzirem.
É portanto um problema de investimento e da miserável classe empresarial que temos.

Estas operações de cosmética servem para enganar os papalvos.
beijinhos.

António de Almeida disse...

Aqui em Angola, até final do ano passado, quando um dia feriado fosse fim de semana, a data era celebrada, mas segunda-feira era feriado. Terminou esse disparate. Vários feriados foram também abolidos, mas algumas datas desconheço o significado, confesso, sei que eram vários...

Z.M.Z. disse...

Dá-me vontade de rir com esta luta dos feriados!
Acabem-se com todos que eu não me importo.
É uma maneira de o Estado ter despesas maiores e a produtividade ser igual.
A produtividade não vem de estar ou não no local de trabalho, vem da maneira como os Serviços são organizados, e a responsabilidade que o empregado possa sentir, e mais ainda da maneira como for tratado.
Não há Lei nenhuma que me incentive a trabalhar se eu souber que mais dia menos dia vou para a Rua com desculpas esfarrapadas, numa luta constante para fazer com que o que me pagam seja o suficiente para dizer aos meus filhos que posso pagar os seus estudos até poderem ganhar a sua vida, sem falcatruas, para se manterem independentes, tendo um dia possibilidades de se reformarem e morrer com dignidade.
Neste momento o que eu e outras mães podem fazer, é deixá-los seguir o caminho que escolherem aqui ou ali, tornarem-se nómadas, criando raízes longe da família (se conseguirem criar) e do País onde nasceram, que é o seu, pondo o seu saber e inteligência ao dispor desses Países que conheceram por necessidade, sabendo que ao seu País só regressarão porque não perderam o amor a um País que se chama PORTUGAL.
Serei considerada nacionalista pensando assim?
Se sou, sinto muita honra em que assim seja.

NYX(des)VELADA disse...

Blondwithphd,
Num tom sarcástico, mas que em muito partilha do seu desabafo: poder-se-á pedir 5m de um “telejornal” para uma pequena clarificação em torno do significado de laicidade vs. teocracia?! (Como é que se poderá, perante um silenciamento silencioso, “recorrer” ao artigo 21.º da “nossa” Constituição?!).
Voltarei a passar :)
Atenciosamente, a Nyx.

João Afonso Machado disse...

Mas somos portugueses por sermos republicanos?
Vou conferir o meu cartão de cidadão num instante.

Rachelet disse...

Se vão continuar a existir os restantes feriados religiosos (católicos) com cariz de «pausa nacional», proponho então que se celebre como feriado nacional também o Ramadão, o Yom Kippur, o Diwali...